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A Beyoncé do Kremlin

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Mario Sabino
4 minutos de leitura 18.03.2022 19:08 comentários
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A Beyoncé do Kremlin

O show do tirano russo Vladimir Putin no estádio moscovita, hoje, foi uma demonstração de fraqueza, não de força. Derrotado na guerra de propaganda pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ele precisou providenciar uma comemoração farsesca dos 8 anos de anexação da Crimeia, para repetir as mesmas mentiras de que a população da península ucraniana escolheu livremente ser parte da Rússia (o plebiscito foi uma fraude) e de que o governo da Ucrânia estava praticando um genocídio na região separatista de Donbas, daí a necessidade de fazer uma "operação especial" no país vizinho (a palavra "guerra", na Rússia, não pode ser pronunciada para designar a agressão contra a Ucrânia)...

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A Beyoncé do Kremlin
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O show do tirano russo Vladimir Putin (foto) no estádio moscovita, hoje, foi uma demonstração de fraqueza, não de força. Derrotado na guerra de propaganda pelo presidente ucraniano Volodymyr Zelensky, ele precisou providenciar uma comemoração farsesca dos 8 anos de anexação da Crimeia, para repetir as mesmas mentiras de que a população da península ucraniana escolheu livremente ser parte da Rússia (o plebiscito foi uma fraude) e de que o governo da Ucrânia estava praticando um genocídio na região separatista de Donbas, daí a necessidade de fazer uma “operação especial” no país vizinho (a palavra “guerra”, na Rússia, não pode ser pronunciada para designar a agressão contra a Ucrânia).  Ele também afirmou que “nunca tivemos tanta força”, mas o seu exército está tomando uma surra dos ucranianos e, para tentar abater o moral dos bravos resistentes, a soldadesca invasora comete seguidamente crimes de guerra contra a população civil. Sem terno, gravata e vergonha, Vladimir Putin contou suas lorotas de um palco montado no estádio. É a Beyoncé do Kremlin.

Depois de assistir parte do show deprimente do tirano russo, li a conversa que uma jornalista do Financial Times, Courtney Weaver, teve com o ex-ministro de Relações Exteriores da Rússia Andrei Kozyrev, nomeado para o cargo por Boris Yeltsin, o presidente que sucedeu Mikhail Gorbachov. Ele hoje vive nos Estados Unidos, em local que pediu para não ser divulgado, por medo de sofrer um atentado a mando de Vladimir Putin. O tirano russo e os seus acólitos acham que Andrei Kozyrev é da CIA.

No cargo de ministro das Relações Exteriores, ele teve de se haver com os nacionalistas que não queriam que a Rússia fizesse reformas para integrar-se ao campo das democracias capitalistas ocidentais e também com a incompreensão da administração Bill Clinton, que achava que o fim da União Soviética já era por si só suficiente para que os russos enveredassem pelo caminho certo e fizessem as reformas necessárias. “Aqueles caras da administração George (HW) Bush eram guerreiros da Guerra Fria, sabiam o que era a União Soviética e que em dois meses não poderíamos mudar tudo. A administração Clinton achou que tudo estava garantido”, disse Andrei Kozyrev ao jornal. Resultado: Boris Yeltsin, que foi convencido por Lech Walesa a deixar a Polônia entrar na Otan durante uma noite de bebedeira, em 1993, acabou cedendo aos nacionalistas e substituiu os reformadores pró-Ocidente por gente da antiga linha dura soviética, como Vladimir Putin, que o sucedeu no Kremlin.

Andrei Kozyrev disse que regimes autoritários, como o da Rússia, “não podem se sustentar sem esses tipos de agressão formal, porque eles são instáveis no seu interior”, mas que Vladimir Putin realmente acredita nas mentiras que usou para justificar a invasão da Ucrânia. No entanto, ele acredita que o tirano russo pode recuar. “Para Biden, Johnson, os políticos ocidentais, recuar significa que você perderá a opinião pública”, afirmou. Vladimir Putin, obviamente, não tem esse problema, como completou a jornalista que conversou com o ex-ministro russo.

Ele acha que as sanções contra a Rússia podem ser efetivas, mas disse ao jornal que todo o arsenal comercial e econômico de que o Ocidente dispõe deveria ser usado imediatamente e ao mesmo tempo. “Se você luta com Putin, você deve socar o mais forte que puder no primeiro soco. Não escale, faça tudo de uma vez”, recomendou.

Soque-se com força a Beyoncé do Kremlin, para tirá-la logo do palco. O show do canastrão é mortífero e indecente.

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Mario Sabino é jornalista, escritor e sócio-fundador de O Antagonista. Escreve sobre política e cultura. Foi redator-chefe da revista Veja.

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