A exuberância que une Collor a Janja. Com nossa grana, claro
Observando a história recente do país, a impressão que tenho é que estamos aprisionados no mesmo modus operandi de décadas atrás
Aguardo sentado, pois de pé irei cansar, o cumprimento da sentença do ex-presidente Fernando Collor de Mello, condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a oito anos e 10 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro em um esquema criminoso envolvendo a antiga BR Distribuidora, hoje privatizada (Vibra Energia).
Eleito presidente da República em 1990, Collor renunciou ao cargo em meio a um processo de impeachment dois anos depois. Dentre tantos enroscos judiciais e polêmicas políticas, ficou famosa, à época, a Casa da Dinda, mansão em que vivia o “caçador de marajás” cujos jardins foram supostamente reformados com dinheiro ilegal.
A suspeita era de que havia superfaturamento nas obras faraônicas, que custaram aproximadamente dois milhões e meio de dólares – algo como mais de cinco milhões atualmente – possivelmente custeadas por um esquema de empresas fantasmas do então ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias (PC Farias).
Tudo sempre igual
Gosto muito de citar o filme Groundhog Day (O feitiço do Tempo), de 1993, com os excelentes Bill Murray e Andie MacDowell, quando falo da espécie de looping atemporal em que o Brasil se mantém aprisionado. No filme, o protagonista (Murray) adormece e acorda sempre no mesmo dia – o tempo, para ele, nunca passa.
Observando a história recente do país – após a redemocratização, para não ir muito longe -, a impressão que tenho é a mesma: estamos aprisionados no mesmo modus operandi de décadas atrás, mantendo-nos em constante estado de subdesenvolvimento social e econômico, e completas miséria política e institucional.
Se Collor acaba de ser condenado, o que não foi anteriormente – sim, a impunidade dos poderosos faz parte deste looping atemporal -, lembrando-nos do fim do século XX, a atual primeira-dama, ela mesma esposa de um ex-presidiário também condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, nos remete igualmente ao passado.
Com o bolso alheio
Circularam ontem, segunda-feira, 25, imagens da nova cascata da Granja do Torto, “residência de campo” da Presidência da República. Na boa, não sei o que é mais ultrajante: se a cascata paradisíaca ou a existência de uma “casa de campo” em Brasília, como se ainda vivêssemos sob o Império Português e seus palácios.
Não é apenas ultrajante e desnecessário a um país com IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) tão baixo – 0.760, que nos coloca na vexatória 89º posição entre 193 nações – este tipo de “mimo”. É brega! Coisa de “novo rico” deslumbrado. E aqui, note-se, a culpa não é de Lula e Janja apenas. É da “corte” ainda instalada na ilha da fantasia federal.
O ministério da Casa Civil não informou o valor gasto na já apelidada “cascata da Janja”. Mas a primeira-dama não costuma economizar o dinheiro dos pobres – que o maridão jura amar e defender. Que digam as reformas palacianas e as viagens internacionais da todo-poderosa “boca suja”, que mandou Elon Musk “se foder”. Mas dos jardins da Dinda à cascata de Lula e Janja, quem se fuck mesmo, como já escrevi aqui, é o Brasil.
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