Luíz Inácio Lula da Silva foi o 35º presidente do Brasil, entre 2003 e 2010. Ganhou expressão política em meio ao movimento operário, como líder do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo nos anos 1970. Chegou a ser preso durante o regime militar e foi condenado por incitação à desordem. Ao mesmo tempo, mantinha boas relações com os patrões contra os quais vociferava em grandes assembleias de operários. Lula participou da fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT. O operário foi eleito presidente em 2002, ao derrotar José Serra, do PSDB, depois de três tentativas fracassadas de chegar ao poder, em 1989, 1994 e 1998. Durante o seu primeiro governo, eclodiu o escândalo do Mensalão. Mesmo assim, Lula foi reeleito, graças ao crescimento econômico baseado na valorização das commodities exportadas pelo Brasil e forte impulso ao consumo interno, com crédito abundante e o endividamento progressivo dos mais pobres.

O petista conseguiu eleger Dilma Rousseff, que foi sua ministra, como sucessora em 2010. Durante o governo Dilma, que terminaria sofrendo impeachment, a operação Lava Jato, baseada em Curitiba, começou a desvendar o gigantesco esquema de corrupção na Petrobras, do qual Lula foi apontado como chefe. No caso do triplex do Guarujá, ele foi condenado em primeira instância pelo juiz Sergio Moro, em 2017, e, em segunda instância, em 2018, pelo TRF-4. O STJ também confirmou a condenação.

Lula ficou preso de abril de 2018 a novembro de 2019, em Curitiba, quando o STF mudou o entendimento sobre a prisão após condenação em segunda instância.

Em 2021, Luiz Edson Fachin,  relator da Lava Jato, anulou as condenações de Lula e o tornou elegível. A decisão foi confirmada pelo plenário do STF.

Atuação como sindicalista

Lula nasceu em 1945, em Garanhuns, Pernambuco, filho de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo. Aos 7 anos, migrou para São Paulo com sua mãe e seus irmãos, onde começou a trabalhar desde cedo. Aristides, o pai de Lula já havia mudado para a cidade anos antes e se casado com uma prima da mãe de Lula.

Em 1959, foi contratado por uma empresa siderúrgica que produzia parafusos. Em 1964, esmagou o dedo em um torno mecânico e ganhou uma indenização equivalente a R$ 350 mil. Depois de passar quase um ano desempregado, Lula foi trabalhar pelas Indústrias Villares, uma grande empresa metalúrgica de São Bernardo do Campo, em 1966.

Em 1968, Lula se filiou ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo. Pouco tempo depois, cessou as suas atividades como operário, ao ser eleito 1º secretário do sindicato.

Em 1975, Lula foi eleito presidente do sindicato. O operário ganha projeção nacional ao liderar uma greve em defesa da reposição de salários, em 1977, em plena ditadura.

O metalúrgico foi um dos principais fundadores do Partido dos Trabalhadores, o PT, em 1980, e se tornou o primeiro presidente da sigla.

No mesmo ano, Lula acabou preso durante uma greve e ficou detido por cerca de um mês. O sindicalista foi condenado a 3 anos e meio por incitação à desordem coletiva pela Justiça militar, mas recorreu e foi absolvido no ano seguinte.

Carreira política

Lula iniciou sua carreira política em 1982, quando se candidatou ao governo de São Paulo. O petista foi derrotado por Orestes Quércia na ocasião.

Quatro anos mais tarde, em 1986, Lula foi eleito o deputado federal por São Paulo como o mais votado da história até então.

Em 1989, o sindicalista concorre pela primeira vez à presidência e é derrotado por Fernando Collor de Mello. Em 1994 e 1998, Lula também concorreu e foi derrotado em primeiro turno nas duas oportunidades por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB.

Em 2002, em sua 4ª tentativa, Lula foi eleito o 35º presidente do Brasil, derrotando José Serra, do PSDB. O petista governou até 2010, quando elegeu Dilma Rousseff como sucessora.

