Um banco, 24 videiras e um sonho: a história real de um terreno que virou cenário de cinema
Veja como essa história inspira tantas outras no Brasil
Transformar um pedaço de terra esquecido em um parreiral cheio de vida não é algo que acontece da noite para o dia. No interior do noroeste de São Paulo, um casal decidiu encarar esse desafio e registrar tudo: do chão seco e cansado até a primeira uva docinha provada pela filha Clarinha.
O resultado mistura trabalho pesado, criatividade e um toque de cenário de filme italiano, com direito a banco provençal, lareira, um pequeno café improvisado ao ar livre e até o plano de vinho envelhecido em bunker.
Como uma área abandonada virou projeto de vida?
Antes de virar parreiral, a área já tinha sido movimentada com tomate, mandioca, milho e melancia. Apesar de produtiva em alguns períodos, a região sofria todo inverno com uma seca prolongada, o que tornava a manutenção cara e exigia irrigação constante. Aos poucos, o espaço foi perdendo função e ficando de lado, até ser resgatado como palco de um sonho antigo de viver mais perto do campo.
Morando em área urbana e buscando uma rotina mais ligada à terra, o casal viu na chácara a chance de criar algo duradouro: um parreiral de uvas Niagara. Em vez de insistir em culturas sazonais e muito dependentes de água, eles apostaram em frutíferas mais resistentes, capazes de fornecer suco, vinho caseiro, fruta fresca e até geleias artesanais para consumo em família.
Por que a uva Niagara foi escolhida para o parreiral?
A uva Niagara foi a grande estrela escolhida para ocupar o espaço, com 24 mudas plantadas nessa variedade tão comum em quintais e pequenas propriedades no Brasil. Ela é conhecida pela boa adaptação ao clima, sabor marcante e versatilidade, servindo tanto para consumo in natura quanto para suco e vinho artesanal, o que combina com o objetivo da família de evitar escala comercial.
As mudas foram encomendadas do Viveiro Goiânia e chegaram bem desenvolvidas, com mais de 2,3 metros de altura, algumas já com cachos prontos. Clarinha experimentou as primeiras uvas ali mesmo, no pé, marcando simbolicamente o início do projeto. Optar por plantas robustas encurtou o tempo até a primeira colheita cheia e reduziu o risco de perdas no enraizamento inicial.
Confira o vídeo do canal Davi Moura com a transformação completa do terreno abandonado:
Como foi montada a estrutura básica do parreiral?
Para aguentar o peso das videiras carregadas, a estrutura foi feita com madeiramento de eucalipto tratado, resistente e acessível para obras rurais. Nos quatro cantos da área, ficaram postes mais grossos para suportar a carga principal, enquanto no meio foram instalados postes mais finos, que servem de apoio e tutoramento ao crescimento das plantas ao longo das linhas.
Entre os postes, foram esticados arames lisos tensionados, por onde as videiras se apoiam e se espalham com o tempo. No plantio, as covas receberam substrato de eucalipto e superfosfato simples, favorecendo o enraizamento. Alguns elementos típicos de parreirais bem estruturados se repetem nesse projeto e ajudam a garantir estabilidade e boa formação das plantas:
- Postes principais reforçados para sustentar o peso das plantas e dos cachos.
- Postes intermediários alinhados que evitam que os arames cedam com o tempo.
- Arames lisos tensionados funcionando como trilhos para o crescimento das videiras.
- Substrato rico em nutrientes para melhorar o pegamento e a saúde das raízes.
Como o parreiral se integra ao restante da chácara?
O parreiral foi pensado como parte de um conjunto maior, integrado a um cafezal com 88 pés e a um bananal ao lado. Esse mosaico agrícola garante colheitas em diferentes épocas, atrai pássaros e polinizadores e dá mais dinâmica ao ambiente, com cheiros, cores e texturas variadas ao longo do ano, sem depender de uma única cultura.
Ao redor, o espaço também virou área de descanso, com banco provençal, pergolado com outra videira, lareira externa e almofadas. Em fins de tarde, o pôr do sol reforça o clima de cenário toscano-italiano, onde a família se reúne para degustar uvas, tomar café do próprio terreiro e planejar futuras safras em meio às fileiras verdes.

Quais são os próximos passos e sonhos do projeto?
Mesmo após semanas de trabalho manual para erguer o parreiral, o projeto continua em evolução. O criador pretende acrescentar cabos de aço ancorados para tornar a estrutura ainda mais estável quando as videiras estiverem totalmente carregadas. Também avalia a instalação de irrigação mais eficiente, como gotejamento, para enfrentar melhor os períodos de seca.
Outra frente em andamento é o bunker em construção na chácara, pensado para envelhecer o vinho caseiro que deve nascer dessas uvas Niagara nos próximos anos. Guiado pelo ditado regional “mais vale um gosto que R$ 1.000 no bolso”, o parreiral transformou uma área sazonalmente improdutiva em símbolo de prazer, dedicação e de um estilo de vida mais conectado à terra.
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