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A degradação da linguagem rebaixa a democracia

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Mario Sabino
3 minutos de leitura 13.12.2021 16:45 comentários
Opinião

A degradação da linguagem rebaixa a democracia

Em si, o assunto é desimportante como saber quem Jair Bolsonaro segue no Tik Tok. Mas ele é sintoma de um mal nada secreto que aflige o discurso político no país: a degradação da linguagem. Eis o assunto: como noticiamos, circula uma foto nas redes sociais que mostra Jair Bolsonaro esperando um ônibus no Rio de Janeiro, naquele tipo de espera eterna a que os brasileiros de todas as grandes cidades do país estão acostumados, com a exceção, talvez, de Curitiba (não sei dizer se os ônibus ainda funcionam bem por lá). A imagem foi feita para criticar a administração do prefeito carioca Eduardo Paes...

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A degradação da linguagem rebaixa a democracia
Foto: Tânia Rêgo/Agência Brasil

Em si, o assunto é desimportante como saber quem Jair Bolsonaro segue no Tik Tok. Mas ele é sintoma de um mal nada secreto que aflige o discurso político no país: a degradação da linguagem. Eis o assunto: como noticiamos, circula uma foto nas redes sociais que mostra Jair Bolsonaro esperando um ônibus no Rio de Janeiro, naquele tipo de espera eterna a que os brasileiros de todas as grandes cidades do país estão acostumados, com a exceção, talvez, de Curitiba (não sei dizer se os ônibus ainda funcionam bem por lá). A imagem foi feita para criticar a administração do prefeito carioca Eduardo Paes.

A resposta de Eduardo Paes à provocação foi a seguinte, no Twitter: “Porra! Me diz aonde é! Vou cancelar todos os ônibus por lá!”.

Não vou comentar o erro de português, mas o palavrão. No dia-a-dia, palavrões são admissíveis para pessoas comuns em determinadas conversas privadas, em alguns locais de trabalho, a depender da situação, e em arquibancadas de jogos esportivos populares (com a exceção, agora, de palavrões discriminatórios). No Brasil, há quem faça uso deles nas redes sociais — o que deveria ser esporádico, mas é excessivo — e até em programas de rádio e televisão, nos quais eram inteiramente proibidos até pouco tempo atrás. Na arte, a utilização de palavrões tem motivação ora realista, ora emancipatória, ora satírica (como no caso do poeta Gregório de Matos Guerra, o Boca do Inferno).

Nenhuma autoridade, contudo, deveria se dar ao direito de falar ou escrever palavrões fora do âmbito estritamente particular. Palavrões e assemelhados, mesmo usados como interjeição, são ofensivos por natureza, denotam falta de modos e escassez de argumentos nas discussões. Cidadãos revestidos de autoridade não podem apelar para chulices, porque devem dar exemplo de educação e ponderação. O poder de decidir e se fazer obedecer, que lhes é conferido por mandato ou nomeação, impõe que sejam respeitados e respeitem, em vários graus acima do que já é forçoso para todo mundo. Assim, obriga-os a diferenciar-se também na linguagem — que precisa expressar igualmente a sua classificação especial. Ou sua classe. Se não o fazem, tornam-se desclassificados para a função que exercem.

Não se trata de fazer o elogio do discurso pomposo ou algo que o valha. O Brasil é um país mais informal do que a média, e esse é um dado cultural. Mas não se pode avacalhar tanto assim. O esculacho com a linguagem — e com a língua — instalou-se com Lula, como se o papel de trabalhador no poder o exigisse, e desde então o nível só fez piorar, em todas as esferas.

A degradação da linguagem rebaixa a autoridade, o ambiente político e a democracia.

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Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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