Governo Lula

O governo Lula foi marcado na área social pela criação do Bolsa Família, uma junção dos vários programas sociais criados por Fernando Henrique Cardoso. O benefício assistencial alavancou a popularidade do então presidente em redutos mais pobres e mudou o perfil de seu eleitorado.

Em 2005, veio à tona o escândalo do mensalão, revelando que o governo comprava votos de parlamentares para aprovar sua agenda no Congresso. Ainda assim, Lula foi reeleito em 2006 para seu segundo mandato como presidente. No entanto, o escândalo resultou na queda de ministros e na cassação de deputados.

Na mesma época, foi revelado que uma empresa do filho mais velho de Lula, Lulinha, fechou um contrato com a Telemar, empresa da área de telefonia que mantinha relações estreitas com o governo.

No campo econômico, Lula promoveu um aumento do endividamento público ao mesmo tempo em que conseguiu reduzir a dívida externa do país. O governo deixou de lado o rigor fiscal e as metas de inflação e fez com que o Banco Central aumentasse a taxa básica de juros. Ainda assim, o governo viveu certa estabilidade econômica. Apesar da crise de 2008, a popularidade de Lula se manteve alta.

O petista conseguiu eleger Dilma Rousseff como sua sucessora.

Mensalão

Durante o primeiro mandato de Lula, em 2005, eclodiu o escândalo de compra de votos de parlamentares, que ficou conhecido como Mensalão.

O deputado Roberto Jefferson, do PTB, revelou que o PT pagava a vários deputados de outros partidos para votar de acordo com os interesses do governo na Câmara. O dinheiro usado saía dos orçamentos de publicidade de empresas estatais, distribuído por meio de uma agência do publicitário Marcos Valério.

Jefferson acusou o chefe da Casa Civil de Lula, José Dirceu, de comandar o esquema. As investigações também envolveram membros de dez partidos.

O STF só começou o julgamento dos 38 réus do escândalo do mensalão em 2012. Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão por corrupção ativa. Outras lideranças petistas como José Genoíno e Delúbio Soares também foram condenados.

Petrolão

A ligação de Lula com o Petrolão, o esquema de recebimento de propinas a partir da Petrobras, começou a ser desvendado em 2016, nas investigações da Lava Jato e em delações premiadas. O ex-diretor da estatal Nestor Cerveró foi o primeiro a citar Lula em sua delação premiada. Ele afirmou que Lula teria recebido R$ 12 milhões por meio do pecuarista José Carlos Bumlai, em troca da nomeação de Cerveró para um cargo público.

Nos anos seguintes, o petista seria citado em outras delações, como as de João Santana, Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro e Antônio Palocci.

De acordo com planilhas e documentos de empreiteiras como a Odebrecht e a apuração dos membros do Ministério Público, Lula recebeu propina das empresas em troca do fechamento de contratos com a Petrobras.

Em 2016, Lula foi denunciado pelo Ministério Público por corrupção ativa, passiva e lavagem de dinheiro pelo recebimento de R$ 3,7 milhões em propinas da OAS, por meio da aquisição e reforma de um triplex no Guarujá.

O petista também foi alvo de uma outra denúncia envolvendo a compra de um terreno para a construção de uma sede para o Instituto Lula feita pela Odebrecht. De acordo com o MPF, a empresa pagou R$ 12,4 milhões pelo terreno, como propina a Lula.

No mesmo ano, o então juiz Sergio Moro autorizou a abertura de inquérito para que a Polícia Federal investigasse o sítio em Atibaia usado pelo ex-presidente. A suspeita era que as empreiteiras OAS e Odebrecht tinham realizado obras na propriedade como compensação por contratos com a Petrobras.

Diante da possibilidade de Lula ser preso, a então presidente Dilma Rousseff tentou nomeá-lo como ministro chefe da Casa Civil, para que ele tivesse foro privilegiado. A decisão foi suspensa pelo ministro do STF Gilmar Mendes, depois que uma gravação sobre a tramoia foi revelada pela Lava Jato.

