Os tucanos dormiram debaixo da chuva
PSDB reclama do protagonismo que Lula tenta assumir na resposta ao desastre no RS. Chorar não adianta, única solução é mostrar liderança
O tucanato reagiu mal ao anúncio de que o petista Paulo Pimenta ficará estacionado no Rio Grande do Sul nos próximos meses, com a missão de representar o governo federal (e construir seu nome como possível candidato a governador) na resposta à catástrofe climática.
O governador gaúcho Eduardo Leite (foto) lamentou ter ficado sabendo da nomeação pela imprensa.
Aécio Neves, ainda hoje uma figura influente no PSDB, sugeriu que a nomeação de Pimenta como “ministro extraordinário” faz lembrar o tempo dos interventores, quando Getúlio Vargas governava o Brasil, e representa uma “excrescência” que “politiza” o drama vivido pelos gaúchos.
“Todo o esforço colaborativo que tem havido até agora, e que reconhecemos, é jogado por terra por essa decisão impensada e extremamente equivocada”, disse Aécio.
Oportunismo de profissional
É óbvio que o PT está procurando se aproveitar politicamente da situação. Mas não é com choradeira que os tucanos vão escapar dessa cilada. A única solução é assumir de maneira inequívoca a liderança nos processos de socorro aos atingidos pelas chuvas e de reerguimento do Estado.
Notem que até nisso os petistas saíram na frente: o cargo ocupado por Pimenta não é voltado às questões imediatas, mas à “reconstrução do Rio Grande do Sul”. O PT já trata de se apoderar do dia seguinte. É oportunismo de profissional, não de amador.
Eduardo Leite sempre esteve numa posição desvantajosa. Como as finanças gaúchas estão em petição de miséria, não tinha outra saída que não passar o pires em Brasília. Como muitas cidades foram atingidas, prefeitos brigam pelo acesso aos recursos.
Essas duas circunstâncias – o fato de boa parte dos dinheiro vir dos cofres federais e a existência de uma multiplicidade de atores políticos querendo se fazer ouvir – tornam o cenário propício para que a equipe de Lula busque um contato direto com as cidades, passando por cima do governador.
Uma visão para o futuro
Leite e sua equipe deveriam ter previsto esse risco. Como não o fizeram, precisam correr atrás do prejuízo. Não sou estrategista político para dizer como, mas um dos poucos caminhos viáveis parece ser o de apresentar uma visão diferente para o Rio Grande do Sul depois da chuva. Não apenas reconstruir, mas fazer melhor: um estado na vanguarda da preparação para os desafios climáticos.
É claro que qualquer investimento nessa direção também vai depender de recursos do governo federal, mas se tiver em mãos um plano crível para o futuro, o governador já não será apenas o sujeito que pede um alívio nas dívidas, ou um intermediário potencialmente incômodo entre os donos do dinheiro e as cidades que vão usá-lo. Poderá recobrar o protagonismo.
Por enquanto, até a linguagem corporal de Eduardo Leite mostra mais alguém compungido e atormentado pela tragédia do que um político pronto para liderar diante do inesperado.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)