Rodolfo Borges na Crusoé: O pé invisível do mercado
A felicidade do corintiano é, hoje, a indignação dos torcedores do Cuiabá e de qualquer pessoa interessada na saúde do futebol brasileiro
Em meio a uma das maiores crises da história do Corinthians, a questionada diretoria do clube sacou uma das mais caras contratações da história corintiana, e boa parte da torcida embarcou no delírio Memphis Depay. É um jogador com o qual nenhuma torcida brasileira sonhava até outro dia e que tem um vasto histórico de lesões, mas o holandês vem com grife europeia e causou o efeito esperado pelo presidente Augusto Melo.
Assim como ocorreu na frustrante passagem de James Rodríguez pelo São Paulo, Memphis é a estrela possível. E, mesmo sem muito espaço nas maiores ligas do mundo, o atacante conseguiu barganhar um salário vultoso, que beira os 3 milhões de reais, em um clube que deve 2 bilhões de reais, não consegue pagar o próprio estádio há uma década — a ponto de a torcida organizar uma vaquinha para fazê-lo — e enfrenta dificuldades para honrar muitas das outras contratações que fez na tentativa de evitar a queda para a Série B do Brasileirão.
A diretoria corintiana diz que tem garantias. A maior parte da conta vai ser paga pela casa de apostas Esportes da Sorte, patrocinadora do clube. O problema é que a empresa está numa maré de azar. Foi alvo da investigação policial que levou para a cadeia a influenciadora Deolane Bezerra, sob suspeita de lavagem de dinheiro por meio das apostas.
Fair play financeiro
Se a empresa de Darwin Filho, filho do bicheiro Darwin Henrique da Silva, tiver problemas com dinheiro, por um possível bloqueio de contas ou uma falência, quem vai pagar Memphis? Essa é uma das perguntas que levaram o futebol brasileiro a retomar o debate sobre fair play financeiro, um sistema que desencoraje gestões irresponsáveis e proteja minimamente o ecossistema futebolístico no país.
A outra face dessa moeda é o Botafogo de John Textor, que contrata muito acima da capacidade de arrecadação do clube, simplesmente porque seu dono tem dinheiro sobrando. É justo? O Palmeiras fez o mesmo, com o mecenato de Paulo Nobre, enquanto o Flamengo teve de amargar algumas temporadas à beira do rebaixamento até conseguir colocar as contas em dia e se estabelecer como uma das potências do país — também graças a sua numerosa torcida, diga-se.
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