Brasil, maior país católico do mundo, moldou o papado de Francisco
Primeiro papa latino-americano manteve relação singular com o país, da escolha do nome às canonizações de brasileiros

Ao longo de seu pontificado iniciado em 2013, o Papa Francisco cultivou uma relação sem precedentes com o Brasil.
O país de maior população católica do mundo esteve presente nos momentos mais emblemáticos do pontífice argentino, do conclave que o elegeu às últimas mensagens enviadas do hospital.
A influência de lideranças brasileiras, a escolha do nome papal, a primeira viagem internacional e os reconhecimentos de santos nacionais marcaram uma trajetória que transformou a percepção do Vaticano sobre o Brasil e projetou a Igreja local no cenário global.
A ligação começou ainda dentro da Capela Sistina, quando o cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, abraçou Jorge Mario Bergoglio e disse: “Não se esqueça dos pobres”. Foi essa frase que inspirou o nome Francisco, em referência a São Francisco de Assis.
O gesto deu origem a um papado centrado nos temas da pobreza, justiça social e periferias — linhas que encontraram eco direto no contexto brasileiro. Dom Cláudio foi um conselheiro próximo do papa até sua morte em 2022.
A primeira visita internacional do novo papa também foi ao Brasil.
Em julho de 2013, Francisco participou da Jornada Mundial da Juventude no Rio de Janeiro.
Durante uma semana, reuniu milhões de jovens, percorreu locais simbólicos como a comunidade de Varginha, no Complexo de Manguinhos, e a Basílica de Aparecida, e participou de uma vigília em Copacabana que atraiu cerca de três milhões de pessoas.
Em seu discurso, incentivou os jovens a serem protagonistas da transformação social, com base nos valores do Evangelho.
O Brasil também foi central nas decisões de canonizações durante o pontificado.
Em 2017, Francisco canonizou os Mártires do Rio Grande do Norte, mortos em 1645 por calvinistas holandeses, os primeiros mártires brasileiros reconhecidos oficialmente pela Igreja.
Em 2019, elevou aos altares Irmã Dulce, agora Santa Dulce dos Pobres, primeira santa brasileira nascida no século XX.
Também reconheceu a santidade de José de Anchieta, missionário jesuíta do século XVI, e aprovou em 2023 o título de “venerável” ao padre catarinense Aloísio Boeing, primeiro passo para beatificação.
A influência brasileira durante o papado de Francisco se refletiu nas sucessivas visitas de autoridades do país ao Vaticano.
O pontífice recebeu presidentes, ministros, governadores e prefeitos de diferentes espectros políticos. Essas audiências evidenciaram o papel do papa como figura de interlocução respeitada, além de reforçarem os laços diplomáticos e religiosos entre Brasil e Santa Sé.
Mesmo nos momentos de fragilidade física, o papa manteve a atenção ao Brasil.
Em março de 2025, durante sua internação no hospital Gemelli, enviou uma mensagem à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), elogiando o tema da Campanha da Fraternidade e destacando a importância da COP30, prevista para novembro em Belém do Pará.
A relação entre Francisco e o Brasil refletiu os pilares centrais de seu pontificado: uma Igreja comprometida com os pobres, atenta às margens e disposta ao diálogo com a realidade concreta dos fiéis.
Mais do que gestos simbólicos, o papa argentino consolidou um legado duradouro de aproximação com o país, que permanecerá como referência de transformação e proximidade no catolicismo contemporâneo.
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)