50 anos de ‘Tubarão’: o monstro que devorou Hollywood
O medo, no filme de Steven Spielberg, vinha do que não se via, mas do que estava a espreita e você tinha de imaginar

Em 20 de junho de 1975, um tubarão mecânico e borracha chamado Bruce, movido a ar comprimido, emergiu das águas da cidade de Martha’s Vineyard e engoliu o cinema. Tubarão, de Steven Spielberg, não foi só um film, foi uma revolução.
Podemos dizer até que ele teria sido o marco zero dos chamados blockbusters de verão, que mudou para sempre como Hollywood faz e vende filmes. Hoje, ao completar 50 anos, a obra continua a mostrar os dentes, tão afiados quanto na estreia.
Spielberg, então um jovem de 28 anos, enfrentou um pesadelo logístico. O oceano, imprevisível, engolia equipamentos e paciência. O tubarão mecânico, que custou uma fortuna, quebrava mais que funcionava.
Durante semanas, a produção encarou a possibilidade de um fracasso colossal. As filmagens, planejadas para durar 55 dias, atrasaram e levaram 159 para serem finalizadas, gerando um trauma no diretor.
Mas, como um capitão teimoso enfrentando a tempestade, Spielberg improvisou. A câmera submersa e o som da trilha de John Williams – aquele dum-dum que ainda acelera corações – criam todo o clima do filme.
A ausência do tubarão, propriamente dito, em muitas cenas transformaram limitações técnicas da época em genialidade. Menos era mais. O medo vinha do que não se via, mas do que estava a espreita e você tinha de imaginar.
O filme não se sustenta só pelo suspense. São os personagens – Brody, o chefe de polícia vivido por Roy Scheider, que tinha medo de água, Quint, o caçador com cicatrizes da Segunda Guerra de Robert Shaw e Hooper, o cientista obstinado de Richard Dreyfuss – que dão alma à história.
A narrativa, construída com precisão, mistura pavor e humanidade. A cena do monólogo de Quint sobre o USS Indianápolis, descrevendo o mar engolindo homens em águas infestadas, é forte, prova de que Tubarão é mais que um suspense: é um estudo sobre o homem contra a natureza e contra si.
Na época, ninguém esperava que Tubarão se tornasse um fenômeno. Lançado em 409 cinemas — um número ousado para 1975 —, o filme surfou uma onda de marketing nunca vista, com cartazes e trailers que prometiam terror e entregavam ainda mais.
A produção arrecadou mais de 470 milhões de dólares, um colosso para um orçamento de menos de 9 milhões. Mais que números, Tubarão redefiniu o cinema como evento, pavimentando o caminho para franquias e superproduções.
Cinquenta anos depois, o filme mantém seu vigor. Sem efeitos especiais digitais, tudo era real: o mar, o barco, o medo. Spielberg, então um gênio ainda desconhecido, provou que talento e obstinação podiam domar até o mais terrível dos predadores.
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