A longa história do protecionismo nos EUA
Americanos – e o resto do mundo – temem os efeitos da sanha protecionista do presidente Trump

Boa parte do mundo assiste apreensiva à guerra de tarifas entre os EUA e a China, mas é importante lembrar que o ímpeto protecionista norte-americano não é de hoje – e nem do século passado. Steve Schifferes, cientista político do Centro de Pesquisa de Economia Política da Universidade de Londres, conta essa história.
“Em 1789, Alexander Hamilton, um dos autores da constituição dos EUA e o primeiro-secretário do Tesouro da América, foi o responsável por introduzir tarifas para proteger da concorrência estrangeira (leia-se: Reino Unido) as indústrias emergentes do país.”
O cientista político explica que, no século seguinte, o protecionismo continuou sendo um dos pilares da política econômica norte-americana. O capitalismo americano é menos “liberal” do que parece.
Para se ter uma ideia, entre 1861 e 1933, as tarifas dos EUA sobre as importações estrangeiras atingiram uma média de 50% – entre as mais altas do mundo – e foram responsáveis por quase metade de todas as receitas do governo.
Livre-comércio como arma contra o comunismo…
Quando os EUA passaram a dominar a economia mundial após Segunda Guerra, o custo político de permitir mais importações estrangeiras era baixo, comparado aos potenciais benefícios de exportar mais produtos americanos.
Schifferes aponta que “a decisão de abraçar o livre comércio foi mais política do que econômica. Com a Guerra Fria, os EUA enxergaram a necessidade de ajudar as economias da Europa e do Japão para evitar que elas sucumbissem ao comunismo”.
…e tarifas como arma contra o carro japonês.
Essa política começou a mudar ainda na década de 1970, impulsionada pelo sucesso dos fabricantes de automóveis japoneses.
Em 1981, os EUA negociaram com os fabricantes japoneses um limite voluntário de 1,68 milhão de carros exportados para os EUA a cada ano.
A hora e a vez da China
Em 2001 a China foi admitida na OMC e, nos 15 anos seguintes, o superávit comercial da China com os EUA disparou na mesma velocidade em que a indústria norte-americana – e os empregos – entraram em declínio no outrora glorioso “Manufacturing Belt” ou cinturão da manufatura, que é hoje conhecido como “Rust Belt” ou “cinturão da ferrugem.
A era Trump do protecionismo
Em 2016, Trump foi eleito defendendo a classe trabalhadora branca, e se reelegeu em 2024 vencendo em todos os estados do “Rust Belt”, incluindo 3 dos 7 chamados “swing states” (estados indecisos): Michigan, Wisconsin e Pensilvânia.
Porém, nem as altas tarifas para restaurar o domínio manufatureiro dos EUA e “repatriar” a indústria podem garantir o sucesso de Trump no seu projeto MAGA (Make America Great Again), principalmente quando mais da metade da população se opõe às medidas, temendo um grande aumento de preços nos próximos meses.
O que está acontecendo não é exatamente novidade. De protecionismo os americanos entendem.
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