Papa fala sobre guerra, homossexualidade, e inteligência artificial
O Jornal italiano La Stampa publicou uma entrevista exclusiva com o Papa Francisco. Leia trechos da entrevista realizada pelo escritor Domenico Agasso
O jornal italiano La Stampa publicou nessa segunda-feira, 29 de janeiro uma entrevista exclusiva com o papa Francisco.
A entrevista foi realizada pelo jornalista e escritor Domenico Agasso, autor dos livros Papa João XXIII, Paulo VI: o Santo da Modernidade, Santo Antônio de Pádua: por onde passa entusiasma, Conselhos de um papa amigo: Palavras do papa Francisco que ajudam a viver melhor, entre outros.
O primeiro assunto abordado foi a guerra
“Santidade, o mundo está no meio da “guerra mundial fragmentada” contra a qual você alertou anos atrás…”, iniciou o jornalista
«Não me cansarei de reiterar o meu apelo, dirigido em particular aos que têm responsabilidades políticas: parem imediatamente as bombas e os mísseis, acabem com as atitudes hostis. Em todos os lugares. A guerra é sempre e apenas uma derrota. Para todos. Os únicos que lucram são os fabricantes e traficantes de armas. É urgentemente necessário um cessar-fogo global: não estamos percebendo, ou fingindo não ver, que estamos à beira do abismo.”, respondeu o papa.
Ao ser questionado se existiria uma “guerra justa”, Francisco responde que é legítimo se defender mas é acha que é necessário ter prudência com a expressão “guerra justa”, que poderia ser explorada.
Sobre a situação entre Israel e Palestina, o papa teme a escalada militar, mas deposita esperança em algumas conversas que podem resultar em um acordo: “O conflito pode agravar ainda mais as tensões e a violência que já marcam o planeta. Mas, ao mesmo tempo, neste momento, estou cultivando um pouco de esperança, porque estão sendo realizadas reuniões confidenciais para tentar chegar a um acordo. Uma trégua já seria um bom resultado.”
Sobre os confrontos mais específico no Médio Oriente o papa afirmou: “Os cristãos e o povo de Gaza – não me refiro ao Hamas – têm direito à paz. […] E depois, a outra prioridade é sempre a libertação dos reféns israelenses.“
No que concerne à diplomacia do Vaticano no conflito na Ucrânia, Francisco diz que a Santa Sé tem trabalhado especialmente “para o repatriamento de crianças ucranianas trazidas à força para a Rússia”.
Francisco enfatizou também a importância de orarmos pela paz:
«A oração não é abstrata! […] A oração é importante! Porque prepara o caminho para a pacificação, bate à porta do coração de Deus para que ilumine e conduza o ser humano para a paz. A paz é um dom que Deus nos pode dar mesmo quando parece que a guerra prevalece inexoravelmente. É por isso que insisto em todas as ocasiões: devemos rezar pela paz”.
A igreja é para todos
Lembrando que, em Lisboa, no verão passado, na Jornada Mundial da Juventude, o papa falou com força, diante de milhões de jovens, que a Igreja é para “todos, todos todos”, o entrevistador questionou ao papa se tornar a Igreja aberta a todos seria o grande desafio do pontificado. Francisco respondeu lembrando uma parábola:
«É a chave para compreender Jesus: Cristo chama todos para dentro. Todos. Há, de fato, uma parábola: a do banquete de casamento em que ninguém aparece, e depois o rei manda os servos «para a encruzilhada e todos os que encontrares, chama-os para o casamento». O Filho de Deus quer deixar claro que não quer um grupo seleto, uma elite. Aí alguém talvez entre “contrabandeado”, mas nesse momento é Deus quem cuida dele, quem indica o caminho. Quando me perguntam: “Mas podem entrar também essas pessoas que estão em uma situação moral tão inadequada?”, garanto-lhes: “Todos, o Senhor disse isso”. Perguntas como esta surgem-me especialmente recentemente, depois de algumas das minhas decisões…”.
“Em particular a bênção dos “casais irregulares e do mesmo sexo”…”, completou Domenico Agasso
«Eles me perguntam por quê. Eu respondo: o Evangelho é para santificar a todos. Claro, desde que haja boa vontade. E é necessário dar instruções precisas sobre a vida cristã (sublinho que não é a união que é abençoada, mas o povo). Mas somos todos pecadores: por que então fazer uma lista de pecadores que podem entrar na Igreja e uma lista de pecadores que não podem estar na Igreja? Este não é o Evangelho.”, explicou Francisco.
Segundo o papa, “aqueles que protestam veementemente pertencem a pequenos grupos ideológicos”. E lembra especificamente a postura dos bispos africanos: “para eles a homossexualidade é algo ´mau´ do ponto de vista cultural, não a toleram. Mas, em geral, confio que gradualmente todos serão tranquilizados pelo espírito da declaração “Fiducia supplicans” do Dicastério para a Doutrina da Fé. Ela visa incluir, não dividir. Convida-nos a acolher e depois a confiar as pessoas e a confiar-nos a Deus”.
Sobre inteligência artificial
O papa também respondeu perguntas sobre a inteligência artificial:
«Qualquer inovação científica e tecnológica deve ter um caráter humano e permitir que o ser humano permaneça plenamente humano. Se o caráter humano for perdido, a humanidade estará perdida. Na Mensagem para o Dia Mundial das Comunicações Sociais escrevi: “Nesta época que corre o risco de ser rica em tecnologia e pobre em humanidade, a nossa reflexão só pode partir do coração humano”. A Inteligência Artificial é um grande avanço que pode resolver muitos problemas, mas potencialmente, se gerida sem ética, também pode causar muitos danos aos seres humanos. O objetivo a definir é que a Inteligência Artificial esteja sempre em harmonia com a dignidade da pessoa. Se não houver essa harmonia, será suicídio.“
Sobre o que sonha para a Igreja do porvir, Francisco respondeu:
“Sonho com uma Igreja que saiba estar próxima das pessoas na concretude, nas nuances e nas asperezas da vida quotidiana. […] A Igreja é chamada a sair de si mesma e a caminhar em direção às periferias, não só as geográficas, mas também as existenciais: os do mistério do pecado, da dor, da injustiça, os da ignorância e da ausência de fé, os do pensamento, os de toda forma de miséria”.
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