Josias Teófilo na Crusoé: Filme de diligência
Nelson Rodrigues gostava muito desse tipo de obra, e poderia muito bem ter sido um de seus personagens
Em sua coluna semanal para Crusoé, Josias Teófilo destaca, nesta edição especial de número 300, uma das coisas que Nelson Rodrigues gostava que era filmes de diligência. Ele explica que este termo se refere ao cinema puro e límpido, longas com diálogos simples. Um problema que se resolve – de preferência a solução de um crime, ou a trama para realizá-lo. Tudo em preto e branco e tons de cinza.
A revista O Cruzeiro de 21 de janeiro de 1956 publicou uma sessão chamada Arquivos Implacáveis com Nelson Rodrigues. O dramaturgo respondeu dez itens do que gosta e do que detesta. Entre os que detesta estão “samba”, “psicanalista”, “qualquer político”, “sujeito inteligente”. Entre os que gosta estão “visitar cemitérios”, “mulher bonita e burra”, “fluminense” e… “filme de diligência”. O que seria filme de diligência? Não é um termo usual. Na verdade eu nunca o tinha ouvido.
Diligências eram as grandes carruagens que levavam passageiros, malas e correspondências entre as cidades americanas. Estamos falando, portanto, de filmes de faroeste. Um dos clássicos dessa arte é justamente No tempo das Diligências, de 1939, estrelado por John Ford.
Mas há também quem trate assim os filmes sem diálogos inteligentes, sem referências artísticas, sem o método stanislavski de atuação. Eles também não têm a jornada do herói, bons valores a serem passados ao espectadores. É cinema puro e límpido. Diálogos simples. Um problema que se resolve – de preferência a solução de um crime, ou a trama para realizá-lo. Tudo em preto e branco e tons de cinza. E o mais: nesses filmes praticamente não existe a bondade no mundo. Os bandidos são maus, a polícia também. Os bandidos são frios, totalmente insensíveis. As vítimas também. Toda e qualquer pessoa fuma. Fuma em qualquer ambiente e sem parar.
Esse tipo de filme foi feito num período soturno da historia da humanidade: o período entre as guerras, e posterior à Segunda Guerra – quando a Europa estava sendo reconstruída, e o trauma daquele período ainda estava no ar.
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