“Fim de festa para os militantes corporativos”
O escritor americano Matthew Gasda explica por que os empregos baseados em ativismo e controle de discurso estão desaparecendo nos EUA

O escritor e dramaturgo americano Matthew Gasda publicou neste sábado, 23, no UnHerd, artigo intitulado “The Millennial virtue economy is dead” (“A economia de virtude dos Millennials está morta”).
No texto, Gasda argumenta que os Millennials (nascidos entre 1981 e 1996) estão vivendo um momento de desilusão semelhante ao dos cidadãos da ex-União Soviética após o colapso do regime: as ideologias, os estilos de vida e as narrativas que sustentaram a geração na vida adulta estão se dissolvendo.
“A nossa experiência social — em que um moralismo padronizado, o pensamento politicamente correto e a linguagem própria conferiam status — está chegando ao fim”, escreve Gasda.
A base econômica da classe gerencial Millennial está sob ataque, impactada pela automação, pelo descrédito de certas ONGs e pela guinada cultural da era Trump 2.0, que resgata a valorização da família, da religião e do trabalho manual.
O fim dos “árbitros da virtude”
Gasda caracteriza a economia Millennial como uma “economia de virtude”, na qual o sucesso estava atrelado ao controle da linguagem e da percepção de marca.
“Os mais ambiciosos entre nós se tornaram os apparatchiks da economia globalizada construída pelos nossos pais”, escreve. Muitos assumiram cargos em tecnologia, educação, finanças, artes e política com a função de “arbitrar” normas culturais e morais.
Segundo Gasda, esse modelo está desmoronando. A nova configuração econômica e política tende a favorecer aqueles que nunca fizeram parte desse mundo gerencial e, em vez disso, se dedicaram a trabalhos industriais ou informais.
“Muitos americanos aguardam ansiosamente a redução de impostos que antes enchiam os bolsos da casta gerencial e o possível retorno dos empregos industriais”, afirma.
O autor sustenta que o governo de Joe Biden foi essencialmente conduzido por Millennials, marcado por “inautenticidade, burocracia, neurose, jargão e teoria”. A presidência revelou o esgotamento desse modelo gerencial, o que resultou em um “inevitável retrocesso político”.
O desgaste se reflete também no mundo do trabalho: “A linguagem estilosa, ao estilo Obama, sobre contribuir para o progresso, é um embaraço para todos, exceto para os últimos crentes”, diz Gasda.
Seu amigo Sam Venis, jornalista e consultor corporativo, confessa que perdeu qualquer ilusão sobre a importância social do trabalho gerencial e agora encara sua profissão de forma puramente transacional, enquanto foca em seu trabalho criativo.
Gasda sugere que sempre houve dois grandes grupos dentro da geração Millennial: os “boêmios hipsters” dos anos 2000, que envelheceram sem casa própria, sem família e, em muitos casos, migraram para Trump; e os “carreiristas”, que usaram seu domínio do discurso acadêmico para prosperar no meio corporativo e político.
“A casta boêmia não apenas votou em Trump, mas o fez com um profundo senso de justiça”, observa o autor. Para ele, a maior guinada para o Partido Republicano nas eleições de 2024 não veio das zonas rurais, mas dos bastiões progressistas urbanos.
O esgotamento do moralismo progressista
Gasda traça essa transformação desde a crise financeira de 2008, que destruiu as perspectivas econômicas da geração em troca da estabilidade material perdida, os Millennials foram seduzidos pela promessa de uma superioridade moral: “Talvez não teremos casas, mas teríamos doutorados”, resume o autor.
Os que conseguiram converter esse moralismo em carreiras bem remuneradas continuaram firmes no progressismo, pois sua subsistência dependia dele.
Já os que não conseguiram, agora enxergam novas possibilidades, “porque praticar os rituais verbais do progressismo já não é mais um pré-requisito para a credibilidade social”.
O autor observa que a dinâmica do Facebook — a rede social de referência para os Millennials mais velhos — sempre refletiu essa economia de status:
“É um espaço onde se anuncia simultaneamente o sucesso e a fragilidade”, escreve Gasda. “Posso pagar férias luxuosas na Europa, mas tenho medo do futuro e das responsabilidades da família.”
Agora, ele afirma, essa economia de status está ruindo. Muitos Millennials que fizeram carreira no jornalismo e no ativismo digital “estão enfrentando não apenas o desemprego, mas a irrelevância pela primeira vez”.
O que antes funcionava como um código para garantir status e segurança agora não gera mais recompensas. “A magia de dizer as palavras rituais da maneira certa se esgotou. Ninguém mais quer ser repreendido por um progressista de classe média”, diz.
O que vem depois?
Gasda reconhece que o fim da economia de virtude não garante, por si só, um futuro melhor.
Ele alerta para a possibilidade de que a direita crie sua própria versão de “árbitros da virtude”, com influenciadores e intelectuais cujo único propósito seja a criação de ressentimento contra os progressistas depostos. “Isso deve ser repudiado tanto quanto seu antecessor progressista”, adverte.
O desafio de 2025, segundo Gasda, é “explorar essa clareza recém-adquirida, e não obscurecê-la com novas ilusões”.
O fim da economia da superioridade moral exige que os Millennials enfrentem a dura realidade: “O valor tangível está em lugares e comunidades que muitos de nós consideramos abaixo de nossa dignidade por muito tempo”.
Quem é Matthew Gasda
Matthew Gasda é um escritor, dramaturgo e crítico americano. Fundador do Brooklyn Center for Theater Research, ele tem três livros programados para lançamento em 2025. Suas obras frequentemente exploram temas de cultura, arte e mudanças sociais nos Estados Unidos.
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