A ocasião faz… o democrata
O apoio escancarado de ex-presidentes do Supremo à candidatura de Lula é de corar frade de pedra. Não que surpreenda o fato de Joaquim Barbosa, relator do mensalão, ter decidido colaborar com a campanha eleitoral do petista, tendo ele mesmo sido filiado ao PSB, uma das linhas auxiliares do PT...
O apoio escancarado de ex-presidentes do Supremo à candidatura de Lula é de corar frade de pedra. Não que surpreenda o fato de Joaquim Barbosa, relator do mensalão, ter decidido colaborar com a campanha eleitoral do petista, tendo ele mesmo sido filiado ao PSB, uma das linhas auxiliares do PT —Barbosa, a propósito, nunca foi criticado por se aventurar politicamente após abandonar a toga precipitadamente.
O caso de Celso de Mello é mais constrangedor. Ao declarar voto em Lula no primeiro turno, o ex-decano alega que o faz em “defesa da sacralidade da Constituição e das liberdades fundamentais, em prol da dignidade da função política e do decoro no exercício do mandato presidencial”.
Pelo visto, o descondenado por comandar o maior esquema de corrupção da história virou um primor das liberdades fundamentais e da defesa da sacralidade da Constituição.
Afinal de contas, a democracia com Lula ia muito bem, obrigado, apesar de ter sido financiada com muita propina. Desviar dinheiro do trabalhador deve dignificar o homem, na visão do ministro, assim como financiar ilegalmente eleições e comprar —na base da corrupção mesmo— políticos de toda sorte e sua produção legislativa e executiva.
Só o binarismo das redes sociais, associado a um certo fatalismo estoico, é capaz de considerar Lula o avesso de Jair Bolsonaro, apontado por Celso de Mello como um “político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade, destituído de respeitabilidade política”.
Posso imaginar o que diria Saulo Ramos ao ver Carlos Velloso acompanhando Celso de Mello na defesa da eleição do petista como único remédio à “ameaça ao Estado Democrático de Direito”, espelhada na figura de Bolsonaro. O que fariam esses senhores, renomados juristas, se o presidente da República não houvesse ele mesmo dado a Lula o papel de defensor incontestável da democracia?
A verdade é que, sem as ameaças infundadas de Bolsonaro contra o sistema eleitoral e seus ataques infantis a ministros, o petista não teria assumido posição tão confortável nesta campanha, munido de um discurso pronto e de fácil assimilação pelo eleitor. Poderia até repetir incontáveis vezes suas promessas vazias de “picanha e cerveja”, mas teria de ajustar as contas com o pagador de impostos e se explicar sobre tantas evidências de roubo e apoio a ditaduras amigas.
Não haveria cartinhas democráticas da OAB, da Febraban ou de empresários corruptos que se refastelaram na era PT. Talvez até houvesse espaço político para o surgimento de algum nome limpo nas urnas. O que Vossas Excelências parecem ter esquecido é que o Estado, para ser Democrático, precisa ser de Direito.
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