Josias Teófilo na Crusoé: Duas faces do Brasil
Tenho viajado pelo país por razões profissionais e, por isso, me chama atenção o contraste entre o Sul e o Nordeste do Brasil
Tenho viajado pelo país por razões profissionais e me chama atenção o contraste entre o Sul e o Nordeste do Brasil.
Os estados do Sul do país são mais desenvolvidos, as cidades são mais organizadas, mais limpas, existe uma diferença menor entre o campo e a cidade – as cidades do Nordeste são altamente concentradas, e o campo mais subdesenvolvido.
Tudo isso tem razões que remontam à colonização das respectivas regiões. O Sul teve a ocupação muito marcada pela imigração mais recente, as comunidades de imigrantes eram praticamente autônomas.
Diz Antonio Risério no livro A Cidade no Brasil: “Se havia famílias que não saíam de suas propriedades rurais, mais raramente ainda as pessoas se dirigiam ao centro de Curitiba — e nunca ou quase nunca iam a uma colônia etnicamente distinta da sua. A vida social de um grupo de imigrantes de determinada origem étnica se passava, em sua quase totalidade, no interior desse mesmo grupo.”
Já o Nordeste foi muito marcado pelo resultado da monocultura do açúcar, onde primeiro desenvolveu-se o Brasil. “O perfil do Nordeste é o perfil de uma paisagem enobrecida pela capela, pelo cruzeiro, pela casa-grande, pelo cavalo de raça, pelo barco a vela, pela palmeira-imperial, mas deformada, ao mesmo tempo, pela monocultura latifundiária e escravocrática; esterilizada por ela em algumas de suas fontes de vida e de alimentação mais valiosa e mais puras; devastada em suas matas; degradada em suas águas”, diz Gilberto Freyre no livro Nordeste.
Um dos efeitos colaterais da monocultura foi a seca que levou a uma migração para as capitais do próprio Nordeste (o que aumentou a concentração urbana) e para outras regiões do país.
Outra característica que ficou muito marcada no Nordeste é o desprezo pelo trabalho manual. Essa é uma herança da escravidão, que desenvolveu-se especialmente no Nordeste, nos engenhos de cana-de-açúcar. Já nos estados do Sul, com a imigração mais recente vindo de países onde o trabalho manual é muito valorizado (como a Alemanha), essa característica parece não ter prevalecido.
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