Uma notícia boa e outra ruim
A maior novidade da política neste início de ano não está à vista do público, mas se tornou tema corrente nos bastidores da capital, especialmente entre operadores, lobistas e advogados. Ao tentar entender a demora de Lula no aparelhamento da máquina pública, especialmente em relação ao segundo e terceiro escalões, fui surpreendido com a informação...
A maior novidade da política neste início de ano não está à vista do público, mas se tornou tema corrente nos bastidores da capital, especialmente entre operadores, lobistas e advogados. Ao tentar entender a demora de Lula no aparelhamento da máquina pública, especialmente em relação ao segundo e terceiro escalões, fui surpreendido com a informação de que nada é aprovado sem a chancela do presidente da República.
Todos os pedidos, sejam de petistas ou aliados, são avaliados com lupa: seus currículos, o passado político e também jurídico. Se caíram na Lava Jato, se delataram oficialmente ou colaboraram informalmente com as investigações. Só depois, é avaliada a conveniência da nomeação, considerando a composição da base no Congresso ou o interesse setorial, dando-se preferência à manutenção do apoio popular ao governo.
Quem traiu Lula no passado recente está fora. Quem vacila e vaza informações sobre convites é desconvidado.
Mas a queixa maior, que vem do submundo da política, é a ordem do presidente para bloquear qualquer negociação financeira envolvendo cargos de confiança. Sim, as tradicionais malas recheadas de boas intenções pararam de circular ou se tornaram raras. Propostas indecentes, segundo esses relatos, vêm sendo prontamente rechaçadas, não importa o poder de sedução do interlocutor.
Talvez, imaginam, algum ministro do Supremo tenha enviado recado de que não é bom Lula abusar da sorte, depois de ter escapado ileso do mensalão e renascido das cinzas após a Lava Jato. Como já escrevi antes, o petista governa por concessão do STF. Ficaria feio algum novo escândalo envolvendo a gestão de quem deixou a cadeia, recuperou seus direitos políticos e voltou ao poder pela caneta de nossas excelências.
Essa nova realidade, porém, traz algumas consequências práticas, dentre elas a insatisfação crescente de partidos acostumados a alugar seu apoio ao governo mediante a entrega de nacos do orçamento público, que, ao final, acabam abastecendo contas bancárias em paraísos fiscais. Quanto maior a insatisfação, menor a disposição do Congresso para aprovar pautas de interesse do Planalto.
Encurralado, Lula pode enveredar por um caminho de ampliação do poder político, apoiando-se nas alas mais à esquerda — como parece já estar acontecendo. Governar para a militância leva ao isolamento e à radicalização, que escala em potencial de destruição quando movida por um sentimento de vingança contra diversos agentes do sistema. “Sem graxa, a correia solta, os pistões empenam e o motor funde”, descreve um observador da política, referindo-se ao que ele chama de governabilidade.
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