Lula nunca surpreende
Lula ressurgiu nesta sexta-feira (20), depois de dias recolhido por causa de uma operação no quadril, para lamentar a "luta insana entre o Hamas e o Estado de Israel". Ele estava exaltado. Juntou as mãos e ergueu a voz para denunciar a morte de crianças em Gaza – mil e quinhentas, segundo disse. "Não é possível tanta irracionalidade", exclamou o presidente...
Lula ressurgiu nesta sexta-feira (20), depois de dias recolhido por causa de uma operação no quadril, para lamentar a “luta insana entre o Hamas e o Estado de Israel”. Ele estava exaltado. Juntou as mãos e ergueu a voz para denunciar a morte de crianças em Gaza – mil e quinhentas, segundo disse. “Não é possível tanta irracionalidade”, exclamou o presidente.
E lá vou eu reclamar de Lula mais uma vez. Mas reclamar do quê? As guerras não são mesmo insanas? A morte de mil e quinhentas crianças não é mesmo uma tragédia inominável?
O problema é que a fala de Lula não é o lamento de um homem qualquer, mas a fala de um ator político, construída com informações duvidosas e com um propósito propagandístico.
A informação duvidosa é a das mil e quinhentas crianças mortas. Como todos os números apresentados até hoje sobre vítimas na faixa de Gaza, esse veio do Hamas, que deu início ao banho de sangue, e não tem confirmação independente. O presidente da República não deveria jogá-lo ao vento.
O propósito propagandístico é vender Lula como um líder moralmente superior aos brucutus que submetem mulheres e crianças ao horror. Um sujeito, assim, muito humano. Um baita de um candidato ao Nobel da Paz.
Faça-me o favor. A diplomacia de Lula não é alimentada por altos princípios e emoções puras. É tão movida por cálculos e interesses quanto a de outros países.
À frente do Conselho de Segurança da ONU momentaneamente, a diplomacia brasileira, obviamente orientada pelo Planalto, abraçou a oportunidade e procurou costurar uma resolução que permitisse a entrada de ajuda humanitária em Gaza. Até aí, tudo ótimo.
Mas, como informou o Estadão – e O Antagonista também registrou – antes da votação da proposta na ONU, na quarta-feira (18), Lula já sabia que os Estados Unidos desejavam que a decisão fosse adiada e vetariam o texto caso isso não acontecesse. Naquele mesmo momento o presidente americano Joe Biden estava em Israel, reunido com o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, e havia outros oficiais graduados de seu governo negociando na região.
Lula poderia ter aceitado o pedido da diplomacia americana, mas preferiu orientar o embaixador do Brasil na ONU a prosseguir com a sessão. O resultado é conhecido. A resolução foi vetada. E o presidente brasileiro com certeza estaria denunciando a crueldade americana neste momento, não fosse o fato de que instantes depois Joe Biden anunciou que Netanyahu havia sido convencido a permitir a entrada de alimentos, medicamentos e combustíveis pelo sul de Gaza. Lula ficou sem o prêmio.
Lula se mostrou como sempre nesse episódio: imbuído de preconceitos antiamericanos e da ambição pueril de se sobrepor à “potência imperial”.
Contrapor-se à Rússia, por outro lado, não lhe passa pela cabeça. Mas vem do país de Putin a iniciativa de revogar o tratado que bane a realização de testes nucleares. E sobre as mortes causadas na Ucrânia pelo exército russo há, sim, números autenticados por um organismo internacional: já eram mais de 9.500 em 10 de setembro, segundo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos.
É por isso que eu reclamo de Lula – e que ninguém mais o leva a sério, como disse o diretor executivo da UN Watch, Hillel Neuer, em entrevista a Crusoé nesta semana.
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