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Claudio Dantas
4 minutos de leitura 23.12.2022 20:28 comentários
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Corrupção estruturante

O 'Rouba, mas faz' virou verbete na Wikipedia, com devida menção ao livro de Carlos Laranjeira, responsável por historiografar a origem de expressão que se tornou tão popular no Brasil. Adhemar de Barros, Paulo Maluf e Lula são citados na enciclopédia como políticos 'estigmatizados' pelo bordão...

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Claudio Dantas
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Corrupção estruturante
Foto: Reprodução

O ‘Rouba, mas faz’ virou verbete na Wikipedia, com devida menção ao livro de Carlos Laranjeira, responsável por historiografar a origem de expressão que se tornou tão popular no Brasil. Adhemar de Barros, Paulo Maluf e Lula são citados na enciclopédia como políticos ‘estigmatizados’ pelo bordão.

Os hiperlinks da página se entrelaçam como os personagens da nossa história política.

Ao clicar em Adhemar de Barros, por exemplo, você acabará lendo sobre a VAR-Palmares — guerrilha de esquerda integrada por Dilma Rousseff –, que roubou US$ 2,5 milhões de um cofre que teria pertencido ao ex-governador de São Paulo.

Médico e empresário (fundou a Lacta, a Band e O Dia), Adhemar frequentava os clubes da elite paulistana, mas se fazia de bronco. Ligadíssimo a Getúlio Vargas, foi o primeiro líder populista em São Paulo. 

Após o golpe de 1964, aderiu ao lado vencedorDurante o regime militar, viu a empreiteira fundada por Sebastião Camargo e Sylvio Corrêa, seu cunhado, virar um gigante nacional, na rampa do nacional-desenvolvimentismo tão exaltado por Lula e o PT.

Em 2015, entrevistei para a IstoÉ o contador João Paulo dos Santos, que trabalhou na empreiteira por quatro décadas (de 1951 a 1993). Sua principal missão, disse, era distribuir ‘a comissão’ a políticos e agentes públicos — foram mais de US$ 300 milhões.

A empreiteira, que liderou obras referenciais como a barragem do Lago Paranoá em Brasília, a hidrelétrica de Itaipu e a ponte Rio-Niterói, foi investigada na Castelo de Areia e depois caiu na Lava Jato.

Ao fechar acordo de leniência para pagar R$ 1,3 bilhão, confessou prática de cartel e corrupção também na construção das linhas de metrô de São Paulo e de outros seis Estados e do Distrito Federal — durante 16 anos.

Apelidado de ‘Tatu Tênis Clube’, o cartel era formado também por Odebrecht, Andrade Gutierrez, OAS e Queiroz Galvão.

Na última quinta-feira, Lula anunciou Geraldo Alckmin como ministro da Indústria e Comércio, com poderes sobre BNDES e Apex. 

Três dias antes, Ricardo Lewandowski, do STF, encerrou ação contra o ex-governador de SP por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e suposto caixa 2 de até R$ 11,3 milhões da empreiteira Odebrecht em 2010 e 2014, quando foi eleito e reeleito para o governo do Estado.

Em agosto, uma semana antes do início oficial da campanha, a Sexta Turma do STJ já havia anulado o acordo da Camargo Corrêa e trancado ação penal, por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, contra um ex-secretário de Alckmin.

O ex-governador de São Paulo e futuro ministro tem defendido a retomada da economia via parceria público-privada — uma prática antiga, como se vê, mas que acabou ressignificada pela maior operação anticorrupção da história.

O discurso do ex-tucano tem sido ilustrado por concorridos eventos públicos com a participação de vários ex-investigados da Lava Jato, sugerindo uma rediviva da política dos campões nacionais.

Beneficiados com empréstimos subsidiados, informações privilegiadas e amplo acesso aos tomadores de decisão, os multibilionários só podem almejar o trilhão. Nessa ciranda do toma lá, dá cá, ganha o empresário amigo do lobista, amigo do político, amigo do amigo do amigo.

Ao consumidor, resta pagar a conta cada vez maior. Sem concorrência, monopólios e oligopólios ditam o preço final de cada bem ou serviço adquirido, de cada obra executada. Soma-se a isso, o custo de manter a máquina pública bem lubrificada. A história ensina que o eleitor em geral parece sempre disposto a bancar o verdadeiro ‘custo Brasil’. Chegaremos lá.

Mais que estrutural, a corrupção por aqui é estruturante.

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Claudio Dantas

Claudio Dantas é diretor-geral de Jornalismo de O Antagonista. Com mais de duas décadas cobrindo o poder, já atuou nas redações de EFE, Correio Braziliense, Folha de S. Paulo e IstoÉ. Ganhou os prêmios Esso, Embratel e Direitos Humanos. Está entre os jornalistas mais influentes do Twitter e venceu três vezes o iBest de melhor veículo de política.

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