Morre Daniel Kahneman, o pai da economia comportamental
Psicólogo recebeu o Nobel de Economia em 2002 ao desafiar o pressuposto da racionalidade nas escolhas humanas
Faleceu nesta quarta-feira, 27, aos 90 anos, o psicólogo Daniel Kahneman, um dos fundadores da disciplina de economia comportamental e ganhado do Prêmio Nobel de Economia em 2002 por contribuições nessa área de pesquisa.
O trabalho revolucionário de Kahneman questionou as suposições sobre a racionalidade na tomada de decisões que dominaram a economia por décadas: o Homo Economicus. O psicólogo foi capaz de desvendar a lógica por trás de diversos comportamentos intrigantes, como a resistência das pessoas em vender ações que estão em queda ou o motivo pelo qual algumas pessoas escolhem percorrer longas distâncias de carro para economizar em pequenas compras, mas não aplicam a mesma lógica quando se trata de gastos maiores.
Trabalhando em conjunto com o também psicólogo Amos Tversky, Kahneman identificou preconceitos que distorcem a tomada de decisões, como a aversão à perda e a influência da forma como uma pergunta é formulada na resposta obtida.
Segundo Kahneman, o cérebro humano reage rapidamente e baseia-se em informações incompletas, o que muitas vezes leva a resultados infelizes. Em uma entrevista à Associação Americana de Psicologia em 2012, o Nobel de Economia afirmou: “as pessoas são projetadas para contar a melhor história possível. Não perdemos muito tempo dizendo: ‘Bem, há muita coisa que não sabemos’. Nós nos contentamos com o que sabemos.”
Sob a teoria da perspectiva, desenvolvida por Kahneman e Tversky, ocorreu uma verdadeira revolução tanto na psicologia quanto na economia, campos que raramente eram considerados ciências experimentais.
Em 2011, Kahneman lançou o best-seller “Rápido e devagar: duas formas de pensar“. O livro apresenta uma visão abrangente da mente humana, dividindo-a em dois sistemas: um rápido e intuitivo, e outro mais lento e racional. No texto, Kahneman oferece conselhos para tomarmos melhores decisões, começando pelo reconhecimento dos sinais de que estamos sujeitos a armadilhas cognitivas.
Daniel Kahneman nasceu em 5 de março de 1934 em Tel Aviv, durante uma visita de sua mãe a parentes. A família emigrou da Lituânia para a França e, após a Segunda Guerra Mundial, mudou-se para a Palestina.
Formou-se em psicologia pela Universidade Hebraica de Jerusalém em 1954 e posteriormente ingressou nas Forças de Defesa de Israel, onde foi designado para o ramo de psicologia e encarregado de avaliar os recrutas. O sistema que ele desenvolveu foi utilizado durante décadas.
Kahneman obteve seu Ph.D. na Universidade da Califórnia em Berkeley, em 1961, e retornou à Universidade Hebraica para lecionar no Departamento de Psicologia. Em 1969, conheceu Amos Tversky, com quem colaborou por mais de uma década em seu trabalho premiado com o Nobel.
A parceria entre Kahneman e Tversky ficou amplamente conhecida com o lançamento do livro “Projeto Desfazer: a amizade que mudou nossa foram de pensar” (2016), escrito por Michael Lewis.
Kahneman também ocupou cargos na Universidade da Colúmbia Britânica, em Vancouver, e em Berkeley. Em 1993, mudou-se para a Universidade de Princeton, em Nova Jersey, onde foi professor de psicologia e lecionou na Escola Woodrow Wilson de Assuntos Públicos e Internacionais.
Em seus estudos sobre felicidade, especificamente o aspecto hedônico, que envolve as experiências agradáveis ou desagradáveis e como medir isso, Kahneman fez uma descoberta notável: pessoas com altos rendimentos não são necessariamente mais felizes do que aquelas com renda mais baixa, desafiando a ideia de que dinheiro compra felicidade.
Kahneman dividiu o Prêmio Nobel de 2002 com Vernon Smith, outro economista experimental.
O psicólogo deixou dois filhos, Michael e Lenore, frutos de seu primeiro casamento com Irah Kahn. Posteriormente, ele se casou com a psicóloga Anne Treisman, que faleceu em 2018.
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