Não esculhambem o Brasileirão
Não faz sentido falar em parar o Campeonato Brasileiro. O futebol nacional já tem problemas demais para se prestar a intrigas políticas
A inexpressiva Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (Anaf) divulgou nota na terça-feira, 23, para defender a paralisação do Campeonato Brasileiro. O texto é confuso, mistura tudo e surfa numa onda torta gerada pelas frágeis denúncias de manipulação do dono do Botafogo, John Textor (à esquerda na foto).
O presidente da CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, senador Jorge Kajuru (PSB-GO, ao centro na foto), surfa a mesma onda, o que é um péssimo sinal sobre os trabalhos de uma comissão que claramente busca uma razão para existir.
A Câmara dos Deputados encerrou há poucos meses os trabalhos de uma CPI sobre o mesmo assunto, que não acrescentou nada às eficientes investigações do Ministério Público de Goiás sobre manipulação de jogos no Brasil.
Penalidade máxima
A Operação Penalidade Máxima teve duas fases, denunciou 16 pessoas e eliminou do futebol brasileiro quatro jogadores — eles não foram banidos, o que significa que poderão voltar a jogar profissionalmente em algum momento, caso a Justiça assim decida.
A proliferação de sites de aposta esportiva, que patrocinam a maioria dos clubes de futebol brasileiros e que até o presidente da CPI no Senado promove, mantém aquecido o debate sobre a manipulação de resultados, alimentado também pela péssima qualidade da arbitragem brasileira.
É nesse ambiente que a nota divulgada pelo presidente da Anaf, Salmo Valentim, surge para tumultuar ainda mais a questão. A associação é mais antiga que a Associação de Árbitros de Futebol do Brasil (Abrafut), tem prerrogativas Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD), mas os principais árbitros do país fazem parte da Abrafut.
Ednaldo na mira
O alvo da Anaf é o presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, de cuja permanência no cargo o Supremo Tribunal Federal (STF) se encarrega no momento. Valentim diz que o Brasileirão “está em xeque após acusações de Textor que colocam o VAR sob suspeição”. Não está.
O presidente da Anaf disse que tem recebido “inúmeros telefonemas de árbitros insatisfeitos e já há um volumoso grupo que deseja, em protesto ao que está ocorrendo, interromper o campeonato brasileiro já nas próximas rodadas“. Mas sua reclamação só encontrou eco até agora em Kajuru.
Na sequência da nota, vem o que parece ser sua real motivação: “Tudo isso ocorre graças a um show de horrores onde o protagonista principal é o ex-afastado presidente da CBF, Ednaldo Rodrigues, que anda mais preocupado com o seu volumoso salário na entidade, do que, por exemplo, em pagar as ÁRBITRAS que estão trabalhando de graça para a CBF”.
Sem dinheiro
Segundo Valentim, “desde o ano passado, a arbitragem feminina atua sem receber em diversos torneios femininos nacionais”. “Isso mostra bem o retrocesso que sua gestão causa ao futebol e à arbitragem brasileira”, completa. Quem também não tem recebido da CBF é a própria Anaf, cujo repasse mensal de 30 mil reais foi interrompido, informa o Uol.
Há algumas semanas, o alvo do presidente da Anaf era outro: John Textor. Em nota divulgada em 8 de março, a associação dizia o seguinte:
“Se John Textor não provar o que disse, ele tem que ser banido do futebol brasileiro! Não há outro caminho e, diante do que ele disse, as instituições precisam agir. É inaceitável que um dirigente responsável por um dos mais importantes clubes do futebol nacional tome uma atitude pequena e lamentável como essa”.
Sem provas
Até agora, Textor não provou nada, e ainda levantou suspeita sobre a arbitragem do país, também sem apresentar provas — os indícios foram exibidos em reunião secreta na CPI das Apostas, e os senadores fizeram algum esforço retórico para não descartá-los logo, dizendo que o que Textor mostrou justifica apuração.
A Operação Penalidade Máxima não apontou o envolvimento de nenhum árbitro em esquema de manipulação no Brasil. Até que isso ocorra, não faz sentido falar em parar o campeonato. O futebol brasileiro já tem problemas demais para se prestar a intrigas políticas.
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