“Um momento decisivo para Israel, Hamas e Donald Trump”
Análise da revista britânica The Economist mostra como negociações no Egito podem encerrar a guerra em Gaza e redefinir o equilíbrio político no Oriente Médio
Na cidade turística de Sharm el-Sheikh, às margens do mar Vermelho, Egito, líderes de Israel e do Hamas participam de negociações mediadas por americanos, egípcios e cataris.
O objetivo é alcançar a libertação de reféns e um cessar-fogo que ponha fim a dois anos de guerra em Gaza, em meio à exaustão militar e à pressão política sobre Binyamin Netanyahu e Donald Trump.
O texto explica que as duas delegações não se reúnem diretamente, e que diplomatas correm entre as salas para tentar destravar o acordo.
Os negociadores do Hamas são liderados por Khalil al-Hayya, que sobreviveu a um ataque israelense em Doha no mês anterior, no qual morreram seu filho e assessores. Do outro lado está Ron Dermer, conselheiro de Netanyahu e membro do gabinete que autorizou o bombardeio.
Donald Trump lançou um plano de 20 pontos e pressionou Netanyahu a aceitar o fim da guerra.
Ele prometeu “paz eterna”, declarou que “acredita que eles estão prontos para uma PAZ duradoura” e ameaçou o Hamas com “Aniquilação completa!” caso o grupo não ceda.
O presidente enviou Jared Kushner e Steve Witkoff ao Egito para, segundo um diplomata americano, “vigiar os israelenses e forçá-los a fechar o acordo”.
O primeiro passo em debate é a troca de 48 reféns israelenses, dos quais ao menos 20 são presumidos vivos, por 1.950 prisioneiros palestinos, incluindo 250 condenados à prisão perpétua.
Segundo a publicação, “o provável compromisso é uma retirada parcial das forças israelenses e garantias verbais ou escritas” de Israel e dos Estados Unidos.
O Exército israelense, exausto após dois anos de combates, quer reduzir de cinco divisões em Gaza e desmobilizar dezenas de milhares de reservistas. Um general afirmou que “há meses todo o nosso planejamento inclui a contingência de um cessar-fogo rápido e de uma redistribuição ágil”.
Depois que o gabinete israelense aprovar a lista de prisioneiros, haverá um prazo de 24 horas para que famílias de vítimas recorram à Suprema Corte, que historicamente rejeitou esses pedidos. Cumpridos os trâmites, a libertação dos reféns poderá ser concluída.
As imagens de reféns libertados e de ajuda humanitária chegando a Gaza podem gerar euforia, mas a segunda fase é mais difícil.
O plano de Trump prevê o desarmamento do Hamas, a criação de um governo “tecnocrático” para administrar o território e o envio de uma força internacional de estabilização.
Para o Hamas, os reféns são a principal moeda de troca, e sua liderança busca garantias contra a retomada da ofensiva israelense. A revista afirma que Hayya integra um quarteto que assumiu após a morte de Yahya Sinwar há um ano e enfrenta divisões entre alas militar e política.
O grupo está dividido entre manter a identidade de “resistência” armada ou aceitar uma transição para atuação política.
Um repúdio total às negociações, segundo a publicação, representaria “um novo grau de niilismo” e poderia aumentar a dissidência e o descontentamento entre civis em Gaza.
Netanyahu também enfrenta um momento decisivo, às vésperas de uma nova eleição. Sob pressão de Trump, ele aderiu ao plano e o apresentou como vitória pessoal, afirmando à população: “De vitória em vitória, estamos mudando a face do Oriente Médio.”
A revista afirma que o aparato de segurança israelense e 72% da população apoiam o plano de Trump. Persistem, porém, riscos políticos: se o Exército se retirar da maior parte de Gaza sem desmantelar totalmente a infraestrutura do Hamas, aliados da direita populista podem abandonar o governo.
Essa ruptura forçaria eleições antecipadas antes de outubro do próximo ano. Cercado pela oposição e por antigos parceiros, Netanyahu teria mais dificuldade em sustentar o discurso de vitória, enquanto as negociações no Egito tentam, enfim, encerrar a guerra em Gaza.
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