Cortar a fala de Trump não foi jornalismo. É precedente perigoso Cortar a fala de Trump não foi jornalismo. É precedente perigoso
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Cortar a fala de Trump não foi jornalismo. É precedente perigoso

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Redação O Antagonista
4 minutos de leitura 06.11.2020 18:55 comentários
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Cortar a fala de Trump não foi jornalismo. É precedente perigoso

Vou me permitir discordar outra vez de jornalistas que respeito. Ao contrário deles, achei condenável a decisão tomada pelas redes de televisão americanas ABC, NBC e CBS de interromper a transmissão ao vivo da fala de Donald Trump, na qual ele disse: "Se contarem os votos legais, vencerei facilmente. Estávamos ganhando tudo e de repente nossos números começaram a ser escondidos...

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Vou me permitir discordar outra vez de jornalistas que respeito. Ao contrário deles, achei condenável a decisão tomada pelas redes de televisão americanas ABC, NBC e CBS de interromper a transmissão ao vivo da fala de Donald Trump, na qual ele disse: “Se contarem os votos legais, vencerei facilmente. Estávamos ganhando tudo e de repente nossos números começaram a ser escondidos.”

Trump está se comportando muito mal, evidentemente, ao afirmar que está sendo vítima de uma fraude gigantesca na apuração dos votos. Age como delinquente. Mas, por mais que a sua atitude seja reprovável, ele é presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição. A necessidade de transmitir integralmente o que ele diz não significa ter respeito reverencial ao cargo que ocupa ou à sua condição eleitoral. Significa cumprir com o papel da imprensa de apresentar TODA a verdade aos cidadãos sobre o homem que, afinal de contas, ainda comanda o país e almeja um segundo mandato. Mesmo que a verdade seja de uma grande mentira.

Imagine você se todos os grandes jornais não reproduzissem uma linha da fala de Trump. Seria sonegar ao leitor o dever de noticiar o que se passa. O que as emissoras fizeram ao cortar a fala do presidente dos Estados Unidos e candidato à reeleição é pior — elas praticaram censura ao espectador, para alegadamente evitar a disseminação da fake news de Trump sobre a apuração dos votos. Em nome do quê? Da defesa da democracia e do interesse público, paradoxalmente. Preferiram colocar no lugar da fala explicações sobre como funciona o sistema de apuração, para neutralizar a mentira.

Uma coisa não substitui a outra. O correto a fazer seria transmitir sem cortes a fala delinquente de Trump e depois desconstruir a tapeação, com uma explanação objetiva sobre os fatos. O interesse público teria sido, aí sim, plenamente satisfeito, com a imprensa televisiva cumprindo o seu papel numa democracia. Não compete a jornalistas tutelar os cidadãos e legislar sobre se podem assistir ou não à fala de um presidente da República candidato à reeleição, em momento eleitoral. Eles têm o direito inalienável de se inteirar (o verbo é apropriado) sobre o que diz e como age o sujeito que a maioria colocou na Casa Branca, em 2016 — e que outra maioria está tirando agora.

As redes de televisão americanas atuaram como se fossem redes sociais. Não são. Redes sociais não são imprensa, e pelo fato de milhões de pessoas as tratarem como tal é que vivemos um momento de muita confusão entre verdade e mentira — o que justifica a retirada de postagens enganosas ou a sinalização delas. Um tuíte mentiroso de Trump é diferente, contudo, de uma fala mentirosa dele na Casa Branca. O primeiro não constitui fato em si, mas a representação de uma mentira não necessariamente noticiável; a segunda é fato concreto, mesmo sendo mentira. E transmitir e noticiar fatos concretos, sem manipulação ou cortes censórios, é a função primordial da imprensa.

O que fizeram com a fala de Trump foi irresponsável como as lorotas do presidente americano. Trump tentou roubar a verdade e jornalistas sequestraram o fato em tempo real, de maneira paternalista e autoritária, sob as vestes da responsabilidade. Se já se sabia do plano de Trump, como declarou pelo menos um dos âncoras, que não tivessem iniciado a transmissão; se iniciaram, que fossem até o final. Em qualquer latitude, não temos mandato de ninguém para decidir dessa forma pelos cidadãos ou protegê-los de quem eles elegem. Nesse caso, quem define o interesse público é o público, não o subestimemos. Não usurpemos o seu lugar. Se nos atribuirmos obrigações que não são as nossas, daremos azo a que venham nos cobrar e censurar pela divulgação de verdades inconvenientes em qualquer circunstância.

Abriu-se um precedente perigoso.

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