A meritocracia ‘pero no mucho’ de Romeu Zema A meritocracia ‘pero no mucho’ de Romeu Zema
O Antagonista

A meritocracia ‘pero no mucho’ de Romeu Zema

avatar
Ricardo Kertzman
5 minutos de leitura 01.08.2024 11:13 comentários
Análise

A meritocracia ‘pero no mucho’ de Romeu Zema

O governador faz bem em buscar o máximo de eficiência na gestão e premiar os servidores por metas cumpridas, mas tem de valer para todos

avatar
Ricardo Kertzman
5 minutos de leitura 01.08.2024 11:13 comentários 0
A meritocracia ‘pero no mucho’ de Romeu Zema
Foto: Joelto Mata/O Antagonista

Empresário de sucesso, Romeu Zema “caiu sem paraquedas” na política ao aceitar, sem grande pretensão, disputar o governo de Minas em 2018. Apelidado de Chico Bento (um personagem caipira dos quadrinhos de Mauricio de Souza), por causa do forte sotaque de “mineiro do interior”, o atual governador do estado foi eleito na onda antipolítica que varreu o país após o auge da Operação Lava Jato e o impeachment de Dilma Rousseff em 2016.

Reeleito em primeiro turno, em 2020, Zema faz parte dos que se definem “liberais”, seja lá o que isso signifique no Brasil. Obcecado por produtividade, eficiência, corte de custos e outras práticas comuns ao mundo dos negócios, tem conseguido certo êxito e sua administração, em que pesem tantos problemas ainda existentes, mostra-se bem-sucedida, principalmente se comparada ao desastre protagonizado por Fernando Pimentel (PT).

Ele e seu partido, o Novo, defendem “em alto e bom som” a chamada meritocracia, um conceito tão amplo quanto repleto de interpretações e objeções. Grosso modo, seria algo como “premiação pelo mérito”, ou seja, destinar os melhores cargos, salários e benefícios a quem, por esforço e capacidade individuais, os merecesse. Zema e o Novo também defendem a diminuição do Estado e a menor interferência possível na economia. 

Mas na prática…

Tais conceitos, contudo, parecem relativizados – ou alargados – pelo governador mineiro e sua legenda. São diversos os exemplos, a começar por secretarias e cargos que foram criados para abrigar indicações e parceiros políticos. O ex-deputado federal Marcelo Aro (PP) ilustra bem o caso, já que é o atual secretário de uma pasta antes inexistente no governo, a Secretaria de Estado de Casa Civil.  

Outro exemplo de “meritocracia alargada” pode ser encontrado na Empresa Mineira de Comunicação (EMC), vinculada à Secretaria de Estado de Comunicação (Secom), que reúne as Rádios Inconfidência AM e FM, a Rede Minas (TV) e a plataforma de streaming EMCPLAY. Nota-se, portanto, que nem só de EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) padecem os bolsos dos contribuintes brasucas. Haja impostos!

O diretor de Programação e Conteúdo da empresa é o jornalista Leonardo Vitor, empresário, ex-membro do Movimento Brasil Livre (MBL) e coordenador do Novo em Minas Gerais. Sem fazer juízo de valor sobre as aptidões e o currículo de Leonardo, profissionais bem mais experientes e renomados poderiam – e deveriam, sob a ótica da meritocracia – ocupar o cargo. Certamente, no caso, pesou a afinidade partidária.

Aumento de 300%

Em meio a um endividamento de 165 bilhões de reais, que coloca Minas entre os três estados com maiores débitos com a União, e uma interminável discussão sobre Regime de Recuperação Fiscal (RRF) ou planos de pagamento discutidos em Brasília junto ao governo federal, com a participação do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), Zema concedeu a si e a seu secretariado um aumento de quase 300% nos vencimentos.

A justificativa, à época – plausível, por sinal – era de que o estado pagava um dos piores salários do país, o que impossibilitava a contratação de quadros qualificados. Em recente entrevista à CNN Brasil, Zema afirmou: “No passado, os secretários tinham os jetons. Ganhavam muito mais do que hoje. Isso não sai em jornal nenhum. Não vejo ninguém falar. Sou um governo que preza pela transparência, se está lá que meu secretário ganha X é porque ele ganha X.”

Porém, segundo dados do Portal da Transparência do Estado de Minas Gerais, diversos secretários de governo recebem jetons, como os casos do secretário de Saúde, Fábio Baccheretti, que recebeu a gratificação em 31 dos 39 meses de governo, e a ex-secretária de Planejamento e Gestão, Luísa Barreto, que apenas em outubro de 2022 recebeu quase 150% a mais que o salário líquido com jetons, conforme apurou o Portal UAI.

Haja mérito

Ainda segundo a matéria, o secretário de Fazenda nos cinco primeiros anos do governo, Gustavo Barbosa custou mais de três milhões de reais: “Entre repasses feitos pelo estado à Caixa Econômica Federal, onde ele é funcionário de carreira, salários como secretário e jetons, a remuneração mensal média de Barbosa foi de R$ 53.184,81 entre 2019 e 2023, conforme conferido no Portal da Transparência do governo estadual.”

