Bolsonaro foi embora e deixou a conta para os militares Bolsonaro foi embora e deixou a conta para os militares
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Bolsonaro foi embora e deixou a conta para os militares

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Carlos Graieb
4 minutos de leitura 31.12.2022 12:00 comentários
Brasil

Bolsonaro foi embora e deixou a conta para os militares

Bolsonaro escafedeu-se nesta sexta-feira (30). A imagem de um avião da FAB levantando voo em direção à Flórida (foto), um dia antes do fim do mandato, fica sendo a última de sua espantosa presidência. A internet está cheia de lamentos da direita exaltada. Também há muita raiva e decepção. Esses dois sentimentos, no entanto, não são dirigidos exclusivamente a Bolsonaro...

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Bolsonaro foi embora e deixou a conta para os militares
A imagem final da presidência Bolsonaro: um avião rumo a Orlando. (Foto: Reprodução/CNN)

Bolsonaro escafedeu-se nesta sexta-feira (30). A imagem de um avião da FAB levantando voo em direção à Flórida (foto), um dia antes do fim do mandato, fica sendo a última de sua espantosa presidência. A internet está cheia de lamentos da direita exaltada. Também há muita raiva e decepção. Esses dois sentimentos, no entanto, não são dirigidos exclusivamente a Bolsonaro. Na verdade, para muitos, Bolsonaro é uma vítima, tanto quanto eles. O alvo da raiva e da decepção são as Forças Armadas, que não atenderam ao “pedido de socorro” de quem está acampado na frente dos quarteis, sonhando com golpes de Estado. Bolsonaro se foi  – e deixou essa conta para os militares.

Por todo o mandato, Bolsonaro plantou no imaginário de seus seguidores a ideia de que as Forças Armadas estavam prontas a interferir na democracia para impor um projeto político ao Brasil, como em 1964. O Exército de Bolsonaro – “o meu Exército”, dizia ele – garantiria que o bolsonarismo permanecesse no poder, ainda que acontecessem acidentes de percurso, como uma derrota nas urnas. Construiu-se um enredo fantástico, no qual  pilantragens jurídicas, como o poder moderador supostamente conferido às Forças Armadas pelo artigo 142 da Constitução, se articulavam com teorias da conspiração, como aquela de que foram alvo as urnas eletrônicas. Estava tudo muito bem concatenado, bastava gritar a palavra de ordem no momento certo.

Acontece que as Forças Armadas não eram de Bolsonaro e não estavam dispostas a participar de um golpe de Estado.  

Pouco antes de embarcar para os Estados Unidos, Bolsonaro fez sua live derradeira. A mensagem implícita foi que a tomada do Planalto pelos “patriotas” não vai acontecer. A grande preocupação foi convencer os seguidores, especialmente aqueles acampados em frente aos quartéis, a não se voltar contra o líder. Bolsonaro explicou que o presidente não pode tudo, que é preciso levar em conta outras forças e instituições, e coisa e tal. Ele chegou a chorar, dizendo que fez tudo que podia. E que ninguém o culpe, se o fim da história deixa a desejar.

A caixa de comentários da live e as redes sociais mostram que muita gente continua amando Bolsonaro. Uns tantos se desiludiram. E outros acham que as Forças Armadas traíram o presidente. 

Sugiro aos militares da ativa, agora chamados de traidores por terem feito a coisa certa, ou seja, ficar do lado da legalidade, que cobrem responsabilidade daqueles que instrumentalizaram a boa imagem das Forças Armadas, conquistada nas últimas três décadas, para alavancar um projeto político espúrio. Entre esses, encontram-se oficiais da reserva que se aboletaram no Planalto, como os ministros Augusto Heleno e Braga Netto, e alguns generais de Twitter, cuja contribuição para a democracia consiste na divulgação periódica de ameaças (sutis, obviamente) pelas redes sociais.

Nesta quarta-feira, 28, o instituto Datafolha divulgou uma pesquisa em que 25% dos eleitores brasileiros se identificam como bolsonaristas. Na live desta sexta, Bolsonaro, além de se esquivar de responsabilidades, também procurou levantar o ânimo dos fãs e fincar balizas para um eventual retorno político. Ele disse que o mundo não acaba com a posse de Lula: “Não tem tudo ou nada”.

As chances parecem boas, mas não se pode garantir neste momento que a cara da direita brasileira continuará sendo a do bolsonarismo. É certo que haverá direita – mas talvez com outras feições. O mais importante é impedir que Bolsonaro, ou qualquer outro político da mesma estirpe, volte a semear ambiguidades sobre o comprometimento dos militares com a normalidade democrática. 

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Carlos Graieb

Carlos Graieb é jornalista formado em Direito, editor sênior do portal O Antagonista e da revista Crusoé. Atuou em veículos como Estadão e Veja. Foi secretário de comunicação do Estado de São Paulo (2017-2018). Cursa a pós-graduação em Filosofia do Direito, da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP).

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