Alexandre Soares na Crusoé: Como é divertido o movimento woke
A primeira onda de loucura que receberam nas caras e eles ficaram completamente loucos
O que há de fascinante no movimento woke é poder ver uma grande população de pessoas normais serem atingidas por uma grande onda de loucura.
“Ah, não são pessoas normais. São pessoas de cabelo azul, piercings no nariz, tatuagens na cara etc.” Não, não, aí é que está, pessoa que faz objeções na minha cabeça, esses são só a minoria caricata e mais afetada — o que me impressiona são as pessoas normais que viram woke ou semiwoke. Advogados, professores, médicos, engenheiros, esse tipo de gente. Pessoas que passaram a vida inteira sendo quase doentiamente normais.
A primeira onda de loucura que receberam nas caras e eles ficaram completamente loucos. De um segundo para o outro. Não é fascinante? É como uma imensa experiência de laboratório em que você pegou de cobaias seus amigos, seus contadores, seus dentistas, suas primas, seus jornalistas preferidos, etc etc, e injetou neles uma dose extraordinária de loucura; e daí você sentou num banquinho e ficou cronometrando quanto tempo eles levaram pra ficar loucos, quais os primeiros sinais de loucura, a proporção das suas psiques que ficou louca e a proporção que continuou normal, e assim por diante
É incrível. É divertido. Não dá para desviar os olhos. É um privilégio poder testemunhar uma coisa dessas em tempo real, e eu não teria escolhido nenhuma outra época para viver.
Uma objeção possível de ser feita é a de que eles não estão, de fato, loucos. É só conveniente para eles fingir que estão loucos — por medo, por status, por lucro. E concordo, na verdade. Um ponto que é sempre pouco frisado em discussões sobre o movimento woke é o quanto é conveniente, o quanto é útil, o quanto é esperto, em um sentido objetivo, fingir adotar o wokeísmo com bastante entusiasmo e vigor. Você para de remar contra a corrente do mundo; as portas do mundo se abrem; de um minuto para o outro você agora está do lado de todas as grandes empresas, de todos os departamentos de RH, de todos os grandes jornais e canais de tevê, de todas as editoras, e de quase todos os governos do mundo civilizado. Os jovens, se não sorriem para você, pois não são muito sorridentes os jovens, param de franzir o rosto; e as mulheres também param de franzir o rosto para você, pelo menos por esse motivo. De fato é tão conveniente ser woke que às vezes suspeito que estão todos só fingindo que são wokes, e que ninguém realmente acredita nessas tolices.
Mas, ao mesmo tempo, a verdade é a seguinte: o homem é fraco, e não tem sequer a força espiritual de ser inteiramente cínico por muito tempo. Sou tão descrente de tudo que não acredito na existência de cínicos. Se você tem que fingir algo por muito tempo, essa tensão constante do medo de ser detectado como falso crente começa a cansar tanto que a sua alma vai cedendo, cedendo, e uma hora lhe diz: “Escuta, é mais fácil começar a acreditar nisso de uma vez. Começa acreditando nisto aqui, depois tenta aquilo lá…”
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