Em 2017, o então juiz Sergio Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá. 

Em 2018, Lula foi condenado em 2ª instância por unanimidade no TRF-4 e os desembargadores aumentaram a pena para 12 anos e 1 mês de prisão. O petista foi preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba. No mesmo ano, o STF começou a julgar um pedido da defesa de Lula para que Sergio Moro fosse considerado parcial e as condenações fossem anuladas.

Meses depois, em 2019, foram divulgadas as mensagens roubadas da Lava Jato, com o objetivo de provar que os procuradores da operação e o juiz Sergio Moro foram parciais.

A juíza Gabriela Hardt, que assumiu o lugar de Moro na 13ª Vara de Curitiba, condenou Lula por 12 anos e 11 meses no caso do sítio de Atibaia.

Ainda em 2019, o STF mudou seu entendiento sobre a prisão após condeanção em 2ª instância, permitindo que Lula fosse solto.

Em fevereiro de 2021, o STF federal concedeu acesso à defesa de Lula às mensagens. Em março, Fachin anulou todas as condenações de Lula, por entender que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era competente para julgar o caso. Lula se tornou elegível outra vez.

O plenário da Corte confirmou a decisão em abril, por 8 votos a 3. A suspeição de Sergio Moro também foi confirmada.

Histórico Político, Carreira e Fatos Históricos

• 1945 – Nasce Luiz Inácio Lula da Silva, em Garanhuns, Pernambuco, filho de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo.
• 1952 – Eurídice, a mãe de Lula, decide migrar para Santos, litoral de São Paulo, com seus 8 filhos para reencontrar Aristides, pai de Lula, que havia se mudado para a cidade para tentar a vida como estivador. Lá, ele havia formado outra família com a prima de Eurídice.
• 1956 – Lula mora com o pai e sua segunda família até 1956 e depois se muda para São Paulo com seu irmão José Ferreira de Melo, o Frei Chico. Desde os 7 anos, Lula trabalhou para ajudar a família. Em São Paulo, atuou como engraxate, pintor e auxiliar de escritório.
• 1959 – Lula começa a atuar em uma siderúrgica que produzia parafusos.
• 1964 –  Lula esmaga o dedo em um torno mecânico e ganha uma indenização de 350 mil cruzeiros.
• 1966 – Depois de passar quase um ano desempregado, Lula é contratado pelas Indústrias Villares, uma grande empresa metalúrgica de São Bernardo do Campo.
• 1968 –  Lula se filia ao Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema.
• 1969 – O operário é eleito para a diretoria do sindicato dos metalúrgicos como suplente.
• 1972 – Lula é eleito 1º secretário do sindicato e consegue se livrar de suas atividades operárias para atuar apenas como sindicalista.
• 1974 – O metalúrgico se casa com Marísia Letícia.
• 1975 – Lula é eleito presidente do sindicato. Nasce o primeiro filho de Lula com Marisa, Fábio Luís, o Lulinha.
• 1977 –  Ganha projeção nacional ao liderar uma greve pela reposição de salários.
• 1978 – Morre Aristides, o pai de Lula, e é enterrado como indigente. A família só fica sabendo dias depois do enterro.
• 1979 –  Nasce o segundo filho de Lula com Marisa, Sandro Luis.
• 1980 – Lula participa da fundação do Partido dos Trabalhadores, o PT. Ele é o primeiro presidente do partido. Lula é preso durante uma greve e fica detido por cerca de um mês. 
• 1981 – O sindicalista é condenado a 3 anos e meio por incitação à desordem coletiva pela Justiça militar, mas é recorre e é absolvido no ano seguinte.
• 1982 – Lula disputa o governo de São Paulo mas é derrotado. Lula, na época Luiz Inácio da Silva, acrescenta o apelido no nome judicialmente e passa a ser, Luiz Inácio Lula da Silva.
• 1984 – O metalúrgico participa da campanha das Diretas Já.
• 1985 – Nasce Luís Cláudio, terceiro filho de Lula e Marisa, o Luleco.
