Roberto Jefferson e a bomba de efeito moral
Roberto Jefferson quase implodiu o governo do PT em 2005, ao delatar o esquema de compra de votos que ficaria conhecido por mensalão. Hoje, o ex-deputado atirou contra policiais federais que tentavam cumprir mandado de prisão expedido por Alexandre de Moraes. O efeito da ação criminosa de 'Bob Jeff' na reeleição de Jair Bolsonaro será conhecido daqui a uma semana...
Roberto Jefferson quase implodiu o governo do PT em 2005, ao delatar o esquema de compra de votos que ficaria conhecido por mensalão. Hoje, o ex-deputado atirou contra policiais federais que tentavam cumprir mandado de prisão expedido por Alexandre de Moraes. O efeito da ação criminosa de ‘Bob Jeff’ na reeleição de Jair Bolsonaro será conhecido daqui a uma semana.
Ciente da repercussão negativa, o presidente buscou se distanciar do ex-aliado logo nas primeiras horas. Numa live da campanha, chegou a dizer que nunca havia tirado foto com Jefferson, mas a mentira foi facilmente desmontada pelo Google. Bolsonaro então gravou um vídeo chamando-o de ‘bandido’ e, há pouco, desmentiu qualquer participação do ex-parlamentar em sua campanha.
Para provar que não mantém vínculos com Jefferson, lembrou que foi alvo de uma notícia-crime, em setembro, na qual o presidente de honra do PTB o acusou de prevaricação ‘por não ter autorizado o uso das Forças Armadas contra o Supremo’. Como sempre apoiou o trabalho da polícia, Bolsonaro está à vontade para chutar Jefferson, que aparenta sinais de senilidade e loucura.
O ex-deputado, de fato, nunca teve espaço no governo, mas foi acolhido com entusiasmo pela ala ideológica do bolsonarismo — que nunca foi censurada pelo presidente da República. Até poucas horas atrás, seus integrantes ainda usavam a aparente loucura de Jefferson para engajar a militância contra o TSE, disseminando vídeo de sexta-feira em que o ex-deputado chamou Cármen Lúcia de ‘prostituta’, por ter votado a favor da censura de canais que defendem a reeleição do presidente.
Jefferson deve a essa mesma turma sua reabilitação política, após o ostracismo dos tempos de cadeia pelos crimes do mensalão e da depressão que vivenciou por causa do longo tratamento contra o câncer. Há dois anos, durante entrevista ao programa Gabinete de Crise, ele próprio me confidenciou ser profundamente grato ao bolsonarismo, entoando um discurso messiânico (e malcriado) antiestablishment.
Disse compartilhar da mesmas “convicções cristãs e democráticas de Bolsonaro” e que seu sonho era filiá-lo ao PTB. Em vídeo, gravado hoje após ter lançado granadas de efeito moral contra a viatura da PF, Jefferson convocou apoiadores de Bolsonaro a pegarem em armas para lutar contra a “opressão do STF” e “colocar de pé novamente a cruz de Cristo”.
Misturar política e religião nunca deu certo. Emprestar apoio a quem tem um parafuso a menos também não. Para evitar novos episódios de violência, é preciso acabar com a idolatria. Como escreveu Luiz Felipe Pondé, “pessoas que se julgam salvadoras do mundo são basicamente de dois tipos: autoritárias ou infantis”. Evite armá-las ou elegê-las.
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