"Desculpa esfarrapada", diz vice-líder do MDB, sobre "função social" da PEC do Calote
O Antagonista

“Desculpa esfarrapada”, diz vice-líder do MDB, sobre “função social” da PEC do Calote

avatar
Wilson Lima
5 minutos de leitura 07.11.2021 16:00 comentários
Brasil

“Desculpa esfarrapada”, diz vice-líder do MDB, sobre “função social” da PEC do Calote

A Câmara dos Deputados vai votar, na próxima terça-feira pela manhã, o segundo turno da PEC dos Precatórios, proposta que vai permitir uma gambiarra fiscal para que o governo federal consiga bancar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família...

avatar
Wilson Lima
5 minutos de leitura 07.11.2021 16:00 comentários 0
“Desculpa esfarrapada”, diz vice-líder do MDB, sobre “função social” da PEC do Calote
Foto: Antônio Cruz/Agência Brasil

A Câmara dos Deputados vai votar, na próxima terça-feira (9) pela manhã, o segundo turno da PEC dos Precatórios, proposta que vai permitir uma gambiarra fiscal para que o governo federal consiga bancar o Auxílio Brasil, substituto do Bolsa Família.

Nos bastidores, o governo federal tem intensificado a pressão sobre os deputados federais e o Planalto conta com a ajuda do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL). Como mostramos, Lira passou a monitorar a chegada dos parlamentares a Brasília e vai permitir até que congressistas afastados por motivo de doença possam votar.

Do outro lado, os deputados que são contrários à PEC tentam um último esforço para convencer os colegas a mudar seu voto nessa reta final. O vice-líder do MDB na Câmara, Hildo Rocha (foto), afirma nesta entrevista a O Antagonista que tem alertado aos colegas sobre as consequências da PEC.

Não vale a pena a pessoa ir para um sacrifício desse, de receber emenda de R$ 10 milhões, R$ 15 milhões (…) e depois ficar marcada como responsável retorno da inflação e  pelo calote”, disse.

Sobre a argumentação do governo de que a PEC iria viabilizar o pagamento de programas sociais, o parlamentar é taxativo: “Essa é uma desculpa esfarrapada.”

Leia os principais trechos da entrevista:

Deputado, como é que o senhor tem trabalhado para convencer os deputados que votaram a favor da PEC a mudar de opinião até terça-feira?

Olha eu estou conversando com alguns colegas deputados e mostrando para eles a malignidade dessa PEC. Ela traz quatro dispositivos que prejudicam de forma assustadora o povo brasileiro. O primeiro dispositivo é o que dá um calote de quem tem contas a receber, crédito a receber do governo, através de precatórios. Então, a consequência disso é aumento dos juros, aumento da inflação, aumento da pobreza e a diminuição de investimentos.

E aí, o outro dispositivo maligno é o que você traz de volta os empréstimos por Antecipação de Receita Orçamentária, os antigos “AROs”, que endividaram vários municípios, endividaram Estados e que, consequentemente, endividou a União que assumiu, durante o governo Fernando Henrique Cardoso (FHC), esse endividamento. Hoje, parte da dívida do Brasil é em função disso, dessa antecipação de receita orçamentária. Só que agora vem com outro nome, em formato diferente que é muito mais grave, que se chama securitização da dívida ativa.

E quais são os outros aspectos considerados nocivos?

Aí, o terceiro dispositivo é o que muda a regra de ouro. Ao liquidar a regra de ouro, acaba com essa importante âncora fiscal para evitar que o governo gaste sem controle algum com despesas correntes. E o quarto aspecto é modificar a regra do teto de gastos. Então, são quatro dispositivos em uma só PEC, que prejudica bastante a população. Todos estão começando a compreender e a população está reagindo. O importante é que a população está reagindo contra a aprovação dessa PEC. Ela está conseguindo enxergar que a proposta vai trazer graves consequências [econômicas], inclusive uma delas é o aumento do combustível, do gás, da energia elétrica etc. Se for configurado mesmo a aprovação dessa PEC, em janeiro todo mundo sabe que a gasolina vai estar a R$ 11, sem dúvida nenhuma; gás de cozinha a mais de R$ 160.

Há um argumento da base do governo de que a PEC vai beneficiar os mais pobres, porque vai financiar o Auxílio Brasil. Como rebater isso?

Isso aí é uma desculpa esfarrapada para poder aprovar a PEC. A proposta está abrindo créditos de quase R$ 100 bilhões, R$ 97 bilhões para ser mais preciso. Não é necessário esse recurso todo para viabilizar o Auxílio Brasil. Até porque, já veio a previsão do Bolsa Família [no orçamento]. E você não precisa sacrificar o brasileiro do presente e do futuro. Há outras formas de se bancar essa despesa. Não precisa fazer esse grande sacrifício.

