Mais opções, melhores escolhas? Não é bem assim
O estranho “paradoxo da escolha”, que nos paralisa justamente quando temos muitas alternativas

Quem nunca gastou horas escolhendo um filme, entre os milhares disponíveis, dentre uma das inúmeras plataformas de streaming e, depois de tanto avaliar, acabou pegando no sono ou se rendendo ao tédio e desistindo de assistir a qualquer coisa? Pois é. Um estudo publicado nos anos 2000, na revista Journal of Personality and Social Psychology, é mais atual do que naqueles dias.
O senso comum parece confirmar que, quando se trata de escolhas pessoais, quanto mais alternativas, melhor – assumindo que a capacidade e o desejo humanos por opções são ilimitados.
No entanto, S. S. Iyengar e M. R. Lepper desafiaram essa suposição implícita, indicando que ter um leque mais amplo de escolhas não é, necessariamente, um motivador a mais. Os pesquisadores conduziram experimentos que apontaram para um resultado surpreendente: oferecer menos opções pode levar as pessoas a agir mais, e a se sentirem mais satisfeitas com suas decisões.
A sobrecarga de escolha, também conhecida como “paradoxo da escolha”, pode levar à paralisia decisória, menor satisfação com a escolha feita (devido ao peso das opções não escolhidas) e, como mostrado nos experimentos, até mesmo à redução da motivação para agir.
A pesquisa e seus experimentos
Os achados que questionam a noção de que mais alternativas ou opções é sempre melhor vêm de três estudos experimentais, realizados tanto em ambientes de campo quanto de laboratório. De acordo com os autores, os participantes demonstraram maior propensão a comprar geleias gourmet ou chocolates quando lhes foi oferecida uma variedade limitada de 6 opções, em comparação com uma gama mais extensa, de 24 ou 30 opções. Este resultado contrasta com a expectativa comum de que mais variedade, mais compras.
Não apenas a probabilidade de escolha foi afetada pelo número de opções, mas também a qualidade da experiência e o resultado da decisão. Os participantes relataram maior satisfação subsequente com suas seleções quando o conjunto original de opções era limitado.
Além disso, em experimentos que envolviam tarefas, como a realização de redações opcionais em aulas, aqueles que enfrentaram um conjunto limitado de escolhas de temas não apenas foram mais propensos a realizar a tarefa, mas também escreveram redações de melhor qualidade.
Estes resultados sugerem que a desmotivação pode surgir quando se depara com um excesso de opções, levando à inação ou a resultados menos favoráveis.
O estudo, cujos autores são afiliados à Columbia University e à Stanford University, respectivamente, foi publicado em dezembro de 2000, fornecendo dados que questionam a sabedoria convencional sobre os benefícios irrestritos da abundância de escolhas. De lá pra cá, as opções para tudo aumentaram – e a sensação esquisita de não estar satisfeito com nenhuma das escolhas, também aumentou.
Implicações na motivação e na satisfação
Tais implicações desafiam teorias psicológicas e pesquisas anteriores, que afirmam consistentemente as consequências afetivas e motivacionais positivas de ter escolha pessoal. Enquanto essas teorias levaram à popularização da ideia de que “quanto mais, melhor”, o estudo de Iyengar e Lepper introduz uma perspectiva crítica. Ele demonstra que o excesso pode se tornar um fardo, desmotivando as pessoas, em vez de incentivá-las.
A pesquisa sugere que, embora a possibilidade e a liberdade de escolha sejam fatores fundamentais para a autonomia e o bem-estar psicológico, há um ponto em que o aumento de opções pode se tornar contraproducente.
Os pesquisadores concluem que seus achados desafiam a suposição implícita de que a capacidade humana de gerenciar e o desejo por escolha são ilimitados, abrindo caminho para futuras pesquisas sobre os limites e as complexidades da tomada de decisão em face de múltiplas opções.
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