Foi você que soltou Lula, Flávio
Flávio Bolsonaro, o senador das rachadinhas, publicou hoje um artigo na Folha que deveria fazer corá-lo de vergonha, tivesse ele um grama desse sentimento que, ao fim e ao cabo, é homenagem ao outro e a si próprio. O artigo intitula-se, simplesmente, Moro soltou Lula. Já pelo título seria dispensável lê-lo, porque está claro qual é, digamos, a tese: a de que o ex-juiz da Lava Jato descumpriu a lei nos processos do chefão petista que julgou e, assim, levou o STF a declarar a sua suspeição e anular as condenações...
Flávio Bolsonaro (foto), o senador das rachadinhas, publicou hoje um artigo na Folha que deveria fazer corá-lo de vergonha, tivesse ele um grama desse sentimento que, ao fim e ao cabo, é homenagem ao outro e a si próprio. O artigo intitula-se, simplesmente, Moro soltou Lula. Já pelo título seria dispensável lê-lo, porque está claro qual é, digamos, a tese: a de que o ex-juiz da Lava Jato descumpriu a lei nos processos do chefão petista que julgou e, assim, levou o STF a declarar a sua suspeição e anular as condenações. No país do se colar, colou, porém, é bom ser didático.
Diz o senador das rachadinhas:
“Lula foi condenado, com provas, em primeira e segunda instâncias, no Superior Tribunal de Justiça e no Supremo Tribunal Federal. Era só Moro ter cumprido a lei que a Suprema Corte não seria obrigada a reconhecer seus abusos de autoridade e suas combinações nefastas e ilegais com integrantes do Ministério Público Federal e do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras), que levaram à anulação dos processos em que julgou Lula.”
A marotice dessa frase é de um primarismo que eu diria miliciano: elimina a lógica para cancelar o CPF do adversário. Quem era a primeira instância que condenou Lula com provas e cuja decisão foi confirmada pela segunda instância e os tribunais superiores? Sergio Moro. Mas o senador das rachadinhas omite comicamente o nome do ex-juiz, para citá-lo logo na sequência, quando compra (e vende) de maneira oportunista a historieta de que Sergio Moro cometeu ilegalidades, juntamente com integrantes do Ministério Público e do Coaf, a fim de despachar Lula para a cadeia — supostas ilegalidades que, houvesse alguma lógica pelo menos interna no artigo, deveriam fazer com que Flávio afirmasse que Lula se viu condenado sem provas legais. A historieta comprada pelo senador das rachadinhas foi baseada em mensagens roubadas por hackers, não periciadas e submetidas a interpretações de texto bastante convenientes para o chefão petista. Mas isso os Bolsonaro não mostram mais. Mudaram de ideia depois que Sergio Moro saiu do governo, denunciando a interferência política na Polícia Federal exigida por Jair Bolsonaro, para livrar de apuros, ora vejam só, o senador das rachadinhas, principalmente. Aliás, a referência ao Coaf no artigo dá uma bandeira danada. Como o órgão produziu relatórios sobre as estranhezas financeiras de Flávio Bolsonaro, ele aproveita para vingar-se.
Não precisava, Flávio. Em novembro último, a Segunda Turma do STF, a mesma que livrou a cara de Lula, jogou fora todo o trabalho que o Coaf e o Ministério Público fizeram sobre a sua movimentada vida bancária, sob a justificativa de que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras não pode produzir, a pedido de procuradores ou policiais, relatórios de inteligência financeira contra um suspeito que ainda não foi incluído formalmente em procedimento investigatório — o que é curiosíssimo, uma vez que, para um cidadão ser incluído formalmente em procedimento investigatório, é preciso que haja indícios concretos que apontam para o cometimento de um crime. Mas, no Brasil, há cidadãos e cidadãos. E, entre os de primeira classe, figuram Lula e Flávio Bolsonaro, ambos gozando das benesses oferecidas pela defesa intransigente do Estado de Dinheiro.
Ao contrário do que diz o senador das rachadinhas no artigo assinado por ele, não foi Sergio Moro que acabou com a Lava Jato. Ele contava com provas válidas, obtidas legalmente, como reconhece Flávio Bolsonaro, que depois se desmente no seu primarismo de quem elimina a lógica para cancelar o CPF do adversário. Quem acabou com a Lava Jato foi o petismo aliado ao bolsonarismo, com a participação especial do tucanismo — que viu nas ameaças de Jair Bolsonaro contra o STF um ótimo pretexto para recolocar no jogo o chefão petista e quase todo mundo da política pego pela operação. O bolsopetismo soltou Lula e o bolsopetismo poderá eleger Lula. Para resumir, foi você que soltou o chefão petista, Flávio, e tudo começou antes de o seu pai ser empossado, quando vieram à tona os rolos em que você se meteu.
Leia aqui a entrevista que Flávio Bolsonaro deu à Crusoé neste mês
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