Mario Sabino: Traidores do povo
Em sua coluna para a Crusoé que foi ao ar nesta sexta (18), Mario Sabino comenta a articulação do "Primeiro Comando da Capital Federal" para apoiar a nova Lei de Improbidade Administrativa, que "legitimou (...) a impunidade"...
Em sua coluna para a Crusoé que foi ao ar nesta sexta (18), Mario Sabino comenta a articulação do “Primeiro Comando da Capital Federal” para apoiar a nova Lei de Improbidade Administrativa, que “legitimou (…) a impunidade”.
“Jair Bolsonaro se apropriou indebitamente das bandeiras da Lava Jato e fez o mesmo em relação às críticas à Constituição de 1988. Na verdade, ele é um subproduto tosco do antiprogressismo (aqui entendido no sentido liberal do termo), do cartorialismo, da inconsequência, da burocracia paternalista e da tecnocracia-xenófoba. Na verdade, o Primeiro Comando da Capital Federal também é. O estatismo vendido como a nossa salvação só fez chancelar o patrimonialismo do patronato político brasileiro, para usar a definição de Raymundo Faoro. E lá vou eu levantar outro cartapácio magnífico, Os Donos do Poder, de Faoro, que descreve o início da nossa picada, que vem lá dos tempos do Portugal monárquico. Mas não voltarei tão longe. Basta-me ir até o início do século XX, sobre o qual achei um trecho sublinhado por mim sei lá quando:
‘Um viajante norte-americano da década de 20, irritado e furioso, caricaturou, forçando as linhas e as cores, o quadro que supusera ver. ‘Existe no Brasil — clamou o profeta puritano — ‘uma massa desarticulada a que chamarei povo. É completamente analfabeta. Por isso, não tem padrão próprio de agricultura, zootecnia ou arquitetura (…) Tem uma ideia muito vaga do resto do mundo a que alguns chamam englobadamente de Paris. Não toma parte na administração pública. Desprovida de terras; em sua maioria, trabalha por conta de outrem: o patrão ou o chefe político. Existe, porém, outra classe altamente articulada a que chamarei traidores do povo. São letrados, capazes de compor frases sonoras (…) Conhecem o conforto das moradias arejadas. Sabem muito mais a respeito do resto do mundo que de seu próprio país. O governo é a missão para a qual julgam ter nascido’. No exagero das cores, filtra-se uma consequência: o povo quer a proteção do estado, parasitando-o, enquanto o estado mantém a menoridade popular, sobre ela imperando. No plano psicológico, a dualidade oscila entre a decepção e o engodo.’”
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