Segundo o mesmo Portal da Transparência, três quartos dos servidores estaduais recebem até quatro salários mínimos federais. Essa turma precisaria trabalhar mais de 11 anos para ganhar o mesmo que Barbosa, por exemplo, ganhou em apenas um. É difícil imaginar que ou falte tanta meritocracia nestes três quartos de servidores ou não sobre “meritocracia” para o secretariado de Zema, se é que me compreendem a colocação.

Em um país tão desigual quanto o Brasil, em que o CEP de nascimento praticamente define o futuro da maioria absoluta dos cidadãos, a tal meritocracia deve ser sempre muito bem avaliada e contextualizada. Romeu Zema faz bem em buscar o máximo de eficiência na gestão do estado e premiar os servidores por metas cumpridas, mas isso deve valer para todos e de forma equânime. Ou seja, não basta apenas crer em meritocracia; há que se praticar.

  • Mais lidas
  • Mais comentadas
  • Últimas notícias
1

PF indicia Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
2

Cid implica Braga Netto para salvar delação premiada

Visualizar notícia
3

Moraes mantém delação premiada de Mauro Cid

Visualizar notícia
4

Putin comenta lançamento de míssil e ameaça o Ocidente

Visualizar notícia
5

O papel dos indiciados em suposta tentativa de golpe de Estado

Visualizar notícia
6

Gonet foi contra prisão de Cid após depoimento a Moraes; militar foi liberado

Visualizar notícia
7

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
8

Crusoé: Thomas Sowell está vivo, Elon

Visualizar notícia
9

Crusoé: Pablo Marçal governador de São Paulo?

Visualizar notícia
10

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
1

‘Queimadas do amor’: Toffoli é internado com inflamação no pulmão

Visualizar notícia
2

Sim, Dino assumiu a presidência

Visualizar notícia
3

O pedido de desculpas de Pablo Marçal a Tabata Amaral

Visualizar notícia
4

"Só falta ocuparem nossos gabinetes", diz senador sobre ministros do Supremo

Visualizar notícia
5

Explosões em dispositivos eletrônicos ferem mais de 2.500 no Líbano

Visualizar notícia
6

Datena a Marçal: “Eu não bato em covarde duas vezes”; haja testosterona

Visualizar notícia
7

Governo prepara anúncio de medidas para conter queimadas

Visualizar notícia
8

Crusoé: Missão da ONU conclui que Maduro adotou repressão "sem precedentes"

Visualizar notícia
9

Cadeirada de Datena representa ápice da baixaria nos debates em São Paulo

Visualizar notícia
10

Deputado apresenta PL Pablo Marçal, para conter agressões em debates

Visualizar notícia
1

Mandado contra Netanyahu não tem base, diz André Lajst

Visualizar notícia
2

Bolsonaro deixou aloprados aloprarem?

Visualizar notícia
3

Trump nomeia ex-procuradora da Flórida após desistência de Gaetz

Visualizar notícia
4

PGR vai denunciar Jair Bolsonaro?

Visualizar notícia
5

Tarcísio defende Bolsonaro contra “narrativa disseminada”

Visualizar notícia
6

Agora vai, Haddad?

Visualizar notícia
7

"Não faz sentido falar em anistia", diz Gilmar

Visualizar notícia
8

A novela do corte de gastos do governo Lula: afinal, sai ou não sai?

Visualizar notícia
9

Líder da Minoria sobre indiciamentos: "Narrativa fantasiosa de golpe"

Visualizar notícia
10

Fernández vai depor na Argentina sobre suposto episódio de violência doméstica

Visualizar notícia

Assine nossa newsletter

Inscreva-se e receba o conteúdo do O Antagonista em primeira mão!

Tags relacionadas

meritocracia Partido Novo Romeu Zema
< Notícia Anterior

Tropas russas realizam exercícios militares em Ilha do Japão

01.08.2024 00:00 4 minutos de leitura
Próxima notícia >

CIDH denuncia repressão pós-eleitoral na Venezuela

01.08.2024 00:00 4 minutos de leitura
avatar

Ricardo Kertzman

Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.

Comentários (0)

Torne-se um assinante para comentar

Notícias relacionadas

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

A folha, a árvore, a floresta e Jair Bolsonaro

Ricardo Kertzman Visualizar notícia
Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Crusoé: E agora, Amorim? Sete países reconhecem González como presidente eleito

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Crusoé: Por que Trump escolheu ex-diretora do WWE para comandar a Educação

Duda Teixeira Visualizar notícia
Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Crusoé: Só não pode chamar de Nova Rota da Seda

Duda Teixeira Visualizar notícia
Icone casa

Seja nosso assinante

E tenha acesso exclusivo aos nossos conteúdos

Apoie o jornalismo independente. Assine O Antagonista e a Revista Crusoé.