Sucesso do Janjômetro mostra que primeira-dama é odiada
Se Lula quer encerrar a polêmica, o caminho é claro: oficialize a posição de Janja
O sucesso do “Janjômetro” é mais revelador do que parece. A curiosidade nacional sobre os gastos e as atividades de Janja escancara duas questões centrais. Primeiro, ela se tornou a figura mais detestada da política brasileira, onde o páreo é duro para este posto. Segundo, há uma falta de transparência gritante na forma como a primeira-dama atua e ocupa espaços de poder, sem cargo oficial, mas com uma presença que desafia as regras institucionais.
O “Janjômetro” foi criado pelo deputado estadual Guto Zacharias, vice-líder do governo Tarcísio na Assembleia Legislativa de São Paulo. A ferramenta é um apanhado de dados e estimativas que busca rastrear os gastos atribuídos à primeira-dama. Embora não traga informações oficiais ou precisas, seu apelo reflete o anseio do público por respostas. Afinal, por que Janja está em eventos internacionais como as Olimpíadas ou representando o Brasil no G20 sem ocupar um cargo oficial? Por que ela viaja em nome do governo sem qualquer garantia de que suas ações estejam protegidas pelos protocolos internacionais? Essas são perguntas legítimas que o governo ignora enquanto tenta blindá-la de críticas com o pretexto de que questioná-la seria machismo.
Mas a questão não é gênero. Não é machismo apontar que Janja não tem função formal no governo e, portanto, não está submetida às obrigações que deveriam nortear quem exerce poder. Sua presença constante em espaços institucionais sem uma posição oficial cria uma situação nebulosa que o governo Lula parece incapaz – ou desinteressado – de resolver. A solução seria simples: oficializá-la. Dar-lhe um cargo, atribuições e limites claros. Mas isso não acontece. E é justamente essa ambiguidade que alimenta a curiosidade sobre seus gastos e a crescente aversão pública.
Há ainda outro aspecto: o discurso de que Janja representa um “feminismo empoderado”. Essa narrativa, frequentemente promovida, é não só falaciosa como também prejudicial. Janja não rompe com padrões machistas, ela os reforça. Adotar o sobrenome do marido, incorporar até o apelido Lula e viver em função do protagonismo dele são práticas que evocam um modelo de submissão disfarçado de emancipação. Mais grave, ela não exerce qualquer influência real sobre pautas femininas no governo. Onde estava sua voz no caso de assédio envolvendo Silvio Almeida? O que ela tem feito pela representatividade feminina no governo? Nada. Nem em questões globais, como os direitos das mulheres no Irã, Janja mostrou relevância.
O que temos, na prática, é uma figura pública sem impacto político real, mas com uma presença constante e controversa. Janja é apresentada como símbolo de poder feminino, mas age como coadjuvante em uma estrutura que preserva valores ultrapassados. Esse contraste não passa despercebido. O brasileiro identifica a dissonância entre a imagem que o governo tenta vender e a realidade. E isso explica, em grande parte, o ranço crescente contra a primeira-dama.
Se Lula quer encerrar a polêmica, o caminho é claro: oficialize a posição de Janja. Dê-lhe um cargo, defina responsabilidades e garanta que sua atuação esteja de acordo com as normas do Estado. Enquanto isso não acontecer, sua presença continuará sendo alvo de desconfiança e, pior, um símbolo da falta de transparência que o governo prometeu combater.
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Comentários (2)
José Renato Prado
02.12.2024 23:04Continuo o seu leitor de carteirinha, vc não decepciona. Na mosca !
Andre Luis Dos Santos
02.12.2024 22:10Excelente!