A guerra global por alimentos
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, partirá no sábado para Ottawa, no Canadá, onde se reunirá com exportadores de fertilizantes. O objetivo é buscar alternativas às importações do insumo da Rússia e de Belarus, suspensas por causa da guerra na Ucrânia. A missão é quase impossível. O motivo?...
A ministra da Agricultura, Tereza Cristina, partirá no sábado para Ottawa, no Canadá, onde se reunirá com exportadores de fertilizantes. O objetivo é buscar alternativas às importações do insumo da Rússia e de Belarus, suspensas por causa da guerra na Ucrânia. A missão é quase impossível. O motivo?
A interrupção do fornecimento de fertilizantes, assim como ocorre com petróleo e gás, tem impacto global. Na prática, podemos estar diante de uma nova corrida por insumos escassos, como ocorreu durante a pandemia de Covid com respiradores, vacinas e equipamentos hospitalares.
À BBC, Svein Tore Holsether, da trader Yara International, previu um cenário catastrófico. Segundo ele, metade da população mundial obtém alimentos que usam fertilizantes. Sem o insumo, o rendimento de algumas culturas cairá 50%. “Para mim, não se trata de estarmos caminhando para uma crise alimentar global, mas de quão grande será a crise.”
A Rússia é o segundo país produtor de fertilizantes nitrogenados, com 10% do mercado internacional, e derivados de potássio, com 19%. Ocupa também a quarta posição em relação aos fosfatados, com 7% do marketing share.
Dias atrás, Tereza Cristina garantiu que há estoques até outubro, mas a Associação Nacional para Difusão de Adubos (ANDA) soltou um comunicado falando que o deadline será em apenas três meses.
O presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, deputado Sergio Souza, me disse que os fertilizantes para próxima safra já estão contratados, mas dependem do transporte. Ou seja, ainda é impossível precisar quando e quanto faltará. Para monitorar o problema, a FPA quer criar uma comissão externa sobre o impacto da guerra na Ucrânia na agricultura brasileira.
Fato é que, assim como a Covid impactou um sistema de saúde precário, a crise dos fertilizantes já existia e termina agravada com a guerra.
Nos últimos anos, devido ao alto custo da exploração e a uma mudança em seu plano de negócios, a Petrobras fechou três plantas industriais de fertilizantes e abandonou uma quarta. “Estava mais barato importar”, explica Sergio Souza. Agora, porém, os ventos mudaram (o preço do insumo subiu até 200%). Mas o parlamentar defende, visando o logo prazo, que sejam implementadas mudanças legislativas que reduzam a burocracia e o custo do frete.
O ministro Paulo Guedes, por sua vez, quer acelerar algumas medidas, devido à urgência da crise. Dias atrás, ele propôs a Jair Bolsonaro a edição de um decreto para reduzir o valor das alíquotas de uma contribuição que incide sobre o frete cobrado pelas empresas de navegação que operam nos portos do Brasil, o Adicional ao Frete para a Renovação da Marinha Mercante (AFRMM).
Segundo a minuta do texto, os percentuais do AFRMM nas navegações de longo curso (realizada entre portos brasileiros e estrangeiros) cairiam de 25% para 16,5%, na cabotagem de 10% para 6,6% e nas navegações fluviais e lacustres (quando do transporte de granéis líquidos nas regiões Norte e Nordeste) de 40% para 26,5%.
Também pesquisadores e técnicos da Embrapa começarão a visitar cerca de 30 polos produtivos de nove macrorregiões agrícolas do Brasil, com o objetivo de aumentar a eficiência de uso dos fertilizantes e insumos no campo. A meta é economizar 20% no uso dos fertilizantes no Brasil já na safra 2022/23.
O dilema europeu com a dependência do gás russo nos ensina que dar às costas a questões estratégicas, como segurança energética e segurança alimentar, pode ser fatal para uma nação. O aumento da dependência externa de fertilizantes é consequência natural e óbvia da expansão da própria produção agrícola brasileira.
Acordem, senhores!
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