Rodolfo Borges na Crusoé: Um homem bom é difícil de encontrar
A condenação de Daniel Alves serve, também, para reforçar publicamente o que é certo e o que é errado, mas sem inflacionar o mercado do ultraje
Daniel Alves deixou de ser o jogador com mais títulos da história do futebol para se juntar ao rol dos ex-jogadores que caíram em desgraça. Condenado a quatro anos e meio de prisão por estuprar uma moça em um banheiro da Espanha, o lateral-direito não é mais considerado uma lenda pelo Barcelona e teve uma estátua vandalizada em Juazeiro (BA), onde nasceu.
“Pelo que me lembro, nunca fui um menino mau”, diz o Desajustado à senhora que está prestes a matar em “Um bom homem é difícil de encontrar”, de Flannery O’Connor. “Mas em algum momento fiz algo errado e fui enviado para a penitenciária. Fui enterrado vivo”, completa o criminoso.
Algumas pessoas se animaram a defender Daniel Alves. Há uma questão política envolvida no caso, sempre há. O crime de abuso sexual é de difícil comprovação. Já houve casos ilustres em que a acusação não foi minimamente comprovada — o que não quer dizer que o crime não ocorreu —, e cada denúncia sem embasamento aumenta a desconfiança em relação às denunciantes.
Por conta da dificuldade de comprovar o crime, surgiram recentemente campanhas em defesa de que a alegação da vítima tenha mais peso legalmente. Movimentos como o Me Too popularizaram a causa, mas também geraram reações e mais desconfiança. Quem duvida de um caso como o de Daniel Alves provavelmente está reagindo a isso, uma ideia.
A identidade da vítima cuja denúncia condenou o ex-jogador brasileiro não foi conhecida até hoje, e provavelmente nunca será. Ela não fez acordo em dinheiro — quer dizer, não estava chantageando um jogador famoso — e recebeu uma quantia apenas como forma de indenização, que, na lei espanhola, atenua a pena do condenado.
A moça tinha os joelhos machucados e as câmeras da boate onde o crime ocorreu flagraram sua reação perturbada após sair do banheiro.
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