Nos últimos tempos, a rota comercial do Mar Vermelho – um dos mais importantes corredores globais de cargas – tem sofrido com uma intensificação de ataques. Os combatentes do grupo Houthi, apoiados pelo Irã, têm direcionado seus ataques a navios a partir do final de novembro, em retaliação à guerra de Israel contra o Hamas.

A ameaça ao comércio global

Na última quinta-feira (8), a Maersk, renomada empresa de transporte marítimo, emitiu um alerta de que a interrupção da navegação pela rota do Mar Vermelho poderia se prolongar por até um ano. Esses atrasos e custos adicionais para as companhias de navegação estão causando um temor crescente de que os consumidores possam ser impactados por novos aumentos de preços.

Observou-se um “êxodo quase total” de navios cargueiros do Mar Vermelho e do vizinho Canal de Suez, segundo Richard Meade, editor-chefe da publicação marítima Lloyds List.

Desvios de rota e consequências econômicas

Em consequência, as embarcações têm buscado rotas mais longas para evitar a região em conflito. Com o Canal de Suez sendo responsável por 10 a 15% do comércio mundial e 30% dos volumes globais de transporte de contêineres, as consequências são de grande amplitude.

Peter Sand, analista-chefe da Xeneta, estima que cerca de 90% da capacidade habitual de cargueiros que passam pelo Mar Vermelho e pelo Canal de Suez foi desviada para o extremo sul da África. O desvio de rota adiciona entre 14 e 18 dias a uma viagem típica, resultando num aumento significativo nos custos operacionais das companhias de navegação.

A crise atual e a economia global

Embora a crise atual seja preocupante, analistas apontam que o impacto global nos custos de envio e nas cadeias de abastecimento é consideravelmente menos severo do que foi no auge da pandemia. Porém, já se observam consequências em alguns segmentos da indústria, como a Tesla tendo que interromper parte da sua produção devido a atrasos na entrega de peças automotivas para a Alemanha.

Possível impacto na inflação

Em paralelo, Sand acredita que muitos vendedores acabarão repassando os custos de frete mais elevados para os consumidores, especialmente aqueles com margens de lucro menores. Porém, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) informou que a inflação dos preços ao consumidor nos seus 38 países membros poderá aumentar 0,4 pontos percentuais após cerca de um ano, se os custos de frete se manterem elevados.

Com a possibilidade de uma intensificação do conflito entre Israel e o Hamas e um aumento dos preços do petróleo, o cenário de inflação pode se agravar. Assim, a crise no Mar Vermelho se evidencia como um novo fator de desestabilização econômica em um contexto global já marcado por incertezas.