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“Uma obra-prima quase indescritível”

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Alexandre Borges
4 minutos de leitura 27.09.2024 10:00 comentários
Cultura

“Uma obra-prima quase indescritível”

Rachel Cooke analisa documentário perturbador que recria o massacre no Festival Nova em 7 de outubro de 2023

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Alexandre Borges
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“Uma obra-prima quase indescritível”
Foto: Divulgação

A jornalista britânica Rachel Cooke publicou nesta sexta, 27, no New Statesman artigo intitulado “O terror estava apenas começando”, no qual comenta o documentário Surviving October 7th: We Will Dance Again, dirigido por Yariv Mozer

Lançado dentro da série Storyville, o filme examina o massacre perpetrado por terroristas do Hamas ao Festival Nova, em Israel, ocorrido em 7 de outubro de 2023. Com um impacto visceral, o documentário usa vídeos reais, capturados tanto pelas vítimas quanto pelos próprios terroristas, para contar uma história de horror e sobrevivência.

O documentário é uma obra de 90 minutos que oferece um relato detalhado e comovente. Usando vídeos capturados pelos sobreviventes e pelos próprios genocidas, o filme recria o terror minuto a minuto, revelando como um evento pacífico se transformou em uma tragédia sem precedentes.

Além das gravações, o documentário conta com depoimentos emocionantes dos sobreviventes, que relatam suas experiências de maneira dramática. Um dos destaques é Aner Shapira, músico britânico-israelense que tentou heroicamente proteger outros durante o ataque, além de Hersh Goldberg-Polin, um dos sequestrados que foi encontrado morto após meses em cativeiro.

A obra de Mozer coloca o espectador dentro da tragédia, tornando o filme um retrato brutal e sincero do horror que se abateu sobre o festival. Surviving October 7th faz parte de uma série maior da BBC, que busca marcar o aniversário do ataque e destacar o conflito contínuo entre Israel e o Hamas.

Cooke, que acompanhou de perto as notícias sobre o ataque, confessa que inicialmente imaginou uma tragédia rápida, “momentos breves e terríveis”, mas logo percebeu que “não sabíamos de nada”. A crueldade do ataque, segundo ela, está também em sua duração.

“A mulher no refrigerador filmou-se tremendo, ofegante”, descreve, uma das muitas vítimas que documentaram seu sofrimento. A jornalista destaca que, para Mozer, o uso dessas gravações reais elimina a necessidade de atores, já que “quase todos os momentos foram filmados”.

O documentário, afirma Cooke, é devastador. A cada depoimento, as memórias dos sobreviventes expõem não apenas a brutalidade do momento, mas também os traumas profundos e as cicatrizes que eles carregarão pelo resto de suas vidas.

Ela relata uma cena em que “um homem deitado entre corpos, empilhados como sacos de milho”, percebe, à medida que as horas avançam, que “ele já não é a pessoa que foi ontem”. Outro sobrevivente, que havia se escondido em uma vegetação rasteira por tanto tempo, mal conseguia andar quando finalmente saiu de seu esconderijo.

Embora Cooke reconheça que o filme “destruirá” o espectador, ela também o classifica como “uma obra-prima quase indescritível”, justamente por sua crueza e autenticidade. Além disso, o contexto geopolítico permeia o cenário, já que muitos dos jovens entrevistados lembram-se da proximidade da cerca que separa Gaza de Israel, visível ao chegarem ao festival. “Não é culpa deles”, escreve Cooke, referindo-se aos jovens de vinte e poucos anos que cresceram sob a sombra de decisões políticas de gerações anteriores.

Em uma cena particularmente comovente, um jovem israelense, aterrorizado, teme que os militantes vejam a foto de tela em seu celular. “Ninguém poderia pensar que esse cara era hétero”, diz ele, ciente de que sua sexualidade poderia selar seu destino nas mãos dos extremistas. Outro momento aterrador mostra como os abrigos de concreto, comumente usados em emergências em Israel, “se tornaram caixões”, com muitos sendo mortos a tiros ou por granadas jogadas pelos militantes.

O documentário, no entanto, não trata apenas da violência física, mas também dos impactos psicológicos. Cooke descreve as expressões dos sobreviventes: “olhos opacos, espasmos faciais, sorrisos esticados e antinaturais”, evidências de um trauma que transcende as palavras.

Ela conclui sua crítica destacando a triste ironia que permeia o final do festival, que deveria ser uma celebração de música, alegria e amizade, mas que terminou com 364 pessoas mortas, 44 sequestradas e centenas de outras gravemente feridas.

Quem é Rachel Cooke

Rachel Cooke é uma jornalista britânica conhecida por suas resenhas e reportagens culturais no New Statesman. Também colabora com o The Observer, onde frequentemente escreve sobre literatura e televisão. Seu trabalho a levou a ser finalista em diversas premiações jornalísticas no Reino Unido. Além de crítica cultural, Cooke é autora de um livro que explora a vida de mulheres nos anos 1950.

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