Campanha da Fraternidade causa desconforto e intensifica racha ideológico na Igreja
Neste ano, a Campanha da Fraternidade, organizada pela CNBB, tem provocado em religiosos e fiéis católicos, moderados e conservadores, desconforto maior que o normal e escancarado um racha político-ideológico que vem se intensificando...
Neste ano, a Campanha da Fraternidade, organizada pela CNBB, tem provocado em religiosos e fiéis católicos, moderados e conservadores, desconforto maior que o normal e escancarado um racha político-ideológico que vem se intensificando.
Primeiro, é preciso entender o que são a CNBB e a Campanha da Fraternidade. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), ao contrário do que se pode pensar leigamente, não é “a voz da Igreja”. A CNBB é uma entidade de bispos que, claro, tem um peso no que diz respeito à representatividade, mas não é responsável pelas diretrizes doutrinárias do catolicismo, por exemplo, tarefa exclusiva do papa, representado nos países pelas Nunciaturas Apostólicas.
A Campanha da Fraternidade começou em 1962, propondo um tema e um lema a serem discutidos nas igrejas brasileiras durante a Quaresma, período entre a Quarta-feira de Cinzas e a Semana Santa. A cada cinco anos, a campanha é ecumênica, sendo organizada pelo Conselho Nacional de Igrejas Cristãs do Brasil (Conic).
Neste ano, com o tema “Fraternidade e diálogo: compromisso de amor” e o lema “Cristo é a nossa paz: do que era dividido fez uma unidade”, o escopo da campanha foi liderado pela pastora evangélica Romi Bencke, uma conhecida militante da esquerda. O texto-base da campanha traz questões associadas ao feminismo, aos direitos LGBT e esbarra no polêmico debate da ideologia de gênero. É claro que a ala ultraconservadora da Igreja Católica não gostou.
“Mas os moderados também estranharam. O texto traz expressões e uma linguagem como um todo que não são comumente usadas em documentos da Igreja. A avaliação foi de que, desta vez, a CNBB ‘foi longe demais'”, disse a O Antagonista um religioso com trânsito na CNBB.
Historicamente, a CNBB tem um viés progressista, tendo contribuído, inclusive, para o fortalecimento do petismo no Brasil e para a ascensão de Lula ao poder. Não custa lembrar que, em 2018, por exemplo, a entidade abriu as portas para Fernando Haddad, então candidato do PT ao Planalto.
Em 2019, dom Walmor Oliveira de Azevedo, considerado moderado, assumiu a CNBB com a missão de apaziguar os ânimos internos e dar à entidade uma aura mais imparcial no debate público. A Campanha da Fraternidade deste ano aumenta o seu desafio.
No último dia 8, o arcebispo militar do Brasil, dom Fernando Guimarães, teve a reação mais dura à campanha de 2021. Ele enviou um ofício à cúpula da CNBB dizendo que o Ordinariado Militar do Brasil, durante a Quaresma deste ano, não utilizará “quaisquer dos materiais produzidos oficialmente para a Campanha da Fraternidade”.
“Nossos capelães militares estão sendo orientados, caso desejem abordar o tema, a utilizar unicamente a [carta encíclica] Fratelli tutti, do papa Francisco”, diz trecho do texto ao qual O Antagonista teve acesso.
No dia seguinte, a CNBB se viu obrigada a divulgar uma nota admitindo o desconforto com a situação. A cúpula da entidade dos bispos afirmou que o texto da campanha “seguiu a estrutura de pensamento e trabalho do Conselho Nacional de Igrejas Cristãs (CONIC)” e “não se trata, portanto, de um texto ao estilo do que ocorreria caso fosse preparado apenas pela comissão da CNBB”. Os bispos acrescentaram que “a Igreja Católica tem sua doutrina estabelecida a respeito das questões de gênero e se mantém fiel a ela”.
A nota, porém, não foi suficiente para estancar a sangria. Em atitude inédita, o arcebispo militar avisou que as igrejas sob seu comando no Brasil, ao contrário do que ocorre todos os anos, não enviarão à CNBB o dinheiro das ofertas da missa de Domingo de Ramos.
A Quaresma deste ano será, especialmente, de deserto para a Igreja.
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