Cientistas descobrem ritmo circadiano em uma superbactéria que pode otimizar série de tratamentos
Acinetobacter baumannii é uma das principais “superbactérias” responsáveis por infecções hospitalares difíceis de tratar, devido à ampla resistência a antibióticos.
Acinetobacter baumannii é uma das principais “superbactérias” responsáveis por infecções hospitalares difíceis de tratar, devido à ampla resistência a antibióticos.
Pesquisas recentes mostram que esse microrganismo possui um relógio biológico próprio, com ritmos circadianos de cerca de 24 horas que influenciam sua forma de causar doença e responder a terapias.
O que é o relógio biológico de Acinetobacter baumannii
O relógio biológico de Acinetobacter baumannii é um sistema interno que coordena expressão gênica, metabolismo e resposta a estímulos externos, organizando sua atividade ao longo do dia.
Um gene central nesse processo é o blsA, sensível à luz azul, cuja atividade oscila em ciclos próximos de 24 horas, mesmo em ambiente de escuridão constante.
Para demonstrar esse ritmo endógeno, cientistas inseriram um marcador luminoso acionado pelo promotor de blsA, permitindo acompanhar quando o sistema se “acendia” ou “apagava” ao longo do tempo.
O padrão obtido confirmou um ritmo circadiano próprio, e não apenas uma resposta imediata às condições ambientais externas.
Como o ritmo circadiano influencia a resistência a antibióticos
A existência de um relógio circadiano em A. baumannii sugere que processos como virulência, sobrevivência em superfícies hospitalares e tolerância a fármacos variam conforme o horário.
Assim, a bactéria não se comporta da mesma forma de manhã, à tarde ou à noite, o que pode impactar diretamente a eficácia dos tratamentos.
Essas flutuações temporais abrem espaço para a cronoterapia antimicrobiana, em que o horário de administração de antibióticos é ajustado para explorar momentos de maior vulnerabilidade bacteriana.
Também se investiga como esses ritmos interagem com o relógio biológico humano, que regula a resposta imune do hospedeiro.
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CONICET revela lo que no sabíamos de Acinetobacter baumanniihttps://t.co/hIiTnRtTqA pic.twitter.com/QeEP9NtqzC
— Vet Comunicaciones (@VetComunicacion) December 29, 2025
De que forma a luz azul modula o comportamento da superbactéria
A luz azul atua como um forte zeitgeber, isto é, um sinal externo que ajusta o relógio interno de A. baumannii.
Em ciclos de 12 horas de luz azul e 12 horas de escuridão, o gene blsA sincroniza sua atividade com o padrão de iluminação, demonstrando a importância da luz na organização temporal da bactéria.
Quando o gene blsA é removido, a bactéria perde a capacidade de alinhar seu ritmo à luz, embora o ciclo interno de cerca de 24 horas permaneça.
Isso mostra que há um mecanismo endógeno de marcação do tempo, enquanto blsA atua principalmente como sensor que ajusta esse relógio às condições ambientais.
Quais são as principais aplicações clínicas desse conhecimento
Reconhecer que A. baumannii possui um relógio biológico traz implicações diretas para o controle de infecções hospitalares e para a microbiologia clínica.
A integração entre ritmos bacterianos, ritmos humanos e propriedades dos fármacos pode orientar estratégias terapêuticas mais precisas.
Entre as aplicações em estudo, destacam-se possíveis ajustes em práticas clínicas e no desenvolvimento de novas abordagens terapêuticas:
- Ajustar horários de administração de antibióticos para fases de maior susceptibilidade da bactéria;
- Planejar protocolos de higienização e isolamento considerando períodos de maior persistência ambiental;
- Desenvolver fármacos que interfiram em componentes do relógio bacteriano, como o sistema associado a blsA;
- Explorar a sincronização entre ritmos do patógeno e do hospedeiro para otimizar respostas clínicas.
Como o relógio biológico redefine a dinâmica das infecções
Ao introduzir a dimensão temporal na fisiologia bacteriana, o relógio de A. baumannii mostra que esse patógeno organiza suas funções em ciclos, em vez de apresentar um comportamento estático.
Essa perspectiva ajuda a entender melhor como infecções começam, progridem e respondem a intervenções ao longo do dia.
O aprofundamento nesse campo pode ampliar o repertório de ferramentas contra a resistência antimicrobiana, permitindo estratégias mais individualizadas e baseadas em evidências.
Considerar ritmos circadianos bacterianos e humanos tende a tornar o combate a infecções por A. baumannii mais eficiente e direcionado.
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