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TikToker americana coloca Machado de Assis no topo do ranking de vendas

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Alexandre Borges
6 minutos de leitura 21.05.2024 12:35 comentários
Cultura

TikToker americana coloca Machado de Assis no topo do ranking de vendas

"Ainda me restam cem páginas de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e este já é meu livro preferido. Fim de discussão. Melhor. Livro. SEMPRE", afirmou Courtney Novak

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TikToker americana coloca Machado de Assis no topo do ranking de vendas
Imagem: DALL-E 3, por Alexandre Borges

Memórias Póstumas de Brás Cubas, um clássico da literatura brasileira escrito por Machado de Assis, alcançou o topo da lista de mais vendidos na categoria “Literatura Latino-Americana e Caribenha” na Amazon dos Estados Unidos.

Esse sucesso pode ser atribuído a Courtney Novak, uma influenciadora americana do TikTok que recentemente viralizou ao elogiar a obra como “o melhor livro já escrito”.

Courtney Novak, conhecida por suas resenhas literárias no TikTok, compartilhou sua experiência ao ler Memórias Póstumas de Brás Cubas. Em seu vídeo, Novak não poupou elogios ao romance, o que resultou em mais de 405 mil visualizações, 94 mil curtidas e 2.200 comentários até o fechamento desta matéria.

“Ainda me restam cem páginas de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis, e este já é meu livro preferido. Fim de discussão. Não me importa se as últimas cem páginas são apenas a palavra ‘banana’ impressa 10 mil vezes. Melhor. Livro. SEMPRE”, declarou a influenciadora. O impacto foi imediato: as vendas da edição em inglês do livro esgotaram em um dia na Amazon americana.

“Brás Cubas” e a censura em Rondônia

Enquanto o livro de Machado de Assis conquista novos leitores fora do Brasil, dentro do país ele já foi alvo de tentativa de censura.

Em fevereiro de 2020, a Secretaria de Educação de Rondônia, sob a gestão do secretário Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu, ordenou o recolhimento de Memórias Póstumas de Brás Cubas e outros 42 livros das escolas públicas estaduais. A justificativa era que as obras continham “conteúdo inadequado às crianças e adolescentes”. A medida gerou forte reação negativa, com críticos acusando a secretaria de censura.

A decisão de recolher os livros foi baseada em um ofício interno que acabou vazando para a imprensa. No documento, Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu solicitava que os servidores “verifiquem os kits de livros paradidáticos às escolas para compor o acervo das bibliotecas” e “procedam com o recolhimento dos mesmos imediatamente”. Entre os autores afetados pela decisão, além de Machado de Assis, estavam Ferreira Gullar, Caio Fernando Abreu, Carlos Heitor Cony, Rubem Fonseca, Nelson Rodrigues, Franz Kafka e Edgar Allan Poe.

Suamy Vivecananda Lacerda de Abreu era subordinado ao governador bolsonarista conhecido como Coronal Marcos Rocha, do antigo PSL (Partido Social Liberal), atual União Brasil. Diante da repercussão negativa, o secretário chegou a afirmar ao site Rondônia Dinâmica que o documento era falso.

No entanto, o ofício foi encontrado no Sistema Eletrônico de Informações (SIE) do governo, classificado como sigiloso. Mais tarde, a Secretaria de Educação voltou atrás, emitindo uma nota oficial que dizia: “a equipe técnica da secretaria analisou as informações e constatou que os livros citados eram clássicos da literatura. Sendo assim, o processo eletrônico que contém a análise técnica foi encerrado imediatamente sem ordem de tramitação para quaisquer órgãos externos, secretarias ou escolas públicas”.

Um clássico da literatura brasileira redescoberto

Publicado pela primeira vez em 1881, Memórias Póstumas de Brás Cubas é considerado um marco na literatura brasileira e uma das obras iniciais do Realismo no Brasil. Machado de Assis usou uma narrativa inovadora, criando um “defunto-autor”, Brás Cubas, que conta suas memórias de além-túmulo com ironia e um estilo fragmentário, rompendo com as convenções literárias da época.

Machado de Assis nasceu em 1839 no Rio de Janeiro e é amplamente reconhecido como um dos maiores escritores brasileiros. Seu estilo único, caracterizado por uma linguagem precisa e uma abordagem crítica da sociedade, continua a influenciar gerações de leitores e escritores.

Memórias Póstumas de Brás Cubas apresenta uma estrutura não linear e uma narrativa que mistura realismo e fantasia. O protagonista, Brás Cubas, descreve sua vida com franqueza e sarcasmo, abordando temas como a futilidade da elite brasileira do século XIX, a escravidão e o positivismo da época. O livro também introduz a filosofia fictícia do “humanitismo”, uma sátira ao darwinismo social.

O romance começa com uma dedicatória ao verme que primeiro roeu as carnes do cadáver de Brás Cubas, estabelecendo o tom irreverente da obra. O defunto-autor narra sua vida desde a infância mimada até suas desventuras amorosas e políticas, sempre com um olhar crítico e humorístico sobre a sociedade da época. A obra também dialoga com a filosofia de Schopenhauer e o positivismo de Comte, utilizando o humor e a ironia para questionar as certezas científicas e filosóficas de sua época.

Muitos leitores brasileiros começaram também a valorizar Memórias Póstumas de Brás Cubas após os elogios da influenciadora americana, evidenciando o velho viralatismo de sempre.

Desde sua publicação, Memórias Póstumas de Brás Cubas tem sido amplamente estudado e celebrado por críticos e acadêmicos. A inovação estilística e a profundidade temática da obra asseguraram seu lugar como um dos grandes romances da literatura mundial. A recente viralização no TikTok e o subsequente sucesso nas vendas na Amazon demonstram que a obra de Machado de Assis continua a ressoar com novas gerações de leitores.

Além do impacto nas redes sociais, a obra de Machado de Assis já foi adaptada para o cinema em três ocasiões e também para o teatro e os quadrinhos. A mais recente tradução para o inglês, publicada em 2020, esgotou em apenas um dia nos Estados Unidos, reafirmando a relevância global do autor brasileiro.

Ao final do livro, Brás Cubas conclui suas memórias com um tom de ironia e resignação: “Não tive filhos, não transmiti a nenhuma criatura o legado da nossa miséria”.

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Alexandre Borges

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