Alexandre Soares na Crusoé: O mundo woke, por trás das câmeras
Queremos ver pelo menos uma boa história de vez em quando que se passe em algum ambiente parecido com aquele em que a gente vive
Talvez você não se interesse pelo audiovisual brasileiro. Talvez você não veja filmes brasileiros, nem séries brasileiras, nem nada. Mas sou capaz de apostar que a maioria das pessoas que está me lendo ainda tenta ver alguma coisa ou outra, mesmo que quase sempre largue no meio. A tendência a querer dar uma chance ao audiovisual brasileiro é grande, como é a tendência a dar uma chance a alguém que acabou de sair da cadeia. E ela sobrevive a muitos choques com a realidade brutal.
Queremos ver pelo menos uma boa história de vez em quando que se passe em algum ambiente parecido com aquele em que a gente vive. Em que as pessoas não comam em diners e não vivam nessas casas gigantescas de americanos. Em que policiais da divisão de homicídio não andem pelas ruas carregando copos de café. Os streamings sabem que existe essa vontade, e por isso continuam colocando no ar as coisas que eles colocam no ar, sem ligar para a qualidade. Eles sabem que as pessoas vão pelo menos começar a ver essas coisas — por piedade, por vício, por curiosidade mórbida. Por que está lá. Além disso algumas pessoas têm o horror da incompletude, e quando começam a ver uma coisa, terminam. Se calhar é por causa dessas pessoas que o audiovisual brasileiro ainda existe.
Resolvi falar do audiovisual brasileiro porque trabalhei durante quinze anos nele. Dez anos atrás era um ambiente menos maluco. Cinco anos atrás, até. Era tudo um tanto incompetente, e sujeito às vaidades monstruosas dos executivos de canal. Já havia ideologia em excesso, é claro, e todo mundo que trabalhava à minha volta (menos meu parceiro de escrita e um único roteirista que eu conhecia) era de esquerda, e tentava enfiar umas esquerdices na história em alguns momentos aleatórios.
Mas ainda era possível vender uma história normal sobre pessoas normais, e ainda era possível que os canais ou os streamings comprassem essa história e mandassem produzir.
Hoje não,…
Leia mais em Crusoé
Os comentários não representam a opinião do site; a responsabilidade pelo conteúdo postado é do autor da mensagem.
Comentários (0)