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A incompetência afunda o Brasil

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Mario Sabino
3 minutos de leitura 01.02.2022 12:52 comentários
Opinião

A incompetência afunda o Brasil

Esse acidente na construção da linha 6 do metrô paulistano, que paralisou a Marginal Tietê (foto), avenida que agora tem um trecho que pode desabar, é mais uma demonstração de como a incompetência (e o seu corolário, a negligência) em áreas técnicas fundamentais, que exigem mão de obra altamente qualificada, está afundando o Brasil, com o perdão do trocadilho. O que ocorreu, de acordo com o relatado preliminarmente pelo Corpo de Bombeiros, foi um erro na escavação do local, que teria atingido o leito do rio Tietê ou uma coletora de esgoto, inundando o túnel que estava sendo aberto. A causa permanece em aberto. Levantou-se a hipótese, ainda, de que a coletora tenha se rompido por outro motivo -- mas o estado dela deveria ter sido verificado antes...

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Mario Sabino
3 minutos de leitura 01.02.2022 12:52 comentários 0
A incompetência afunda o Brasil
Reprodução/TV Globo e Reprodução/Record TV

Esse acidente na construção da linha 6 do metrô paulistano, que paralisou a Marginal Tietê (foto), avenida que agora tem um trecho que pode desabar, é mais uma demonstração de como a incompetência (e o seu corolário, a negligência) em áreas técnicas fundamentais, que exigem mão de obra altamente qualificada, está afundando o Brasil, com o perdão do trocadilho. O que ocorreu, de acordo com o relatado preliminarmente pelo Corpo de Bombeiros, foi um erro na escavação do local, que teria atingido o leito do rio Tietê ou uma coletora de esgoto, inundando o túnel que estava sendo aberto. A causa permanece em aberto. Levantou-se a hipótese, ainda, de que a coletora tenha se rompido por outro motivo — mas o estado dela deveria ter sido verificado antes, em procedimento chamado análise de risco. A escavação é feita por uma máquina imensa, conhecida pelo apelido de “tatuzão”.

Em 2007, outro erro, dessa vez na construção da linha 4, abriu uma cratera de 80 metros de diâmetro ao lado da Marginal Pinheiros. Sete pessoas morreram soterradas e 55 casas tiveram de ser evacuadas e isoladas. Eu trabalhava ao lado do local do acidente e o cenário de devastação era impressionante. Ao todo, 14 funcionários responsáveis pela obra se tornaram réus, mas ninguém foi condenado, um clássico do Brasil. Foi na construção dessa mesma linha que um erro de cálculo de 80 centímetros causou um desencontro de túneis que eram escavados a partir de duas frentes. A falha levou a que ocorresse um atraso de um mês nas obras.

O metrô de São Paulo foi inaugurado em 1972 e conta hoje com 96 quilômetros de extensão e 91 estações, enquanto o de Xangai, na China, que começou a funcionar em 1995, tem 772 quilômetros e 459 estações (é o maior do mundo). As comparações com cidades do exterior são humilhantes. No ritmo atual e com tantos contratempos, levaria um século e meio para que o sistema de trens subterrâneos paulistano alcançasse o mesmo tamanho do de Londres, o mais antigo do mundo, que começou a operar em 1863.

Não bastassem os erros de execução, há os erros de concepção. Metrôs têm de ter capilaridade. No de Paris, por exemplo, as estações (380 no total, para uma rede de 213 quilômetros, que está sendo ampliada para os Jogos Olímpicos de 2024) distam, em média, 570 metros uma da outra. Em São Paulo, como cada estação é pensada para atender a um bairro, isso obriga que a maioria das pessoas pegue obrigatoriamente uma conexão de ônibus mais à frente, para chegar ao seu destino — ou que tenha de andar muito. O absurdo se repete no Rio de Janeiro.

Está tudo errado, da concepção à execução, e eu nem vou adentrar o campo da roubalheira. Ficarei apenas na incompetência. Ela é o preço que também se paga por outra distorção: muitos dos melhores engenheiros formados no Brasil, de 20 anos para cá, preferem trabalhar no mercado financeiro. Poderiam estar calculando direito escavações de túneis de metrô, para ficar no exemplo de hoje, se a carreira fosse devidamente valorizada.

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Mario Sabino

Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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