Josias Teófilo na Crusoé: A arte como pretexto
A esquerda identitária tende a ver obras de arte como uma tela branca para escrever uma “mensagem”
Um concerto da Filarmônica Nacional da Polônia foi invadido semana passada por ativistas climáticos. Duas moças entraram no palco com uma faixa, gritando palavras de ordem: “Somos a última geração que pode deter as mudanças climáticas”.
O maestro Antoni Wit (com quase 80 anos) não se intimidou, arrancou o cartaz das que protestavam, e continuou regendo como se nada tivesse acontecido. Em seguida, as ativistas foram levadas por seguranças, e o concerto seguiu.
Em janeiro, duas ativistas climáticas jogaram sopa no vidro protetor do quadro Mona Lisa, de Leonardo da Vinci, no Museu do Louvre. Elas gritaram em francês: “O que é mais importante? A arte ou o direito a um sistema alimentar saudável e sustentável?”.
A pergunta é bastante relevante. Contrapõe a arte a necessidades básicas — uma contraposição que não faz o menor sentido, mas denuncia certa mentalidade. Na verdade, as ativistas usam do espaço privilegiado da arte, que atrai a atenção de milhões de pessoas, para fazer propaganda das suas causas.
Elas veem os espaços de difusão das artes — os museus, galerias, cinemas, festivais, salas de concerto — apenas como uma tela branca para escrever uma “mensagem”.
A própria realização das obras é feita com esse objetivo, e também sua apresentação, e ela vai ser apreciada levando em conta o impacto da “mensagem”.
Se você vai a um festival de cinema brasileiro atualmente verá filmes politizados, com temas “atuais” como machismo, homofobia, racismo, ou filmes sobre o passado que dialogam (na mente dos realizadores e exibidores) com o presente, como ditadura militar no Brasil, e os movimentos artísticos que se opuseram à ditadura etc.
Mas não basta isso. Na apresentação dos filmes, os realizadores vão gritar palavras de ordem (já foi “Fora, Temer”, “Fora, Bolsonaro”, agora vai ser algo sobre a situação em Gaza).
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