Jerônimo Teixeira na Crusoé: O “caetanismo” é a ideologia da elite que não se quer elite
Um raro ensaio de crítica cultural que sai do previsível diagnostica a crise existencial da velha MPB no país que quase reelegeu Bolsonaro
O Spotify hoje me ofereceu um novo single de Caetano Veloso. Não ouvi ainda. Mas o título me soou familiar.
Sim, claro: You don’t know me é a primeira faixa de Transa, disco de 1972.
Trata-se de uma regravação, portanto. Os créditos no Spotify informam que Caetano canta ao lado de Luísa Sonza, cuja voz nunca ouvi. Sei que ela faz certo sucesso – e que fez muito barulho com uma entrevista em um programa matinal de TV. Desabafou alguma mágoa íntima, de uma traição, creio. Não acompanhei o caso.
Por um tempo, fui editor de cultura de uma revista que também fazia certo sucesso. Era minha obrigação estar por dentro dessas coisas todas – o que a moça disse no programa da Globo e o que cantou com o medalhão da MPB. Hoje, não me sinto mais obrigado a ter opinião sobre as canções que os algoritmos das plataformas de música me apresentam.
Não tenho pressa de ouvir Caê e Luísa. Mas deveria ter sido mais rápido para comentar “A síndrome caetanista”, ensaio de Luigi Mazza publicada na revista piauí deste mês que já se encerra.
De cara, o título me deixou curioso. Mas deixei para ler depois. “Tenho de ler”, pensei eu, duas semanas depois, quando Josias Teófilo escreveu a respeito do artigo nesta Crusoé. Mas não li. Josias recomendou o texto efusivamente quando nos encontramos na fila de autógrafos de STF – Como chegamos até aqui? (que ainda não li…), do amigo Duda Teixeira. No dia seguinte, finalmente li o texto.
Achei sensacional.
Não se trata de uma crítica à música de Caetano. Mazza vai pelo caminho do que poderíamos chamar de sociologia da recepção: ele examina o modo como certa classe média intelectualizada e de esquerda ouve o compositor baiano. Essa turma trata o cantor de Podres poderes com reverência quase religiosa, como se ele fosse um artista-oráculo e um símbolo da nacionalidade. Só que a ideia de Brasil que o Tropicalismo nos legou – um país eclético e espontâneo, entre Vicente Celestino e João Gilberto – envelheceu, se é que já não caducou.
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