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Redação O Antagonista
4 minutos de leitura 18.06.2021 11:03 comentários
Cultura

O branco no preto

No Brasil a situação está cada vez mais afrodescendente! Eu tenho saudades do tempo do jornal de papel e da média com pão e manteiga. O pacato cidadão acordava, fazia as suas abluções matinais e sentava no botequim da esquina para o desjejum...

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O branco no preto
Agamenon/O Antagonista

No Brasil a situação está cada vez mais afrodescendente! Eu tenho saudades do tempo do jornal de papel e da média com pão e manteiga.

O pacato cidadão acordava, fazia as suas abluções matinais e sentava no botequim da esquina para o desjejum. Abria o jornal onde lia despreocupado um monte de notícias ruins enquanto mergulhava distraído o pão com manteiga no copo de café com leite. Em seguida pagava a conta, pendurava um palito no canto da boca e ia à luta.

Hoje, nos tempos da internet, é um inferno, o sujeito é bombardeado o dia inteiro, esteja onde estiver. Só que não tem mais nenhuma noticia ruim, só tem notícia péssima.

O Antagonista passa o dia inteiro, de hora em hora, de minuto a minuto, azucrinando a vida do contribuinte até mesmo na hora de dormir quando, antes de se entregar nos braços de Morfeu, cumpre com as suas obrigações conjugais e ainda tem de escutar esses caras que deveriam trabalhar num laboratório de análises clínicas, pois só ficam analisando mer$%ˆ&*ˆ%da o dia inteiro.

Bom mesmo era o jornal de papel mesmo porque o celular, o tablet e o notebook não servem para forrar a gaiola do passarinho, para embrulhar peixe nem para o cachorro fazer xixi em cima. O jornal de papel, além de deixar você em paz ao longo do dia, tinha outras serventias, inclusive poder vender aquilo pro feirante e descolar algum qualquer para jogar no bicho.

Acabou de dar no Twitter que a Polícia está na captura de um cruel serial killer que já matou várias pessoas em Goiás. Mas precisa procurar? Se os meganhas estão atrás de serial killer de verdade deveriam fazer uma diligência em Brasília. Tem um até que mora num Palhaço, quer dizer, Palácio do Alvorada. Mas cuidado que o cara é perigoso, tem que levar preso na carrocinha.

Também sobram desgraças na CPIzza da Covid, onde os detetives parlamentares continuam investigando o gabinete paralelo. Na Câmara, continua rolando o Orçamento Paralelo, nas casas de câmbio, o dólar no paralelo e no Palácio do Planalto está o ex-sinistro Pançuello, o General Paralelo. E tem gente que reclama do desgoverno! É muito melhor ser desgovernado, galera! Imagina se o Bolsonaro e sua equipe fossem competentes, organizados e gostassem de trabalhar? Com certeza, o Brasil estaria muito pior, se é que isso é possível.

Mas o que mais deixou indignado os tuiteiros e tuiteiras do Brasil nesta semana foi o flagrante caso de racismo no Leblon, o único bairro carioca planejado pelo novelista Manoel Carlos. Como todos sabem, neste nobre bairro carioca os afronegões só podem circular pelas aristocráticas ruas e avenidas local se for entregador do Rappi ou iFood.

O Leblon (palavra que veio de Le Blond , o Louro) é o bairro com o maior PIB (Produto Intolerante Branco) do Rio de Janeiro, a Cidade Preconceituosa. Depois deste incidente      lamentável, a AMARELON, Associação dos Moradores do Leblon, sempre zelando pela limpeza étnica do bairro, quer instituir duas entradas no bairro: uma social e outra de serviço, por onde entrariam os pretos, pardos, e outros cidadãos de cor escurinha. Com essa medida, os leblonistas pretendem acabar com o racismo no local: sem nenhum neguinho no bairro, não vai mais ser necessário qualquer tipo de preconceito de cor ou discriminação racial.

O rapaz e a moça que praticaram o abominável ato se desculparam e disseram que afrontaram o rapaz da bicicleta com a melhor das intenções, utilizando o sistema de cotas. Também alegaram que não foram racistas – foram bairristas porque não admitem ver um preto de fora dentro do Leblon. Segundo os racistoides, a vítima mora na Cruzada, uma espécie de quarto de empregada do bairro e que, por isso mesmo, não pode ser considerado Leblon.

O caso está na Delegacia do Leblon onde será apurado se houve ou se não houve racismo. Preto no branco, ou melhor, branco no preto, como mandam a tradição e os bons costumes.

Agamenon Mendes Pedreira é o rei da cocada afrodescendente.

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