Crusoé: “Liberdade de expressão deve valer até para os cretinos”
O caso do geneticista americano demitido por um post insensível sobre Israel mostra que o “cancelamento” já não é praticado só pela esquerda, diz Jerônimo Teixeira na Crusoé...
O caso do geneticista americano demitido por um post insensível sobre Israel mostra que o “cancelamento” já não é praticado só pela esquerda, diz Jerônimo Teixeira na Crusoé.
“Você já perguntou a seu cardiologista o que ele pensa sobre o genocídio armênio? Deveria perguntar: vá que ele seja negacionista… E sua dentista, a gerente do seu banco, o porteiro de seu prédio – o que eles acham de Pinochet e Fidel Castro? Pode ser hora de você se mudar: o catarinense no apartamento ao lado do seu deve achar que a Horda Canarinha tinha lá suas razões para tocar o terror em Brasília no 8 de janeiro, enquanto a vizinha cearense talvez acredite que Maduro é um democrata. A senhorinha simpática cujo poodle brinca com seu vira-lata no parque talvez tenha sentimentos nostálgicos em relação à ditadura militar. Mas atenção: o jovem veterinário que ela lhe indicou tem cara ser um neostalinista que nega o Holodomor.”
“Felizmente, não chegamos ao estado de permanente vigilância ideológica que o parágrafo acima esboça. Ainda aceitamos que no consultório médico a conversa se restrinja a questões de saúde e a observações inanes sobre o calor insuportável que anda fazendo. No entanto, vem sendo erodido o acordo social tácito que antigamente nos preservava de opiniões estupidamente monstruosas ou monstruosamente estúpidas mantidas por pessoas com quem nossa convivência é ocasional. Pois agora não precisamos mais conviver com alguém para saber de suas posições sobre a Guerra da Ucrânia, o aborto ou o apagão da Enel em São Paulo: todo mundo sente-se obrigado a dizer o que pensa nas redes sociais.”
“Eu não dispensaria um médico, um barbeiro ou um encanador por causa do que ele publica online. Nunca me ocorreu nem sequer procurar o perfil desses profissionais nas redes. Mas muita gente já perdeu o emprego e o sono por divulgar opiniões ligeiras no Facebook e no Twitter. Tornam-se vítimas do que se convencionou chamar de ‘cultura do cancelamento’.”
Leia mais aqui; assine Crusoé e apoie o jornalismo independente.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)