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A Quadrilha do PSDB

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Mario Sabino
5 minutos de leitura 20.07.2021 13:25 comentários
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A Quadrilha do PSDB

O único aspecto divertido da política brasileira é briga de tucano. É como um velho esquete que  nunca perde a graça. O PSDB sempre funcionou como uma espécie de Quadrilha (calma, senhores, estou falando do poema de Carlos Drummond de Andrade): Fernando Henrique Cardoso, que não amava (mas dizia que amava) José Serra, que não amava (e nunca disse que amava) Aécio Neves, que não amava (e nunca disse que amava) João Doria, que não amava (mas dizia que amava) Geraldo Alckmin, que só era amado quando era conveniente amá-lo, inclusive por Tasso Jereissati...

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A Quadrilha do PSDB
Foto: George Gianni/PSDB/via Fotos Públicas

O único aspecto divertido da política brasileira é briga de tucano. É como um velho esquete que  nunca perde a graça. O PSDB sempre funcionou como uma espécie de Quadrilha (calma, senhores, estou falando do poema de Carlos Drummond de Andrade): Fernando Henrique Cardoso, que não amava (mas dizia que amava) José Serra, que não amava (e nunca disse que amava) Aécio Neves, que não amava (e nunca disse que amava) João Doria, que não amava (mas dizia que amava) Geraldo Alckmin, que só era amado quando era conveniente amá-lo, inclusive por Tasso Jereissati. Fernando Henrique Cardoso mudou-se para a casa de Lula, José Serra foi para um spa, Geraldo Alckmin provavelmente vai para o PSD, Tasso Jereissati ficou para tio, Aécio Neves e João Doria continuam se engalfinhado, e um deles pode ter de se juntar politicamente a Eduardo Leite, que não tinha entrado na história para valer até que corajosa e calculadamente ganhou projeção ao declarar ser gay no programa Conversa com Bial, da Rede Globo.

À diferença dos seus antecessores, Aécio Neves e João Doria não são adeptos da sutilezas. Com as prévias do PSDB marcadas para 21 de novembro, o deputado mineiro não quer que o governador paulista seja candidato ao Palácio do Planalto. No fim de semana, disse que a candidatura de João Doria poderá levar o partido ao isolamento e até ao esfacelamento, e que cogitava que o PSDB não tivesse candidato próprio à presidência da República em 2022. Afirmou ainda que o adversário havia perdido a capacidade de reeleger-se governador. Em resposta sem estribeiras, João Doria pôs Joesley Batista no meio, o que é pior do que pôr a mãe:Aécio não gosta de eleição, gosta de conchavão, que foi o que ele fez com o governo Bolsonaro. Aécio não quer nenhum nome do PSDB como candidato à Presidência, ele quer é que o fundo eleitoral fique à disposição dele mesmo. Nanico é o pensamento de Aécio Neves. Nanico foi o que ele fez, após a derrota dele, ao pedir propina a um grande empresário brasileiro e estar sofrendo agora a oito processos. Tenho pena e lamento que ele ainda frequente o PSDB. Deveria ter pedido para sair”.

O furdùncio ganhou mais animação com a resposta de Aécio: “O destempero do governador de São Paulo apenas demonstra o seu despreparo para receber as críticas políticas naturais num sistema e partido democráticos. Não demorará muito e ele terá que vir a público pedir desculpas por sua leviandadeDoria nunca foi do PSDB. Apenas usou o partido para seus projetos pessoais como quer fazer mais uma vez. Ele deveria usar sua verve para explicar, por exemplo, a humilhação a que está submetendo o seu padrinho, o ex-governador Geraldo Alckmin, e para explicar o inesquecível Bolsodoria, esse sim, o único conchavo político que o PSDB fez com Bolsonaro”.

Em 2018, João Doria dava Aécio Neves como morto. Garantia a interlocutores que o deputado mineiro seria expelido do partido por causa das denúncias de recebimento de propina. Nada feito. Aécio Neves foi reabilitado com a destruição da Lava Jato e, calejado na política que é, está com parte importante do PSDB nas mãos. De fato, ele anda dizendo a parlamentares que, sem candidato a presidente, sobraria mais dinheiro do fundão para cada um. Mas ajuda bastante o fato de João Doria, apesar de todo o marketing da Coronavac, estar mal posicionado nas pesquisas e com alta taxa de rejeição.

O governador paulista queria prévias nas quais os filiados ao PSDB com e sem mandato tivessem participação idêntica. Isso facilitaria em nível nacional o, digamos, tipo de convencimento que levou a cabo nas prévias das quais saiu candidato a prefeito de São Paulo. Aécio queria que os tucanos com mandato tivessem peso maior, e levou a melhor. O jogo ficou mais suave para ele, uma vez que, entre os tucanos mandatários, ele tem mais simpatias e João Doria, mais antipatias.

Aécio Neves, contudo, não pode achar que pode fazer com João Doria o que João Doria achou que podia fazer com ele: subestimá-lo. O governador paulista cercou-se de secretários de vários estados e partidos, e não porque os acha mais competentes. Aposta também nas pressões de fora para dentro do PSDB, a fim de conquistar a sonhada candidatura ao Planalto.

Em meio a essa parte da Quadrilha, Eduardo Leite disse presente, com o seguinte tuíte:

“O PSDB não faz prévias para não ter candidato; faz para ter o melhor candidato. Não faz prévias para ser o dono da verdade, mas para construir coletivamente, desde o partido, uma alternativa a Lula e Bolsonaro. E assim será depois das prévias também com os demais partidos.” O governador do Rio Grande do Sul também afirmou que uma candidatura à presidência deve ser projeto para o país, não para atender vaidades”.

Deu uma bicada em Aécio Neves e outra em João Doria. Para tentar ser a terceira via em 2022, ele tem antes de ser a terceira via dentro do PSDB.

Tucanos são, ao menos, divertidos.

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Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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