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Não existe motivo para nascer como vassalo de Putin

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Mario Sabino
5 minutos de leitura 09.03.2022 13:29 comentários
Opinião

Não existe motivo para nascer como vassalo de Putin

Há quinze dias, o ditador Vladimir Putin (foto) conclamava o exército ucraniano a dar um golpe, para depor o presidente Volodymyr Zelensky. Ele também afirmava que o país vizinho simplesmente não existia como nação. Que era uma invenção desastrada do camarada Vladimir Lenin. Hoje, o Kremlin já diz que os seus objetivos "não incluem nem a ocupação da Ucrânia, nem a destruicão do seu estado, nem a derrubada do governo atual". Quer apenas, e coloquemos muitas aspas nesse advérbio, que a Crimeia seja reconhecida como parte da Rússia e que as separatistas Donetsk e Luhansk sejam consideradas independentes. A palavra de Vladimir Putin vale tanto quanto uma garrafa de vodca vazia...

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Mario Sabino
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Não existe motivo para nascer como vassalo de Putin
Divulgação/Kremlin

Há quinze dias, o ditador Vladimir Putin conclamava o exército ucraniano a dar um golpe, para depor o presidente Volodymyr Zelensky. Ele também afirmava que o país vizinho simplesmente não existia como nação. Que era uma invenção desastrada do camarada Vladimir Lenin. Hoje, o Kremlin já diz que os seus objetivos não incluem nem a ocupação da Ucrânia, nem a destruicão do seu estado, nem a derrubada do governo atual”. Quer apenas, e coloquemos muitas aspas nesse advérbio, que a Crimeia seja reconhecida como parte da Rússia e que as separatistas Donetsk e Luhansk sejam consideradas independentes. A palavra de Vladimir Putin vale tanto quanto uma garrafa de vodca vazia, mas a mudança de discurso deixa claro que a invasão da Ucrânia não está sendo aquele passeio imaginado por Vladimir Putin.

Até o momento, o exército russo tomou, de fato, uma única grande cidade ucraniana, Kherson. E os invasores vêm enfrentando lá protestos da população, que não tem medo de se manifestar contra a agressão que o país sofre da parte de Moscou. No restante da Ucrânia, a resistência militar ucraniana é forte, apesar da precariedade de meios, e ela conta com o apoio ativo de milhares de cidadãos. Basta ver o que ocorre em Kiev, a capital, que está repleta de barricadas construídas por civis. O avanço da coluna de blindados russos é vagaroso e, desse modo, ela vem se mostrando uma presa fácil para o exército da Ucrânia. Ontem, o Pentágono estimou que de 2 mil a 4 mil soldados das forças invasoras foram mortos. Uma enormidade. Para se ter um ideia, no atoleiro do Afeganistão, morreram 15 mil soldados de Moscou, em dez anos de guerra. Além disso, de acordo com o governo da Ucrânia, mais de 20 mil estrangeiros, de 52 países, devem se juntar às suas tropas regulares, para defender o país.

No intuito de abalar o moral dos ucranianos, o exército russo comete seguidamente crimes de guerra, bombardeando casas, hospitais, escolas e edifícios administrativos e pilhando o comércio em zonas nas quais consegue entrar. Em Mariupol, a população continua cercada, com Moscou anunciando a abertura de “corredores humanitários” que, na verdade, são verdadeiras armadilhas, da mesma forma que ocorreu em Alepo, na Síria. Hoje, um hospital pediátrico foi bombardeado. A iniquidade é tamanha que até cidadãos pró-Rússia, aqueles que seriam defendidos do “nazismo” de Kiev, mudaram de posição e já não aprovam a invasão. Ou seja, a cada crime perpetrado, mais a moral dos ucranianos aumenta.

A Ucrânia é uma democracia onde a vontade popular é respeitada, dentro dos limites de uma Constituição moderna e que garante os direitos das minorias. A Rússia está se tornando cada vez mais uma prisão cujo diretor comete toda sorte de abusos. Há desrespeito a minorias, repressão à liberdade de manifestação, censura à imprensa e prisão e assassinato de adversários de Vladimir Putin, escolhidos a dedos para servir de exemplo. Em 2020, a Constituição foi reformada para atender única e exclusivamente às conveniências do ditador cínico. A contagem de mandatos presidenciais foi zerada, para permitir que ele permanecesse no cargo até 2036. Como se não bastasse, um novo artigo lhe garante imunidade eterna, assim como o cargo de senador vitalício, quando e se sair do poder. A estrovenga foi aprovada num referendo fajuto, sem nenhum controle externo para fiscalizar os locais de votação, que incluíam barracas de quermesse e casas lotéricas.

Em termos de liberdade política, portanto, Vladimir Putin não tem nada a oferecer aos russos e muito menos aos ucranianos ou qualquer outro povo que queira conquistar. Do ponto de vista econômico, a “grande Rússia” glorificada pelo ditador cínico é um fracasso. A compilação feita pela jornalista Isabelle Mandraud e o cientista político Julien Théron impressiona. Se for mantido o ritmo atual de exploração de gás e petróleo, principal fonte de financiamento do estado, as reservas conhecidas se esgotarão em pouco mais de 20 anos, até 2044. A renda per capita é menos de um terço da média dos países da União Europeia. O índice de desenvolvimento humano é inferior ao de 31 países europeus, incluindo ex-integrantes da União Soviética, império que Vladimir Putin quer reconstituir. Entre 180 países, a Rússia é o 137º com o maior índice de percepção de corrupção, atrás do Mali. A expectativa de vida, em 2019, era de 72,4 anos, praticamente 10 menos do que a média da União Europeia, o que colocava a Rússia entre Líbia e Bangladesh. A vice-primeira-ministra russa, Tatiana Golikova, um dos capachos de Vladimir Putin, disse há três anos que a diminuição da população do país era “catastrófica”. Ela poderá passar de 145 milhões de pessoas para menos de 100 milhões, no final deste século, se não houver mudança no padrão demográfico.

Não existe motivo nenhum para alguém nascer como vassalo de Vladimir Putin, seja ele russo ou não. E, vítimas de uma agressão brutal, os ucranianos estão dispostos a deixar o ditador cínico completamente despido das ilusões que quer vender ao mundo. Como a de que vale a pena, igualmente, morrer por ele.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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