• 1986 – Lula é eleito deputado federal pelo estado de São Paulo com votação recorde.
• 1989 – Lula concorre pela primeira vez à presidência da República e é derrotado por Fernando Collor de Mello, do PRN.
• 1990 –  É fundado o Foro de São Paulo, um grupo de lideranças partidárias que teria encontros periódicos para congregar as esquerdas da América Latina.
• 1994 – Lula disputa pela segunda vez as eleições presidenciais e é derrotado novamente. Dessa vez, por Fernando Henrique Cardoso, do PSDB, no primeiro turno.
• 1998 – O sindicalista concorre pela terceira vez à presidência e de novo é vencido por Fernando Henrique no primeiro turno.
• 2002 – Lula disputa a presidência pela quarta vez e derrota José Serra, do PSDB. O metalúrgico é eleito o 35º presidente do Brasil.
• 2004 – Governo Lula cria o Bolsa Família, que viria a ser um instrumento de capilarização de influência do petista sobre os redutos mais pobres do país.
• 2005 – Vem à tona o escândalo do mensalão. Surgem suspeitas sobre o enriquecimento do filho de Lula, Lulinha, a partir do fechamento de um contrato de R$ 15 milhões de sua empresa com a Telemar, ligada ao governo.
• 2006 – Lula é reeleito presidente, com votação expressiva no nordeste.
• 2008 – Apesar da quebra da bolsa americana e do impacto na economia global, Lula mantém sua popularidade no Brasil.
• 2010 – Lula elege Dilma Rousseff como sucessora na presidência.
• 2014 – Tem início a Operação Lava Jato. Doleiro Alberto Youssef e o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa são presos. Apesar do escândalo que começava a ser desvendado, Dilma é reeleita como presidente em um segundo turno apertado contra Aécio Neves, do PSDB.
• 2015 – Marcelo Odebrecht, Otávio Azevedo, da Andrade e Gutierrez, Nestor Cerveró, José Dirceu, são presos.
• 2016 – João Santana e Mônica Moura são presos pela Lava Jato. Ministério Público denuncia Lula por lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá. Juiz da Lava Jato, Sergio Moro, autoriza abertura de inquérito para que a Polícia Federal investigasse o sítio de Lula em Atibaia. Dilma Rousseff tenta nomear Lula como ministro da Casa Civil para evitar que ele fosse preso pela Lava Jato. Ministro do STF Gilmar Mendes suspende decisão. Dilma Rousseff sofre impeachment por crime de responsabilidade fiscal. Temer assume a presidência.  Antônio Palocci é preso. Eduardo Cunha é preso.
• 2017 – Morre Marisa Letícia, a mulher de Lula. Então juiz Sergio Moro condena Lula a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá.
• 2018 – Lula é condenado em 2ª instância por unanimidade no TRF-4 e desembargadores aumentam a pena para 12 anos e 1 mês de prisão. Delação de Palocci é divulgada. Lula é preso pela Lava Jato. Haddad se torna o candidato do PT à presidência da República. Rejeição ao partido faz com que Jair Bolsonaro, pelo PSL, seja eleito presidente da República. STF começa a julgar pedido de suspeição de Sergio Moro no processo em que condenou Lula. Gilmar Mendes pede vista.
• 2019 – Mensagens roubadas da Lava Jato são divulgadas pela imprensa, como uma tentativa de comprovar a parcialidade dos procuradores e do ex-juiz Sergio Moro. Então juíza da Lava Jato, Gabriel Hardt, condena Lula a 12 anos e 11 meses por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do sítio de Atibaia. STF muda entendimento sobre prisão após condenação em 2ª instância e Lula é solto.
• 2021 – STF garante acesso de Lula a mensagens roubadas da Lava Jato. Relator da operação no STF, Luiz Edson Fachin, determina a anulação de todas as condenações de Lula na Lava Jato, alegando que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era competente para julgá-lo.