O resultado da Prio divulgado ontem após o pregão superou as expectativas do mercado com um lucro de quase R$ 1 bilhão. Mas alguns números acabaram acendendo um sinal de alerta para analistas mais atentos do setor. Margens e lucro líquido elevados em um contexto de receita menor com a redução deliberada na venda de petróleo chamaram a atenção.

O olhar um pouco mais cuidadoso sobre o balanço aponta para números “estranhos”, como definiu um analista consultado por O Antagonista, sob a condição de anonimato. Vale lembrar que, em dezembro do ano passado, a petroleira decidiu estocar parte da produção para esperar preços mais atraentes para a venda da commodity , após relatório apresentar queda de 6,7% na extração da matéria-prima contra o mês de novembro.

“A estratégia se provou equivocada uma vez que o preço do petróleo cedeu desde então”, ressalta o analista. Obviamente, é razoável admitir que haja erros de avaliação, apesar de a curva futura do petróleo indicar preços mais baixos para o futuro da matéria-prima (movimento conhecido no mercado com backwardation).

Ontem, o resultado do quarto trimestre indicou que, no período, a empresa vendeu 42% a menos de petróleo, quando comparado ao quarto trimestre de 2021. Se você vende menos, a lógica apontaria para lucros menores. No entanto, o lucro da empresa apresentou crescimento de 19%.

No balanço da empresa, o ganho de eficiência operacional, no entanto, parece ser explicado no balanço sob a rubrica “outras receitas/(despesas) operacionais”, que saltaram de R$ 5 mi negativos para mais de R$ 280 mi positivos de um trimestre para outro. A linha se refere, de acordo com teleconferência de apresentação de resultados da empresa, à descoberta de novos poços de petróleo na bacia de frade e à consequente revisão de provisões de abandono.

Além disso, a empresa acumulou benefícios fiscais 300% maiores que o período equivalente no ano anterior. Em números absolutos, a petroleira recuperou em impostos cerca de R$ 250 milhões. De acordo com a empresa, o benefício diz respeito à reavaliação de ativos fiscais diferidos não reconhecidos. “Sendo assim, com a perfuração de novos poços no Campo de Frade durante o último exercício – que resultou no aumento da produção e das reservas estimadas – a Companhia foi obrigada a avaliar as expectativas de lucro tributável futuro e, com isso, a
capacidade de recuperação de ativos fiscais diferidos nas entidades que possuem
participação naquele campo”, explica em nota.

Levando-se em conta toda a ginástica contábil apresentada, não é de se estranhar que o Conselho Administrativo da empresa tenha recebido o equivalente cerca de R$ 100 milhões em ações da Prio como bonificação em janeiro deste ano.

Consultada sobre o pagamento da bonificação, a assessoria de imprensa da empresa disse que as movimentações são parcelas de programas de opções concedidos desde 2015, atrelados a metas estabelecidas e cargos. Além disso, ressaltou que o bônus desembolsado no início do ano se refere a uma parcela da gratificação devida referente a 2021.