Existe uma "direita woke"?
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Existe uma “direita woke”?

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Alexandre Borges
3 minutos de leitura 13.12.2024 09:27 comentários
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Existe uma “direita woke”?

Kathleen Stock analisa como a direita adotou táticas 'woke' para fins políticos, questionando a fluidez do conceito e suas implicações

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Alexandre Borges
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Existe uma “direita woke”?
Imagem: IA por Alexandre Borges

Kathleen Stock, professora e colunista britânica, publicou no UnHerd nesta quinta, 13, artigo intitulado “The truth about the Woke Right”. O texto discute como setores da direita radical têm adotado práticas e narrativas geralmente associadas à extrema-esquerda identitária, levando críticos a definirem esse fenômeno como “direita woke”.

O termo “woke” costuma ser usado pelos seus defensores para descrever uma conscientização sobre “desigualdades e opressões estruturais”, particularmente relacionadas a raça, gênero e sexualidade. Stock explica que críticos como James Lindsay acusam a direita radical de apropriar-se dessa abordagem, aplicando-a em sua agenda política.

O exemplo mais emblemático apontado por Lindsay foi sua recente fraude intelectual contra o site conservador American Reformer. Lindsay submeteu ao site um trecho do Manifesto Comunista, de Karl Marx, com pequenas alterações, para avaliar se os editores identificariam o texto como marxista.

A publicação do trecho editado, sem questionamentos, foi usada por Lindsay para argumentar que a direita radical poderia estar adotando ideias marxistas de forma inconsciente, enquanto utiliza retóricas típicas do “wokeismo”.

Para Lindsay, a direita radical está agindo de forma semelhante à esquerda progressista ao “cancelar inimigos, exagerar vitimizações e criar narrativas de opressão estrutural”. Ele aponta que setores conservadores agora denunciam um suposto “consenso liberal pós-guerra” que marginalizaria suas ideias e grupos, como cristãos e homens brancos. Esse padrão, segundo Lindsay, reflete a adoção de estratégias antes atribuídas exclusivamente à esquerda.

Stock avalia se essa descrição realmente caracteriza a direita como “woke”. Ela observa que, embora existam semelhanças no comportamento, o fenômeno reflete mais a dinâmica das redes sociais e a natureza humana do que uma transformação ideológica profunda.

Segundo a autora, “a visão de sociedade como sistematicamente dividida entre grupos vencedores e perdedores, com base em estruturas ocultas de poder, não é exclusividade de um espectro político”. Ao adotar discursos que denunciam hegemonias culturais e políticas, a direita radical utiliza narrativas que podem ser interpretadas como análogas às da esquerda progressista.

O artigo também problematiza a definição do termo “woke”. Stock argumenta que, se for aplicado indiscriminadamente a qualquer ideologia que reconheça opressões estruturais, o conceito se torna analiticamente inútil. Citando o filósofo W.B. Gallie, ela destaca que termos como “woke” são “essencialmente contestáveis” e permanecem abertos a interpretações divergentes. “A verdadeira natureza do ‘wokeismo’ jamais será determinada apenas por debate e racionalidade”, afirma Stock.

Por fim, Stock sugere que o uso do termo pela direita, mesmo que estratégico, reflete um movimento mais amplo de manipulação da linguagem para alcançar objetivos políticos. “É quase como se alguém estivesse manipulando a linguagem para executar uma tomada de poder político”, provoca.

Quem é Kathleen Stock

Kathleen Stock é filósofa britânica e autora de obras sobre gênero e política identitária. Professora aposentada da Universidade de Sussex, cofundou o The Lesbian Project. Entre suas obras destaca-se Material Girls: Why Reality Matters for Feminism (2021), que examina os conflitos entre feminismo e ideologia de gênero.

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