Josias Teófilo na Crusoé: O culto da artificialidade
A harmonização facial e algumas cirurgias plásticas parecem ser feitas para serem notadas – a intenção não é ser natural
De repente, as cores dos filmes tornaram-se metálicas, os efeitos digitais se multiplicaram, cada cena puxa para uma cor. O mesmo na fotografia, com tratamento excessivo, que por vezes faz a foto parecer ter sido realizada por inteligência artificial.
De modo equivalente, popularizaram-se a harmonização facial, as cirurgias plásticas e outros procedimentos estéticos que, curiosamente, parecem feitos para serem notados – a intenção não é ser natural.
Se você vê um filme da década de 1970, ali estão efeitos especiais práticos, filmados em película, mostrando atores em sua forma bem próxima da natural – é claro que já existiam procedimentos estéticos, mas não eram tão comuns, tão popularizados e nem tão evidentes.
O que foi que aconteceu de lá para cá?
Talvez o principal fator seja o desenvolvimento tecnológico digital. A imagem digital tornou-se o suporte básico do cinema e da fotografia – não é o único, muita coisa é fotografada ou filmada em película – mas é o principal. E o digital, diferente da película, que é uma reprodução química da realidade (a imagem é impressa no âmbito molecular), é uma duplicação matemática da realidade, e não material. Se você ampliar uma película vai achar, no final das contas, as moléculas da emulsão sensibilizadas pela luz do objeto fotografado. Se ampliar uma imagem digital vai achar um pixel, que é uma partícula indivisível da imagem.
Verdade que a imagem atualmente é apreciada predominantemente através de aparelhos digitais (mesmo que seja uma foto analógica): computador, smartphone, tablet ou televisão. Mas existe uma diferença, sim, na qualidade da imagem captada analogicamente ou digitalmente – a foto analógica tende a ter cores mais profundas e maior profundidade de campo.
A imagem digital é mais artificial – poderíamos resumir assim. E o meio é a mensagem, como dizia Marshall Macluhan. Ou seja, o meio não é neutro: é um elemento determinante na comunicação.
Leia mais aqui; assine Crusoé e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)