Na sua opinião, como pode ser viabilizado o Auxílio Brasil? Diminuindo despesas com servidores? Cortes na máquina pública?

Não, não precisa disso. Não precisa cortar muitos serviços públicos. Você resolve isso cortando os subsídios. Diminui um pouco a despesa com isenções fiscais, só isso. Reduz um pouco os subsídios que estão sendo dados, algo aí em torno de R$ 400 bilhões por ano.

Deputado, como os senhores estão trabalhando contra o jogo pesado do governo. Já foram ofertadas emendas, cargos, entre outras vantagens. Como se vence essa batalha?

Eu estou mostrando para os deputados, para os colegas, que não vale a pena a pessoa ir para um sacrifício desse, de receber emenda de R$ 10 milhões, de R$ 15 milhões, e daqui a nove meses, a inflação estar galopante para todo mundo. Todos os economistas vão culpar justamente a PEC 23. E [os deputados] estarão marcados como os responsáveis pelo retorno da inflação e pelo calote.

Mas de fato, o senhor soube de algum deputado que recebeu ofertas de R$ 10 milhões, R$ 15 milhões para votar a favor da PEC ou isso é folclore?

É conversa de corredor e de plenário.

Mas alguém fez essa oferta ao senhor?

Não, não.

Ouça a entrevista em podcast:

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

Crusoé: Uma “roda de conversa” no STF sobre o 8 de janeiro

Visualizar notícia
2

Talibã tropical: MP quer impor religião à cantora Claudia Leitte

Visualizar notícia
3

O governo Lula na posse de Maduro

Visualizar notícia
4

Empresário americano oferece US$ 100 mil pela captura de procurador-geral chavista

Visualizar notícia
5

Bolsa fecha no menor nível desde 2023

Visualizar notícia
6

Bolsonaro endossa nome de Rodrigo Valadares ao Senado

Visualizar notícia
7

Dino suspende repasse de emendas a ONGs que não apresentam transparência

Visualizar notícia
8

Lula eleva gastos no cartão e mantém sigilos no patamar de Bolsonaro

Visualizar notícia
9

Juiz marca sentença de Trump para 10 dias antes da posse

Visualizar notícia
10

Rússia bombardeia área residencial no norte da Ucrânia

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

"Podem revirar tudo, não irão achar nada", diz Sóstenes

Visualizar notícia
2

Real é a moeda que mais perdeu valor em 2024

Visualizar notícia
3

Wicked: Para Sempre - O que esperar da continuação do musical?

Visualizar notícia
4

J.K. Rowling celebra cinco anos de ativismo em defesa das mulheres

Visualizar notícia
5

Concurso Público do INSS: 250 vagas com salários até R$ 14 mil

Visualizar notícia
6

Meirelles nega narrativa do ataque especulativo

Visualizar notícia
7

Lobo-marinho "Joca" vira atração em Ipanema

Visualizar notícia
8

Réveillon Rio 2025: Ivete Sangalo, Anitta, Caetano e show de luzes inédito

Visualizar notícia
9

Crusoé: Bolsonaro tentou golpe? Resposta varia com eleitorado

Visualizar notícia
10

Golpes digitais nas festas de Fim de Ano: Como identificar e evitar armadilhas

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

Arthur Lira Câmara Hildo Rocha MDB PEC do Calote PEC dos Precatórios
< Notícia Anterior

A condição da COP26 para Bolsonaro discursar

07.11.2021 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

Primeiro-ministro do Iraque escapa de ataque com drone

07.11.2021 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Wilson Lima

Wilson Lima é jornalista formado pela Universidade Federal do Maranhão. Trabalhou em veículos como Agência Estado, Portal iG, Congresso em Foco, Gazeta do Povo e IstoÉ. Acompanha o poder em Brasília desde 2012, tendo participado das coberturas do julgamento do mensalão, da operação Lava Jato e do impeachment de Dilma Rousseff. Em 2019, revelou a compra de lagostas por ministros do STF.

Suas redes

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

Saque-aniversário do FGTS: Como funciona e como fazer a adesão

Saque-aniversário do FGTS: Como funciona e como fazer a adesão

Visualizar notícia
Homem tenta matar ex-companheira em Camaçari

Homem tenta matar ex-companheira em Camaçari

Visualizar notícia
Bolo envenenado em Torres: Detalhes do caso

Bolo envenenado em Torres: Detalhes do caso

Visualizar notícia
Conflito no Rio de Janeiro: Mulher é atingida por bala perdida

Conflito no Rio de Janeiro: Mulher é atingida por bala perdida

Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.