O que o caso Moro nos ensina: idolatrar juiz não dá certo
O ocorrido agora com Sergio Moro nos ensina a lição que o Brasil custa a aprender: idolatrar juiz não dá certo. É uma função sagrada numa sociedade, que requer um...
O ocorrido agora com Sergio Moro nos ensina a lição que o Brasil custa a aprender: idolatrar juiz não dá certo. É uma função sagrada numa sociedade, que requer um comportamento de sacerdote. São pessoas decisivas em questões fundamentais da vida humana. Quando a sociedade dá a elas as condições para expressar vaidade, a coisa desanda de forma perigosa.
Em um único dia, o senador conseguiu derreter todo o capital político que conquistou em anos. Foi uma comédia de erros sucessivos que frustrou seus eleitores e antigos fãs. Já não tinha espaço na esquerda, foi atacado pela direita bolsonarista e agora decepcionou os lavajatistas.
Começou com a foto demonstrando intimidade com Flavio Dino. Claro que serve de combustível para as militâncias radicais. Ainda ele se explicou, apelando à civilidade necessária nas relações. Mas daí vieram as fotos das trocas de mensagens, que complicaram bastante a situação.
Tanto o PT de Lula quanto o PL de Bolsonaro têm interesse em tirar o mandato de Moro. Aqui não falamos do universo imaginário da vingança, mas do universo real das oportunidades. A cassação pedida é da chapa toda, o senador e seus dois suplentes. Surge então a oportunidade de uma vaga para o Senado.
Duas candidatas aparentemente estão no páreo. Gleisi Hoffmann é paranaense. Michelle Bolsonaro seria uma outra possibilidade. Não é uma vaga ocupada apenas por aliados de uma ou outra força política, mas a possibilidade de ter alguém do núcleo duro do petismo ou do bolsonarismo no Senado.
O mundo político rejeita a Lava Jato. O que foi feito com Deltan Dallagnol é algo que ainda gerará efeitos futuros. Os 345 mil votos de eleitores paranaenses foram anulados na canetada, sem uma justificativa plausível.
Se falou que Deltan estaria inelegível se deixasse o Ministério Público no meio de algum processo administrativo, já que seria uma tentativa de escapar da punição. Existia esse processo? Não. Mas, se existisse um pré-processo, uma fase inicial, isso também passaria a valer. Por isso ele foi cassado. No entanto, também não existia nenhum procedimento do tipo.
Caso a ideia fosse adotada para todos, ninguém poderia ser candidato. Qualquer pessoa está sujeita a um procedimento de averiguação. Se, por isso, puder ser impedida de se candidatar, ninguém pode ser candidato a nada.
A situação de Moro é diferente, já que houve questionamentos sobre a prestação de contas da campanha dele. O debate interno no partido gerou até um procedimento de compliance. Além disso, ele surpreendeu ao levar para o gabinete um assessor conhecido no Paraná por se envolver com o tipo de política que era combatido pela Lava Jato.
Aparentemente, Sergio Moro tenta uma aproximação com Flávio Dino na tentativa de ter um resultado diferente no próprio processo de cassação, que já foi iniciado no Paraná. Se Deltan, que não tinha nenhum problema, foi cassado, por que o senador acredita que o caso dele teria outro desfecho? Para o dele tem até a desculpa técnica.
Esse movimento é uma hipótese que Moro não admitiu. Caso seja realmente verdade, é um ícone da inabilidade política. Há algumas pessoas que nasceram para cargos com estabilidade, não para a fervura dos mandatos. Talvez seja o caso.
Moro foi idolatrado pelo Brasil na época da Lava Jato. A sociedade criou um espaço para o exercício confortável da vaidade, o que é fatal para um juiz. Ele partiu para a política e não sabe navegar com segurança nesse mar instável. Resta saber quando aprenderemos a não idolatrar juízes. É ruim para eles e pior ainda para nós.
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